sábado, 17 de abril de 2010

SEU DINHEIRO - Luiz Percy Denardin

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"O que eu ouço, esqueço. O que eu vejo, apenas lembro. Mas o que eu faço, aprendo."


( Confucio )



"O homem realmente culto, náo se importa de fazer perguntas aos menos instruídos. "

( Lao Tsé )



Lutar contra uma sombra. só permite um perdedor : você

Autor : Aldo Novak, coach e conferencista



Se você está vivendo uma tragédia, talvez este seja o momento certo para suspender tudo e reavaliar sua vida.

Se não for uma tragédia, apenas uma turbulência, faça como fazemos na estrada: quando a neblina cai, reduzimos a velocidade do carro e ligamos os faróis de longo alcance. Faça o mesmo em sua vida. Adie as decisões mais importantes e reveja suas metas, seus sonhos e seus caminhos. Olhe para frente.

Mas, se a tragédia ou as turbulências já aconteceram há muito tempo, é hora de parar de brigar contra o passado. Porque seu passado é como uma sombra, que sempre acompanhará você, mas que não tem absolutamente nenhum poder que você mesmo não lhe dê.

Você pode reclamar, culpar as pessoas ou acontecimentos, dizer que é somente uma vítima de sua história e choramingar o resto de sua existência. Não fará nenhuma diferença para o Universo, que tem bilhões de sistemas solares biologicamente mais ativos do que o nosso e pert o dos quais eu, e você, não passamos de bolhas de sabão nos mares do tempo.

Chore o quanto desejar. Culpe seus antepassados, os governos, a impunidade, a economia e o clima, tanto quanto tenha vontade. Diga que sua escola e professores foram os culpados. Afirme que seus pais e avós fizeram de você uma pessoa infeliz. Diga que seu marido, ou esposa, é a razão de sua decepção com o mundo. Não mudará a órbita deste, ou de qualquer outro planeta. Para dizer a verdade, por mais que você culpe os outros e acabe com o que resta de sua vida, nem sequer um grilo será afetado positivamente.

A única vida a ser desperdiçada, será a sua, e essa é a maior tragédia, o maior desperdício.

Talvez tais pessoas e circunstâncias tenham sido, realmente, culpadas pelo passado, ou pelo presente. Não questiono isso. Mas agora chegou o momento de dar um basta, de assumir as rédeas da sua vida, sem revanche, sem tristeza, sem usar nem mesmo 1 dos 1440 minutos de um dia, para pensar nas culpas do passado.

Desperdiçar o resto de nossas vidas é um luxo ao qual nenhum de nós pode se dar. De uma perspectiva maior, nosso tempo de vida é um apenas um suspiro.

Cada minuto que você gasta, ficando no passado, é um minuto a menos vivendo o presente. E, como cada minuto do presente vai impactar seus minutos futuros, pode ser que você esteja jogando pela janela, milhares de horas e centenas de dias maravilhosos, apenas para praguejar contra o passado.

Lutar contra o passado é como lutar boxe contra uma sombra. Não há como vencer, porque o passado, assim como uma sombra, não é sólido. Mas há como perder, porque você se desgasta a e desperdiça suas energias. Fisicamente falando, é impossível vencer uma sombra, ou o passado; portanto, o único que pode perder essa briga é você!

A única pessoa que pode viver a sua vida, também é você. Mesmo que outras pessoas estejam com você, estarão vivendo as vidas delas, não a sua. Pare de lutar contra sombras.

Deixe seus concorrentes, desafetos e inimigos fazerem isso. Liberte-se do tempo, criando suas próprias correntes de ação positiva para impactar a realidade.

Porque lutar contra uma sombra só permite um perdedor: você."

BOM FINAL DE SEMANA

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Lá fora, interrompendo um rali que perdurou por seis pregões, os principais índices norte-americanos fecharam esta sexta-feira com significativas perdas, prejudicados pelas fortes quedas do setor financeiro, com resultados e indicadores econômicos também sendo analisados. O principal destaque desta sexta-feira ficou por conta da acusação de fraude feita pela SEC (Securities and Exchange Commission) ao Goldman Sachs. De acordo com o orgão regulador do mercado norte-americano, o banco deixou de prestar informações vitais sobre CDOs (Collateralized Debt Obligations), que dependiam da performance de papéis lastreados em hipotecas subprime

Fraudes no GOLDMAN SACHS para que quiser saber mais : ( fonte infomoney ) "Após negar as acusações de fraude feitas pela SEC (Securities and Exchange Commission) nesta sexta-feira (16), o Goldman Sachs voltou a se manifestar depois do fechamento dos mercados, lamentando a decisão da SEC que, segundo o banco, está relacionada a uma única transação.De acordo com o comunicado, há vários pontos não explicados na acusação da SEC. O mais importante deles é que, na transação que a SEC acusa o Goldman de quer causado prejuízos de US$ 1 bilhão a investidores, o próprio banco perdeu mais de US$ 90 milhões. “Sofremos perdas e não estruturamos um portfólio para perder dinheiro”.

Além disso, o Goldman afirma que divulgou extensamente os riscos dos ativos aos grandes investidores envolvidos no negócio – o IKB, banco alemão, e a ACA Capital Management – que já possuíam conhecimentos avançados do mercado de hipotecas, e entendiam que uma transação assim envolvia necessariamente um lado comprado e outro vendido. Segundo o Goldman, a ACA tinha

um longo histórico como gestora de CDOs, com 26 transações semelhantes.

Ainda segundo o comunicado, o maior investidor, a ACA Capital Management, selecionou o portfólio. “Com a maior exposição à transação (US$ 951 milhões), tinha a obrigação e todo o incentivo para selecionar os ativos mais apropriados”, afirma o banco, ressaltando que o portfólio foi selecionado por um agente independente e com experiência, depois de diversas discussões que incluíram a Paulson & Co.

O banco também explica que nunca disse à ACA que a Paulson seria um investidor. “A acusação da SEC afirma que o banco cometeu fraude porque não informou a um dos envolvidos quem estava do outro lado da transação. Em procedimentos normais de mercado, os agentes de mercado não divulgam o comprador ao vendedor, e vice versa”.

