quarta-feira, 3 de junho de 2009

ENTREVISTA COM CELSO QUADRO

‘O PDT PRECISA SER SACUDIDO’


Há uma frase que diz ‘A Política dá muitas voltas’. E não há como negar que tenha um fundo de verdade. Os moradores da cidade e da região certamente já ouviram falar ou conhecem Celso Quadro, principalmente, por causa da política. Mas ele se apresenta também como um ex-desportista. Jogou futebol na várzea local, nos clubes do Adams, Madureira, Avenida e Veterano. Foi cinco vezes campeão do citadino. Mas sua paixão sempre foi a política. Na política foi um dos fundadores do PDT, em Novo Hamburgo, na época em que era secretário parlamentar do Deputado Américo Copetti. Foi o presidente do PDT na cidade por quatro oportunidades.

Além disso trabalhou com os Deputados Olímpio Albrecht e Carlos Araújo. E chegou a ser Vereador da Câmara hamburguense, Diretor de Desporto e Secretário de Assessoramento Especial. Atuou nas duas gestões do prefeito José Airton dos Santos, de 1997 a 2004. Foi um dos responsáveis pelas eleições de Airton, atuando nos bastidores do partido, como líder e também atuando em cima do caminhão de som, fazendo propaganda do seu candidato. Por causa de desentendimentos partidários saiu do PDT e foi para o PMDB, onde acabou participando da campanha vitoriosa de Jair Foscarini. Agora, Celso Quadro, quer voltar ao berço trabalhista.

Este hamburguense, de 66 anos de vida, confessa que a tradição trabalhista vem de família. Conhece a história desde as lutas de Getúlio Vargas até Leonel de Moura Brizola, este último que o fascinou a entrar de cabeça num partido político.

Sentados numa mesa isolada, nos fundos da Petisqueira Adegrill, no Centro e Novo Hamburgo, na última sexta-feira do maio de 2009, Celso Quadro, conversou com o jornal Polegar, tendo como bagagem de mão apenas um livro com a história do Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Ele se diz um homem vaidoso, gostando de se vestir bem, com trajes sociais ou esporte e usar bons perfumes, dependendo da ocasião. Adora dançar, cantar e discursar. A sua informação vem através de jornal, revista, rádio e televisão. Considera-se um naturalista e seu principal exercício é caminhar.

Hoje Celso está aposentado e sem partido. Acabou de desligar-se do PMDB na segunda quinzena de maio deste ano. Partido que ele havia aderido no ano de 2004 e que acabou derrotando, com o prefeito Jair Foscarini, o então candidato escolhido pelo PDT para substituir José Airton dos Santos. O primeiro foi Ênio Saltiél e na sequência, Paulo Ritzel. Mas não pensem que Celso Quadro vai se aposentar da política. Não mesmo! Apenas está preparando sua próxima jogada nesta área. E vocês podem imaginar quem ele quer apoiar na sua volta ao PDT? Leia a entrevista.



POLEGAR – Faça uma análise sobre as duas gestões do prefeito José Airton dos Santos
CELSO QUADRO – O nosso partido, o PDT, havia anos vinha batendo na trave. Mas sempre esbarrávamos na questão financeira para ter uma candidatura viável, com condição de chegar na cabeça do poder. Aí surgiu o Airton e esta possibilidade foi alcançada. Antes nós dependíamos de muitas promoções e isso nunca foi suficiente. Foi um deslumbramento. Apesar de muitas pessoas terem medo da inexperiência do Airton em termos de política partidária; e até mesmo por causa da sua pouca formação escolar. Mas ele surpreendeu a todos com sua inteligência e capacidade de gerir, tomando grandes decisões na hora certa. E com isso foi conquistando e entusiasmando a todos, com seu pulso forte e também seu carisma. E fez uma grande administração. Aliás, duas gestões que colocaram Novo Hamburgo, novamente, no eixo do desenvolvimento. Até hoje, mesmo eu tendo trabalhado na campanha e na administração de Jair Foscarini vi, em muitos bairros, comentários favoráveis à administração do Airton dos Santos.

POLEGAR - E a gestão de Jair Foscarini?
CELSO QUADRO – Não posso falar mal dele por que foi um grande amigo e companheiro enquanto eu lá estive. O Jair, pelo que eu observei estando na administração, sempre se mostrou uma pessoa educada e séria. E fez o que podia fazer. Eu acho que talvez, para dar uma repercussão diferente na sua gestão, poderia ter ocupado alguns cargos de confiança com pessoas mais políticas, que conhecessem melhor a comunidade e pudessem levar a todos os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos pela administração.

POLEGAR – E os primeiros meses do prefeito Tarcísio?
CELSO QUADRO – Acredito que uma administração nova, quando assume o poder, a primeira coisa que precisa fazer é se reunir com os funcionários. Deve se apresentar e pedir colaboração, ser simpático. Afinal, são eles que conhecem e tocam a administração pública. Sem eles a casa fica embaraçada. Esta questão, a greve, logo no início, para mim foi uma surpresa. Logo na gestão do PT?! Também esta questão envolvendo acusações ao secretário da Fazenda e sua volta à Câmara de Vereadores. Quem é que ia imaginar uma coisa dessas?! Tem muita gente esperando que o prefeito Tarcísio assuma o município. Para muitos ele parece que continua sendo Deputado Federal, fazendo da Prefeitura uma extensão da Câmara dos Deputados. Acredito que ele tem viajado bastante neste início de gestão e poucas coisas têm sido resolvidas. Sabemos que todo governo tem dificuldades no início de uma nova gestão. Mas agora não é mais hora de chora e reclamar. É hora de reagir.