Os principais índices europeus encerraram também encerraram em queda nesta sexta-feira, aprofundando as perdas registradas no início do pregão após a veiculação da notícia de que reguladores norte-americanos estão processando o Goldmans Sachs por fraude desanimar investidores. Além disso, a confiança do consumidor nos EUA também surpreendeu ao cair 5 pontos em abril, menor patamar em cinco , em Londres.

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Por aqui, no rastro do performance externo, o clima que já era negativo nos mercados nesta sexta-feira , ficou pior após denúnica de fraude do Goldman Sachs e as bolsas fecharam em queda ao redor do mundo, e indice doméstico marcou expressivo recuo. Na semana, o índice teve queda de 2,79%, a maior desvalorização desde a primeira semana de fevereiro..

OGX será ? : Entre as poucas altas do índice, destaque para os ativos da OGX. Em entrevista feita à XP Investimentos, Eike Batista afirmou que pode vender uma participação de 20% na OGX Petróleo, com o objetivo de “uma megamonetização para nossos investidores". O empresário deixou um recado: "Não percam a oportunidade de comprar essa ação, porque no dia que a gente anunciar esse negócio, o papel vai duplicar de valor", será ?

IBOVESPA - Oscilando entre os 69.012 pontos e os 70.521 pontos, com um expressivo volume financeiro de R$ 7,69 bilhões , o índice doméstico acabou fechando aos 69.421 pontos, representando uma queda de 1,56% sobre o fechamento anterior. No diário em Linha de Tendência de baixa, retorna ao canal lateral 68.644 / 69.974 pts., com próximo SUP nos 68.681 pts..

Já o dolar comercial, após leve volatilidade durante a manhã, consolidou sua trajetória positiva no período da tarde, marcando avanço nesta sexta-feira. Dessa forma a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 1,7600, representando uma alta de 0,69% em relação ao fechamento anterior. No mês a desvalorização é de 1,07% e no ano a valorização é de 1,19%.

INDICES INTERNACIONAIS



- Dow Jones - queda de 1,13%

- S & P 500 - queda de de 1,61%

- NASDAQ - queda de 1,37%

- FTSE 100 - queda de 1,39%

- Nikkei - queda de 1,52%

- Merval - queda de 1,61%

WINFUT queda de 1,57% - 70.180,00 pontos - 2009 – 81,97%



IBOVESPA queda de 1,56% - 69.421,35 pontos - 2009 – 81,88%

Segue abaixo o fechamento de hoje de principais ativos e ao lado acumul. 2009.

- BVMF3 queda de 1,78% - 11,62 ( MIN 11,58, MAX 11,76 ) 107,98%

- PETR4 quedade 1,93% - 32,95 ( MIN 32,72, MAX 33,58 ) 60,64%

- VALE5 queda de 1,23% - 50,57 ( MIN 50,27, MAX 51,45 ) 76,64%

- GGBR4 queda de1,64% - 29,94 ( MIN 29,34, MAX 30,28 ) 93,49%

- ITUB4 quedade 3,13% - 38,35 ( MIN 38,12, MAX 39,50 ) 48,24%

- CSNA3 quedade 2,28% - 34,30 ( MIN 33,96, MAX 35,28 ) 90,45%

- USIM5 alta de 0,02% - 60,09 ( MIN 59,10, MAX 60,30 ) 87,63%

- CYRE3 queda de 2,46% - 20,65 ( MIN 20,39, MAX 21,13 ) 162,11%

- RSID3 queda de 2,89% - 12,44 ( MIN 12,25, MAX 12,74 ) 300,00%

IBOVESPA – Abrii em queda e segui desabando até atingir a minima do dia por volta das 13:00 horas, quando chegou a estar recuando 2,11%. Com alguma recuperação no restante do intraday, acabou encerrando aos 69.421 pontos, representando uma queda de 1,56% sobre o fechamento anterior. No diário em Linha de Tendência de baixa, retorna ao canal lateral 68.644 / 69.974 pts., com próximo SUP nos 68.681 pts.

MIN do dia 69.012 pontos / MAX do dia 70.521 pontos

Palestra discutirá a inclusão da cultura indígena no ensino

Palestra discutirá a inclusão da cultura indígena no ensino



No dia 20 de abril, o curso de História da Feevale, através do projeto de Extensão "Múltiplas Leituras" realiza a palestra A questão indígena na sala de aula, com o objetivo de promover discussões e reflexões, por ocasião da Semana Indígena, sobre as atuais políticas públicas de inclusão, abordando questões relacionadas à obrigatoriedade do ensino de história e cultura indígena na educação básica. A palestra será ministrada pela professora e pesquisadora da UFRGS, Maria Aparecida Bergamaschi, que possui vasta experiência de campo entre os povos indígenas do Estado do Rio Grande do Sul. O evento, gratuito e aberto à comunidade, ocorrerá às 19h30min, no auditório do prédio Multicolor (RS-239, 2755, Novo Hamburgo).

SMS disponibilizará vacinas contra Gripe A para empresas

SMS disponibilizará vacinas contra Gripe A para empresas



Apenas empresas com equipes de SST ou SESMT podem solicitar as doses



As empresas hamburguenses que possuem serviço interno de medicina do trabalho poderão solicitar à Secretaria de Saúde (SMS) de Novo Hamburgo as doses para vacinar os seus funcionários contra a Gripe A (H1N1). O objetivo da ação é facilitar a imunização dos trabalhadores. Segundo a SMS, as empresas que possuírem no quadro de funcionários médicos, enfermeiros ou técnicos de enfermagem que atuem na área de Saúde e Segurança do Trabalho (SST) ou tenham o Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) podem agendar a solicitação do serviço. Para isto, basta ligar para a Casa de Vacinas, (51) 3527-1504, e falar com Ane ou Édson. Após o agendamento, a SMS orientará a equipe da empresa que fará a aplicação das doses e disponibilizará as vacinas para aqueles funcionários que integram o grupo da etapa da campanha de vacinação vigente (confira a programação abaixo).

Desde o início da campanha, em março, já foram vacinados mais de 28 mil hamburguenses. Nesta terceira etapa, que segue até o dia 23 de abril, a meta é vacinar 80% dos 45 mil jovens entre 20 e 29 anos. Além disso, pessoas que fazem parte da primeira e da segunda etapa da campanha (profissionais da saúde que atuam diretamente no combate a pandemia da gripe, gestantes, crianças entre 6 e 23 meses e doentes crônicos) e ainda não foram vacinadas também poderão receber a dose.

Para tomar a vacina basta procurar uma das 15 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) do Município das 8 às 17 horas, de segunda a sábado. A Casa de Vacinas e as UBSs de Canudos e Santo Afonso estão aplicando a dose contra o vírus até às 21 horas. De acordo com o Ministério da Saúde, pessoas que apresentarem quadro clínico agudo grave, como febre, dor de garganta e mal-estar em geral devem prorrogar a aplicação vacina. Além disso, doadores de sangue precisam esperar 48 horas para realizar uma nova doação.



Campanha Nacional de Vacinação do Idoso

A partir do dia 24 de abril até o dia 7 de maio estará em vigor a Campanha Nacional de Vacinação do Idoso. Toda população com mais de 60 anos receberá a dose contra a gripe comum. Aqueles com doenças crônicas também serão vacinados contra a Gripe A. Na última etapa da campanha, entre os dias 10 e 21 de maio, será a vez da população de 30 a 39 anos. As etapas seguem orientações do Ministério da Saúde. Em Novo Hamburgo, segundo a Secretaria da Saúde, a previsão é que 110 mil cidadãos sejam imunizados contra o vírus Influenza A (H1N1), causador da doença. Entre os dias 8 e 19 de março, 2,4 mil profissionais da saúde envolvidos diretamente na resposta a pandemia da doença foram imunizados.



Locais de Vacinação:

Casa de Vacinas (Rua Joaquim Nabuco, 610 – Centro)

UBS Primavera (Rua Boa Saúde, 618 – Primavera)

UBS Rondônia (Rua Balduíno Michel, 100 – Rondônia)

UBS Liberdade (Rua Kurt Wacker, 14 – Liberdade)

UBS Rincão (Rua Teobaldo Nicolau Bauer, 15 – Rincão)

UBS Roselândia (Rua Aquarius, 133 – Roselândia)

UBS Canudos (Rua Silvio Gilberto Christmann, 1451 – Canudos)

UBS Lomba Grande (Rua Odete Correa Schuck, 125 - Lomba Grande)

UBS Santo Afonso (Rua Assuncion, 85 - Santo Afonso)

UBS Iguaçu (Rua Bruno Werner Storck, esq. com a Rua dos Professores – Canudos)

UBS Kraemer (Rua Américo Vespúcio, s/nº - São Jorge)

UBS Kephas (Rua Bernardo Ludvig, s/nº - São José)

UBS São Jorge (Rua Jabuti, 308 - São Jorge)

UBS Guarani (Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Guarani)

UBS Boa Saúde (Rua Saturno, 202 - Boa Saúde)

UBS Redentora (Rua Tamoio, s/nº - São José)



Calendário de vacinação contra a gripe A:

Público-alvo / Data

Profissionais de saúde e indígenas / 8 de março a 19 de março

Gestantes, doentes crônicos e crianças de 6 meses a dois anos / 22 de março a 2 de abril

Jovens de 20 a 29 anos / 5 de abril a 23 de abril

Idosos (mais de 60 anos) com doenças crônicas / 24 de abril a 7 de maio

Pessoas de 30 a 39 anos / 10 de maio a 21 de maio

Segunda é dia de combater a Dengue

Segunda é dia de combater a Dengue




A Secretaria da Saúde (SMS) de Novo Hamburgo realiza nesta segunda-feira, dia 19 de abril, uma ação de conscientização e mobilização contra o mosquito transmissor da Dengue. O evento ocorrerá 14 horas na Praça do Imigrante. Conforme o coordenador dos Agentes da Dengue, Josué da Silva, o objetivo é orientar a população sobre os riscos da doença causada pelo Aedes aegypti. “Queremos mostrar para a comunidade que é possível ficar livre desta doença com ações simples, como evitar água parada e limpa”, afirma.

Neste dia, agentes da Dengue estarão distribuindo material informativo das ações que devem ser tomadas pelos hamburguenses para que o mosquito não se dissemine. Além disso, um laboratório será montado na Praça, para que a comunidade possa conhecer de perto as fases de desenvolvimento do mosquito.



Ação contra Dengue

Duas vezes por semana, equipes de Agentes da Dengue, do Departamento de Vigilância Sanitária, percorrem os bairros que fazem divisa com outras cidades para recolher amostras de larvas de mosquitos. “A estratégia é controlar a entrada do inseto em Novo Hamburgo. Caso existam mosquitos nos municípios próximos, eles terão que passar por esse cinturão de armadilhas”, explica Silva.

As armadilhas, confeccionadas com pneus descartados, funcionam como atrativo para as fêmeas de mosquitos depositarem seus ovos. Uma vez por semana os agentes visitam o local e coletam amostras de larvas, que são posteriormente analisadas em laboratório e identificadas. Após a coleta, a equipe limpa a armadilha e a reposiciona novamente para continuar controlando a entrada do mosquito na cidade. Com a colaboração da comunidade, cerca de 100 armadilhas foram espalhadas em residências e estabelecimentos comerciais em Novo Hamburgo.



O quê: Campanha de conscientização contra Dengue

Quando: Segunda-feira, dia 19 de abril, às 14 horas

Onde: Praça do Imigrante, no Centro

Município lança Programa Fazendo Direito

Município lança Programa Fazendo Direito

Em cerimônia realizada na tarde de sexta-feira, dia 16 de abril, no Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno, do Centro Municipal de Cultura, a Prefeitura hamburguense lançou o Programa Fazendo Direito. Uma iniciativa da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), o programa, conforme explica a secretária responsável pela pasta, Jurema Guterres, objetiva contribuir para a qualificação das políticas públicas municipais com relação à temática dos Direitos Humanos a partir do estabelecimento de parcerias entre a rede institucional, operadores do direito e sociedade civil organizada.



Além da equipe da SDS, participaram do evento o prefeito Tarcísio Zimmermann, a vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – subseção Novo Hamburgo (OAB-NH), Regina Abel, a coordenadora do Projeto Itinerante Liga dos Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Giancarla Brunetto, o procurador do Estado e presidente do Programa PROTEGE/RS, Carlos César D’Elia, o filósofo e professor da Faculdade de Educação da UFRGS, Luiz Carlos Bombassaro, e secretários e coordenadores de diversas áreas do Município.