POLEGAR – E essa vontade de voltar ao PDT? É fato?
CELSO QUADRO – Hoje eu estou aposentado e sem partido. Mas não vou abandonar a política. Isso está no sangue. Mesmo antes de deixar o PMDB já estava comprometido com o grupo liderado pelo ex-prefeito José Airton dos Santos, para movimentar uma chapa e disputar a próxima convenção do PDT. Todos sabem que uma disputa mobiliza o partido. E o PDT precisa ser sacudido. O ano que vem tem eleição e solicitaram minha colaboração para mobilizar antigos trabalhistas que não tem mais aparecido no partido depois desta mudança. E eu me propus a ajudar o grupo que está do lado do Airton. Neste momento que antecede uma eleição para diretório sabemos que não é permitido uma filiação em massa, com o objetivo explícito de votação; e parece que o outro grupo fez o lançamento de uma mobilização neste sentido e até colocou em ata.

O nosso trabalho é visitar quem já está filiado, mostrando o nosso trabalho e a nossa intenção. Quando ainda estava no PDT, lembro da última convenção, quando perdi, justamente, para o Airton.Foi feito assim. E nós, agora, vamos agir da mesma forma. Vamos pegar a relação daqueles que foram cargos de confiança no governo do Airton e pedir apoio para a nossa chapa.

POLEGAR – Ainda está longe, mas já é um trabalho visando à eleição do próximo prefeito?
CELSO QUADRO – Olha, não é por amor próprio, por orgulho ou coisa assim. Política eu sempre fiz com realismo, com sensatez, com os pés no chão. E não sou eu que estou dizendo isso, é o povo. Tenho ouvido por todos os bairros e vilas por onde passo. Não tenho dúvidas, José Airton dos Santos é um grande nome em Novo Hamburgo.

POLEGAR – Mas então por que é que Tarcísio venceu a última eleição?
CELSO QUADRO – Assim como o Airton vinha batendo na trave, o Tarcísio fez um trabalho de quatro anos,mantendo contatos. E o prefeito Jair Foscarini não manteve contatos com a periferia durante o seu mandato. E essa pode ter sido a causa principal.



POLEGAR – O que significa fazer política?
CELSO QUADRO – Tem gente que faz política por interesse próprio e outros por ideologia. Alguns pensando em empregos e candidaturas. Eu faço pensando sempre em colaborar para melhorar a vida do cidadão. A minha vida toda foi de lutas. Como sindicalista, lutando por melhores salários. Depois, no partido político, tentando ser mais um a lutar pelo povo e pelo trabalhismo. Eu faço por ideologia. Acredito no trabalhismo. E isso vem de berço, é de família. Considero-me conhecedor profundo desta ideologia e acredito nela como tendo potencial para melhorar, de verdade, a vida da nossa gente. As obras de Getúlio Vargas estão aí, as de Brizola estão aí, e também em Novo Hamburgo, na gestão trabalhista de José Airton, deixamos muitas obras para a comunidade.

POLEGAR – E o governo Yeda Crusius?
CELSO QUADRO – Não dá pra negar. A imagem do governo do RS é de baixa.

POLEGAR – Fale sobre o governo Lula.
CELSO QUADRO – Olha, por mais que o governo Lula seja o governo mais popular que o Brasil já teve, uma coisa é certa: se a candidatura que se apresenta para sucedê-lo vier para as urnas não ganha eleição. O governo está bem nas pesquisas, mas não é o que eu penso. Se o seu governo tivesse resolvido a questão dos aposentados seria uma grande coisa. Mas não resolveu. E a voz do povo é a voz de Deus.

POLEGAR – Voltando a falar da questão municipal: Será que Airton volta a ser candidato?
CELSO QUADRO – Eu acredito que ele está empolgado com a possibilidade de voltar à ativa na vida política. Também acredito que o momento é favorável para ele. Até se ele decidir ser candidato, já no próximo ano, pode arrancar com uma grande votação de Novo Hamburgo, para a Assembléia Legislativa

POLEGAR – Quando o Celso Quadro volta para o PDT?
CELSO QUADRO – Não tem previsão a minha volta. Estou sem partido e trabalhando em favor do grupo do Airton, no PDT. A preocupação é eleger um diretório de trabalhistas. Não pretendo nem fazer parte deste diretório.

POLEGAR – E quanto ao atual diretório?
CELSO QUADRO – Todos são pedetistas. Não é uma crítica, só acho que existe um pouco de inexperiência. Veja que o Airton foi duas vezes Prefeito em Novo Hamburgo, a sua esposa foi Deputada Estadual. Os dois contribuíram para que o PDT de Novo Hamburgo servisse de exemplo, pelas obras realizadas, em todo o Rio Grande do Sul. Daí eu acho que ele foi maltratado no diretório. Disseram que o quadro com a sua foto e também a minha foram retirados da sede. Falta experiência para essa gente. Política não se faz com ódio e com raiva. Política é a arte de perdoar e multiplicar. É preciso aprender a conviver com todas as correntes que existam dentro do partido.

POLEGAR – Obrigado!
CELSO QUADRO – Sempre às ordens!

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