A secretária Jurema destacou a importância de se construir uma “caminhada que possibilite a emancipação das pessoas ancorada na prática dos Direitos Humanos”. Ela antecipou que este programa se voltará à capacitação continuada tanto de técnicos da área quanto de agentes multiplicadores da comunidade. Em seguida, Regina Abel, da OAB-NH, destacou o interesse da instituição em contribuir com o tema e agradeceu a aproximação realizada pela SDS. “A fiscalização da Justiça por parte da OAB não se limita a códigos ou leis. Ela consiste principalmente no fomento a políticas sociais efetivas para a consolidação do Estado de Direito e essa certamente é uma dessas ações”, afirmou.



O prefeito Tarcísio Zimmermann destacou que o Estado brasileiro de fato pratica muitas omissões com relação aos direitos da população. Segundo ele, apenas recentemente passou a existir uma mudança nesse sentido, com o surgimento de leis e ações voltadas à questão social. “É necessário que o Estado reflita sobre o seu papel e a situação real do povo, para gerar uma cultura de aplicação dos Direitos fundamentais de qualquer pessoa”, discursou.



Após a solenidade de abertura, os participantes assistiram painéis sobre o tema, com a participação de profissionais de diversas áreas ligadas ao tema. Conforme a SDS, esta foi apenas a primeira de muitas ações neste sentido que devem acontecer no próximo período, dentro do Fazendo Direito. “Para a efetivação deste processo, realizaremos atividades educativas e de informação sobre direitos individuais e coletivos. Utilizaremos inclusive a imprensa e espaços virtuais como blogs”, explicou a secretária Jurema.

Dança do ventre é atração do Teatro Paschoal Carlos Magno no domingo

Dança do ventre é atração do Teatro Paschoal Carlos Magno no domingo



No próximo domingo, dia 18, a cultura árabe toma conta do palco do Teatro Paschoal Carlos Magno (Centro Municipal de Cultura, Rua Eng. Ignácio C. Plangg, 66, Centro). O evento promovido pela Mahaila Escola de Dança do Ventre tem início às 19h30 e promete trazer a magia do oriente para Novo Hamburgo.

Os ingressos antecipados podem ser encontrados na Farmácia Hamburguesa, Morada do Gnomo e na Escola Mahaila (Avenida Coronel Frederico Linck, 741) ao preço de R$ 12,00 e na bilheteria do Teatro antes da apresentação por R$ 15,00.



Serviço:

O quê: Apresentação de dança do ventre, Escola Mahaila

Quando: Domingo, dia 18

Onde: Teatro Paschoal Carlos Magno (Centro Municipal de Cultura, Rua. Eng. Ignácio C. Plangg, 66, Centro, Novo Hamburgo)

Horário: 19h30min

Ingressos: Antecipados R$ 12,00

Na hora R$15,00

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger

Ione Jaeger


O QUE É UM LOOP?




Para quem não conhece o conceito de LOOP, trata-se de uma terminologia assim nomeada por estudiosos de informática para definir uma confusão criada e que não possui uma explicação concreta para solução do problema.



Bem, vou tentar explicar em poucas palavras esta famosa terminologia:



Diz-se que um programa de computação "entrou em loop" quando acontece a seguinte situação:



O diretor chama sua secretária e diz:



Senhorita Vanessa:

Tenho um seminário na Argentina por uma semana e quero que você me acompanhe. Por favor, faça os preparativos da viagem...



A secretária liga para seu marido:



- Alô, João! Vou viajar para o exterior com o diretor por uma semana. Cuide-se meu querido!



O marido liga para sua amante:



- Eleonor, meu amor. A bruxa vai viajar para o exterior por uma semana, vamos passar esta semana juntos, minha princesa ...



No momento seguinte, a amante liga para o menino para quem dá aulas particulares:



- Joãozinho, estou com muito trabalho esta semana e não vou poder te dar aulas ....



A criança liga para seu avô:



- Vovô, esta semana não terei aulas, minha professora estará muito ocupada. Vamos passar a semana juntos?



O avô (que é o diretor desta história) chama imediatamente a secretária:



Senhorita Vanessa venha rápido



- Suspenda a viagem, vou passar a semana com meu netinho que não vejo há um ano, por isso não vamos participar mais do seminário. Cancele a viagem e o hotel.



A secretária liga para seu marido:



- Ai amorzinho! O babaca do diretor mudou de idéia e acabou de cancelar a viagem.



O marido liga para sua amante:



- Amorzinho, desculpe! Não podemos mais passar a semana juntinhos! A viagem da mocréia da minha mulher foi cancelada.



A amante liga para o menino a quem dá aulas particulares:



- Joãozinho, mudei os planos: esta semana teremos aulas como de costume.



A criança liga para o avô:



Puta merda vovô! A véia da minha professora me disse que terei aulas. Desculpe mas não poderemos ficar juntos esta semana.



Seu avô liga para a secretária:



Senhorita Vanessa - Meu neto acabou de me ligar e dizer que não vai poder ficar comigo essa semana, porque ele terá aulas. Portanto dê prosseguimento à viagem para o Seminário.



Entendeu agora o que é um LOOP?

Universidade Aberta está com inscrições para novos cursos

Universidade Aberta está com inscrições para novos cursos



Três novos cursos de graduação estão com inscrições abertas para vestibular no polo hamburguense da Universidade Aberta do Brasil (UAB), da Secretaria de Educação e Desporto (SMED) de Novo Hamburgo. Os cursos de Matemática, Pedagogia e Letras-Espanhol são oferecidos gratuitamente pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), na modalidade de Educação à Distância (EAD), sendo que as aulas presenciais acontecem no polo da UAB, em Novo Hamburgo (Avenida Pedro Adams Filho, 4918, 3º andar, Centro). As inscrições seguem até o dia 10 de maio e a prova ocorrerá no dia 30 de maio, das 14 às 19 horas, em local a confirmar. Inscrições e informações somente através do site http://ces.ufpel.edu.br/pse.



Gestão em Saúde

O polo hamburguense também está com inscrições abertas para o curso de Especialização de Gestão em Saúde, oferecido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As inscrições seguem até o dia 19 de abril, no site www.ea.ufrgs.br.

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini

Nelson Tangerini

BOTAFOGO/HOMENAGEM



HOMENAGEM A WALTENCIR



http://narzullo-tangerini.blogspot.com/

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

Jorge Magalhães e Jorge Bombeiro


VAGANDO NA NOITE PERDIDA


Caros amigos

O meu romance "Vagando na noite perdida" já está à venda pelo site da editora. Faça seu pedido que o livro será entregue em sua casa. O site é: http://www.editoramultifoco.com.br/catalogo2.asp?lv=257

Com certeza vcs vão gostar do romance.

Abs

Jorge Eduardo Magalhães

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco

Benedito Franco


Rio construirá 10 mil casas para remover famílias ( O Globo)



...Eu acredito... e você?... Em promessa de político a gente acree... dita... A chuva já parou...





054 - Deixa comigo!



Alguns parentes e amigos estávamos na casa de um primo de onde se ouvia o que se passava no interior da residência do vizinho ao lado. Incrível: - quaisquer conversa ou barulho, por menor que fosse, eram percebidos e compreendidos.

Nesse dia, houve uma tremenda briga entre pais e o casal de filhos - presentes mais um irmão e um amigo.

Conversa vai, papo vem, alguém disse que brigas eram comuns e que todo aquele barulho era para o filho tomar dinheiro do pai - desejava depenar a economia dos pais para as farras e a compra de drogas para si, para a irmã e para

os amigos.

Resolvemos achar uma saída para o caso.

Quanto ao amigo, os pais amigos de todos, ninguém quis assumir a responsabilidade de levar até eles o fato de o filho estar entrando no submundo das drogas.



O telefonema



Alguém afirmou que resolveria o problema do rapaz. Poderíamos confiar que solucionaria mais rápido do que esperássemos. Anônima, e como ainda inexistia o bina, telefonou para o delegado:

- Senhor delegado, o Senhor me daria alguns minutos, para lhe relatar um grande problema de uma ótima família?

- Às ordens, minha Senhora, diga.

- Pois é, Senhor delegado, um casal amigo, parente de um político influente na região, está sendo agredido e espoliado por um dos filhos. O pai trabalhou durante trinta e cinco anos numa firma, até aposentar-se, economizou para levar uma vida mais tranqüila na terceira idade e agora o filho o agride para lhe tomar o dinheiro.

A pessoa explicou ao delegado o que sabia, tintim por tintim, sobre o motivo da violência do rapaz contra os pais.

- Minha Senhora... deixa comigo. Casos assim de família gosto de ajudar e de solucionar. Daqui alguns dias torne a me telefonar.

O Delegado, cumprindo a promessa, chamou um detetive e lhe ordenou:

- Você conhece o filho de fulano, parente do cicrano, um menino de uns dezesseis anos?

- Não me lembro, mas posso procurá-lo.

- Ele entrou para o mundo das drogas, levando consigo a irmã, e tem agredido o pai para tomar-lhe o dinheiro. Siga-o. Aproxime-se e provoque-o de todas as maneiras, para ele reagir. Reagindo, dê-lhe uma surra e depois de bater bastante, adverte-o:

- Isso é para você criar vergonha e deixar de agredir seu pai para tomar-lhe o dinheiro. E tem mais: sei de tudo que se passa dentro de sua casa e não são nem seus pais ou irmãos que me informarão. Fique bonzinho, trate bem seus pais, pare com as drogas e ficará livre de mim.

- Deixa comigo, Senhor Delegado.



A recuperação



O Detetive cumpriu à risca a missão. Procurou, achou, seguiu e, na primeira oportunidade, provocou o garoto, que reagiu violentamente - tomou uma bela surra.

O Detetive soube, através do telefonema da pessoa que tornou a falar com o Delegado, que o menino melhorou, mas tivera uma recaída. Saiu ao encalço do garoto e desta vez deu-lhe surra dose dupla.

Agora sim, houve a cura definitiva do garoto e da irmã.

Nota triste foi o falecimento, pouco depois, do irmão quieto do casal, mas sobrou um casal de filhos totalmente recuperado das drogas.



O triste



Em um restaurante em Belo Horizonte, encontrei-me com toda a família do amigo dos meninos e que entrava, na época, no mundo das drogas e sobre a qual ninguém teve coragem de falar para os pais. Cumprimentei-a e os pais falaram-me que vieram visitar o filho em um hospital da capital. Ele passava bem mal, devido a superdosagens de drogas. Estava em estado de coma.

Alguns dias se passaram e o menino faleceu.

Coragem da pessoa que telefonou para o delegado!... Covardia nossa?...



Benedito Franco



Você pode – deve! – ser um doador de medula...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

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"Visão sem ação não passa de sonho; ação sem visão é só passatempo;


visão com ação pode mudar o mundo." ( Joel Baker )


"Toda a empresa precisa ter gente que erra,

que náo tem medo de errar e que aprende com o erro." ( Bil Gates )


"A primeira condição para se relaizar alguma coisa,

é não querer fazer tudo ao mesmo tempo." ( Tristão de Ataíde )



Política x Trabalho: como se comportar em tempos de eleição?

Infomoney

"Há menos de um mês, no dia 31 de março, diversos políticos de extremo destaque na cena nacional deixaram seus cargos para disputarem as próximas eleições de outubro. Assim, conforme o tempo passa, as campanhas vão ficando cada vez mais presentes no dia-a-dia da população e, por mais que o brasileiro negue, o assunto vai tomando espaço nas ruas.

Porém, no ambiente de trabalho, o assunto deve ser tratado com moderação. Ao menos, é o que observa a consultora de Recrutamento e Seleção da Ricardo Xavier Recursos Humanos, Tatiana Raupp Student.

Posso usar o bottom do meu candidato?

Segundo a consultora, quem milita ou tem afinidade por algum partido político ou candidato deve evitar o assunto enquanto estiver no trabalho, não usando, inclusive, bottons e camisetas relacionados ao assunto.

“Ambiente de trabalho é um lugar neutro e não cabe qualquer manifestação, por mais discreta que seja”, diz.

Ainda assim, quem for pego manifestando-se politicamente na empresa não pode sofrer qualquer sanção, ao menos que a companhia tenha regras explícitas sobre o assunto. Ao líder, neste caso, orienta ela, cabe uma conversa com a equipe ou uma circular tratando da questão. “O líder não deve abordar diretamente a pessoa, para que ela não pense que está sofrendo algum tipo de perseguição”.

Fora da empresa

Fora do ambiente de trabalho, contudo, a expressão é livre. Porém, para não ser mal interpretado, é importante deixar claro de que se trata da opinião pessoal do indivíduo e não da empresa, sendo que funcionários com cargos de maior relevância devem tomar cuidado redobrado e ter atenção especial para que, por conta da posição ocupada, a opinião não acabe oprimindo os demais.

Além disso, destaca Tatiana, ao se utilizar das mídias sociais para expressar a sua opinião, o funcionário deve sempre manter a elegância, não usando palavras de baixo calão e evitando falar mal do candidato adversário."

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Lá fora, em dia de forte volatilidade, os principais índices norte-americanos marcaram alta pela sexta sessão consecutiva, levando Dow Jones e S&P 500 a ampliarem as distâncias dos patamares de 11.000 e 1.200 pontos, respectivamente, vistos apenas em setembro de 2008. Expectativa positiva sobre os resultados prevaleceu nesta sessão, em dia de agenda carregada e com indicadores divergentes.

Imobiliárias : Ainda um dos grandes motivos de preocupação do governo norte-americano, o setor imobiliário trouxe bons sinais aos investidores neste pregão, com o índice do segmento imobiliário NAHB/Wells Fargo mostrando alta de 4 pontos, fechando abril em 19 pontos. Além de reverter a queda vista em março e ficar acima do esperado, mostrando um mercado mais otimista com o setor, o indicador atingiu o nível mais alto desde setembro de 2009

Os principais índices europeus voltaram a registrar altas nesta quinta-feira , em resposta aos dados da economia chinesa divulgados na noite de quarta e ao avanço do setor bancário, em Londres.

PIB da China : registrou crescimento de 11,9% na passagem anual no primeiro trimestre de 2010, apontando um ritmo mais intenso que o esperado por analistas. Já a inflação ao consumidor foi de 2,4% em março, frente a um ano antes.

Petróleo - Avaliando os indicadores desta quinta-feira , que trouxeram referências mistas para o mercado de óleo bruto, as cotações de petróleo fecharam em queda nos EUA, mas avançaram no mercado europeu. ( Londres US$ 87,17 / NY US$ 85,81 ).

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Por aqui, em uma quinta-feira repleta de indicadores, entre PIB da china e dados da inflação no Brasil, o índice doméstico fechou descolado dos mercados externos mais uma vez. O evento de mais destaque na agenda do dia ficou por conta da divulgação do IGP-10 (Índice Geral de Preços) relativo ao período de trinta dias até 10 de abril, que revelou uma variação positiva nos preços de 0,63%, consideravelmente abaixo da registrada em março, de 1,10%.

Petrobras : se destacou hoje entre as maiores variações negativas do dia, na cauda de rumores de que a empresa pode se desfazer de sua participação em um bloco de exploração operado pela estatal da Índia Oil and Natural Gas Corp, no qual detém 10%. As incertezas sobre a capitalização da estatal também continuam.

IBOVESPA - Oscilando entre os 70.429 pontos e os 71.065 pontos, com um expressivo volume financeiro de R$ 8,58 bilhões , o índice doméstico acabou fechando aos 70.524 pontos, representando uma queda de 0,34% sobre o fechamento anterior. No diário em movimento lateral, parece estar estabelecendo um novo canal lateral nos 70.524 / 71.786 pts.

Já o dolar comercial, após chegar a acumular depreciação de mais de 1% durante o intraday, engatou uma trajetória de recuperação no final das negociações, depois do Banco Central anunciar sua segunda intervenção no mercado cambial desta quinta-feira e com essa nova queda, renovou seu menor patamar visto de 12 de janeiro deste ano. Dessa forma a moeda fechou esta terça-feira cotada a R$ 1,7480, representando uma leve queda de 0,06% em relação ao fechamento anterior. No mês a desvalorização é de 1,74% e no ano a valorização é de 0,51%.

INDICES INTERNACIONAIS

- Dow Jones - alta de 0,19%

- S & P 500 - alta de 0,08%

- NASDAQ – alta de 0,43%

- FTSE 100 - alta de 0,50%

- Nikkei - alta de 0,61%

- Merval - queda de 0,83%

WINFUT queda de 1,15% - 71.300,00 pontos - 2009 – 81,97%



IBOVESPA queda de 0,72% - 70.524,35 pontos - 2009 – 81,88%

Segue abaixo o fechamento de hoje de principais ativos e ao lado acumul. 2009.

- BVMF3 queda de 1,42% - 11,83 ( MIN 11,77 MAX 12,03 ) 107,98%

- PETR4 quedade 1,90% - 33,60 ( MIN 33,54, MAX 34,45 ) 60,64%

- VALE5 alta de 0,57% - 51,20 ( MIN 50,81, MAX 51,51 ) 76,64%

- GGBR4 queda de2,12% - 30,44 ( MIN 30,35, MAX 31,14 ) 93,49%

- ITUB4 quedade 0,15% - 39,59 ( MIN 39,36, MAX 39,78 ) 48,24%

- CSNA3 quedade 1,68% - 35,10 ( MIN 35,02, MAX 35,65 ) 90,45%

- USIM5 quedade 2,31% - 60,08 ( MIN 60,00, MAX 61,26 ) 87,63%

- CYRE3 quedade 1,49% - 21,17 ( MIN 21,05,MAX 21,49 ) 162,11%

- RSID3 alta de 0,31% - 12,81 ( MIN 12,65, MAX 12,94 ) 300,00%

IBOVESPA – Em movimento de sobe e desce no intraday, apresentou a minima do dia por volta das 12:50 horas. Acabou encerrando aos 70.524 pontos, representando uma queda de 0,34% sobre o fechamento anterior. No diário em movimento lateral, parece estar estabelecendo um novo canal lateral nos 70.524 / 71.786 pts.

MIN do dia 70.429 pontos / MAX do dia 71.065 pontos

Eu só peço à Deus - Mercedes Sosa e Beth Carvalho

Mercedes Sosa & Caetano & Gal & Chico & Milton do Brasil

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini

Nelson Tangerini

O CAFÉ PARIS



[Niterói, RJ, Anos 1920]







Crônicas de







Nelson Tangerini




Itinerário do Café Paris


Os Tangerini vieram de Tanger?



Ao prezado Nelson Tangerini



A memória de Nestor Tangerini



Luiz de Gonzaga e a Roda do Café Paris



Lili Leitão, Tangerini e René Medeiros



Quando ela passa



A casa do Sr. Elias



Cinema...



Prendam o poeta



O Vaso Grego e o Paralelepípedo



Um plágio



A sincera amizade entre Luiz Leitão e Nestor Tangerini



O cuco e o plágio



A poesia satírica de Lili Leitão



Niterói e fragmentos do Café Paris



Errar é humano



Mazzini Rubano



Luiz Leitão, poeta da água escondida































Agradeço de coração a Luís Antônio Pimentel, Carlos Silvestre Mônaco, Wanderlino Teixeira Leite Netto, Luis Augusto Erthal, Alberto Valle e Roberto S. Kahlmeyer-Mertens pelo apoio e pelas manifestações de apreço.




Agradecimentos especiais à profa. Cristina de Andrade, minha leitora, incentivadora e namorada.









“O Café Paris é a embaixada dos poetas residentes em Niterói”...
Nestor Tangerini





A todos os poetas do Café Paris, in memoriam.







OS TANGERINI VIERAM DE TÂNGER?



Vindo de Bolonha, Itália, Vittorio, filho de Vicenzo Tangerini e Antonia Luminasi, foi o primeiro Tangerini a chegar ao Brasil, no século XIX.



Descendente da milionária família Luminasi, o jovem italiano resolve torrar toda a sua grana no norte da África e no Brasil, onde comprou terras e onde perdeu tudo, uma vez que era viciado em corrida de cavalo.



No Rio Grande do Sul, casa-se com Domingas Tambourindeguy, gaúcha de Bagé, filha de Jean Tambourindeguy e Catherine Danielle Arretxe, bascos do lado francês, com quem teve 3 filhos: Nestor Tambourindeguy Tangerini, natural de Piracicaba, SP, Gilda Tambourindeguy Tangerini, natural de Sacramento, MG, e que veio a falecer aos 9 meses, e Elsa Henny Tambourindeguy Tangerini d´Arcanchy, natural de Manaus, AM.



Mas qual a origem dos Tangerini? Teriam vindo de Tânger, Marrocos? Ou ganharam esse apelido [os Tangerinos], por terem negócios no norte da África?



Aquele que nasce em Tanger é tangerino [homem] ou tangerina [mulher]. Tangerini, com o “i” do plural italiano significa “os tangerinos”.



Mas falemos do professor bolonhês Vittorio Tangerini:



No dia 13 de outubro de 1930, Vittorio Tangerini conversava animadamente com os filhos, sobre o concurso de misses daquele ano, quando sentiu-se mal. Pediu licença e foi até a cozinha para beber água. Fulminado por um infarto, caiu no corredor, entre a copa e a cozinha.



Segundo Nancy, na noite anterior, ele não contara estórias para ela e Neusa – como era seu costume. Pediu-lhes desculpas. Disse que não estava se sentindo muito bem e precisava dormir. E recolheu-se.



O jornal carioca A ORDEM assim noticiou, em 16 de agosto de 1930, num Sábado, o seu falecimento:

“VICTORIO TANGERINI


Aos 70 anos de idade, faleceu ontem, em sua residência, à rua Redentor, 271 (Ipanema), o professor Victorio Tangerini, antigo lente da Academia de Belas Artes do Estado do Amazonas, da qual foi um dos fundadores, no governo do atual senador Silvério Nery.



Originário de distinta família de Bolonha, seu berço, era filho de Vicenzo Tangerini, grande industrial e primo do falecido jesuíta Soriani, que educou, no Estado de São Paulo, várias gerações, e do Dr. Olindo Malagodi, o conhecido escritor italiano que, assiduamente, aparece pelas colunas de La Nación, de Buenos Aires.



Curiosa particularidade de seu espírito, a inquietação levou-o, após percorrer a Ásia, a África e a América, a habitar todos os 21 Estados do Brasil, país a que dedicou a maior afeição, radicando-se, finalmente, nesta capital, onde deixa viúva D. Domingas Tambourindeguy Tangerini, com quem contraiu núpcias no Estado do Rio Grande do Sul, e os seguintes filhos: D. Elsa d´Arcanchy, amazonense, casada com o Tenente Camillo d´Arcanchy Filho, e Nestor Tangerini, paulista, nosso colega de imprensa, da Sociedade de Autores Teatrais.



O sepultamento realizou-se no cemitério de S. João Batista”. (*)


A revista OQA, do Rio de Janeiro, em 21/8/1930, também noticia a morte de Vittorio:


“OS QUE FALECERAM

Faleceu no dia 14 do corrente, aos 70 anos de idade, em sua residência, à rua Redentor, 71 (Ipanema), o professor Vittorio Tangerini, ex-lente da Academia de Belas Artes do Estado do Amazonas, da qual foi um dos fundadores no governo do Dr. Silvério Nery.



O extinto era primo do falecido do Jesuíta Soriani, que educou, em S. Paulo, toda uma mocidade, e do Dr. Olindo Malagodi, escritor italiano e redator especial do diário argentino La Nación.



Deixa viúva, D. Domingas Tambourindeguy Tangerini e dois filhos Elsa d´Arcanchy, esposa do tenente d´Arcanchy Filho, da Marinha, e Nestor Tangerini, nosso colega”.


Em homenagem ao pai, Nestor Tangerini escreve a belíssima trova:


“Cheio de amor e de fé


foi meu pai a minha luz,



e só não é S. José



por não ser pai de Jesus”.



[*] Republicado nos livros DONA FELICIDADE, de Nestor Tambourindeguy Tangerini, Achiamé Edições, Rio de Janeiro, RJ, 1997, e PERFIL QUASE PERDIDO – UMA BIOGRAFIA PARA NESTOR TANGERINI, de Nelson Marzullo Tangerini, 2000.



LUIZ DE GONZAGA E A RODA DO PARIS

A “Roda do Café Paris” é, sem sombra de dúvida, o maior movimento literário de toda a história de Niterói. Merecia melhor tratamento por parte dos intelectuais ligados à cultura desta cidade.

Nem toda produção daquela rapaziada está perdida. Muita coisa ainda circula na mão de colecionadores – entre eles, Mônaco e eu. Este material devia ser resgatado, ir para uma entidade séria, talvez a UFF, e tornar-se livro. Levar está história de Niterói para as escolas e universidades e montar uma exposição sobre o Café Paris se faz necessário.

Entre os poetas da “Roda” não havia competição. Havia, sim, uma fraternal democracia entre eles. Apesar de fazerem sátiras, uns dos outros, como veremos em futuras crônicas, todos se respeitavam e admiravam o talento dos amigos.

Há anos venho tentando, através da imprensa fluminense, publicar uma poesia inédita de Luiz de Gonzaga dedicada a meu pai.



O referido texto, manuscrito, influenciado pela escola simbolista, provavelmente foi produzido numa mesa do Café Paris:



Vejamos:





“A UM SONHADOR





a Nestor Tangerini





E ao fim de tanta luta acerba e vã,



olhas a longa senda percorrida:



longe! os rosais dolentes da manhã



e os evangelhos míticos da vida...





A poeira enluta as curvas dos caminhos,



onde vinhas, contente da viagem,



vendo as moitas curvadas à passagem



e repletas as árvores de ninhos.





Tinhas os olhos cheios desse sonho:



uma alma terna, amante e delicada,



que despontasse como um sol risonho



em uma volta súbita da estrada.







Vinhas colhendo as flores mais formosas



e amando as mais esplêndidas mulheres:



todas tiveste – lindas como as rosas



e desfolhadas como os malmequeres:





Mal sentes hoje o coração inquieto,



ralado pelos longos azedumes,



- cheias as mãos de flores sem perfumes,



- farta a carne de corpos sem afeto.





Longe! os rosais dolentes da manhã



e os evangelhos míticos da vida!



distante! a longa senda percorrida,



onde arrastaste a tua fé pagã...





E enquanto cais, exausto pelas dores,



voltas o olhar e vês, pelos caminhos,



as velhas ramas dando novas flores



e as mesmas moitas cheias de outros ninhos...





Luiz de Gonzaga



Niterói, 4/24.”





Em croniqueta publicada, talvez, no jornal O Prélio, no dia 13 de abril de 1926, João da Ponte [pseudônimo de Nestor Tangerini] retrata, com refinado humor, uma momento de descontração entre os rapazes do Café Paris, quando estes comentavam sobre a passagem de um prestidigitador pela antiga capital fluminense.



O cronista retribui a poesia do amigo, fazendo o poeta Luiz de Gonzaga, o destaque da crônica:





“Quando aqui apareceu o célebre e inesquecível professor Aronaick; porque se não cansassem os jornais de o seu aparecimento comentar divulgando-o como sendo uma das maravilhas do Século XX, não houve, em toda Niterói, gato, cachorro, criança, homem e mulher que assistir não fosse aos belíssimos trabalhos desse moço, por meio de cujo assombroso dom havia já conquistado o título de última palavra em prestidigitação.



Não há, nem pode haver, quem disto não se lembre.



Foi referindo-se ao hábil e incomparável professor que, ontem, numa roda, alguém, entusiasmado exclamou.



- Aquele homem era um verdadeiro assombro! Vi-o transformar, instantaneamente, uma prata de 2 mil réis em uma rosa!



- Isso não é vantagem!.... respondeu o poeta Luiz de Gonzaga.



- Minha mulher, em menos de um segundo, transforma, brincando, uma nota de cem mil réis em um chapéu”.





A referida crônica, recortada por minha avó, Domingas Tambourindeguy Tangerini, chegou até mim com data de publicação, mas sem o nome do jornal. Ainda assim, é um retrato da Niterói dos anos 1920.





























































LILI LEITÃO, TANGERINI E RENÉ MEDEIROS





Ali, no Paris, os poetas, sempre em festa, satirizavam os companheiros da Roda, fazendo-lhes versos hilariantes.



Lyad de Almeida, em seu livro “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói & Niterói, poesia e saudade”, Niterói Livros & Funiarte, Niterói, RJ, 1996, diz que o professor e poeta Nestor Tangerini, forte em sintaxe – e especialmente em colocação de vírgulas -, sempre tirava as dúvidas gramaticais dos amigos.



Lili Leitão, seu amigo mais próximo, resolve, então, com todo respeito, fazer-lhe uma trova satírica e cítrica:





“Caro amigo Tangerina,



Tudo que és mestre em virgular,



Por que não vais habitar



O morro da Virgulina?”







A referida trova ficou apenas na cultura oral daqueles poetas que se autodenominavam “parisienses”. Não perdeu-se, com o tempo, porque Tangerini a declamava, quando lembrava-se, com carinho, de Luiz Leitão e de seus amigos do Café Paris.



Para René Descartes de Medeiros, o galã e D. Juan da “Roda”, aquele que não tinha “critério” na escolha das “damas”, Nestor Tangerini, apelidado pela turma de “Olho de Moscou”, por ser cego da vista direita, escreveu o soneto abaixo – e que foi publicado, em 1930, no jornal O Almofadinha, de Lili Leitão:











“RENÉ DESCARTES DE MEDEIROS





[Autor do livro “Oração aos Seios”]





Cabeça de avelã, cara de sapo,



esqueleto enguiçado de nortista,



com pretensões adônicas, de guapo,



eis, em resumo, o vate gongorista.





Mulher não há, no entanto, que no papo



não lhe caia, porquanto ele conquista



desde o mais esquisito sacatrapo



à mais formosa dama futurista.





Adorador das musas, todo anseios,



porque quem chora mama canta os seios,



e à lira de Bilac, a sua bate-a.





De tal maneira explora a peitaria,



que com seu livro, marca leiteria,



fez-se o maior cantor da “Via Láctea”.





Os parisienses faziam sátiras dos amigos e deles próprios.



Segundo um manuscrito de meu pai, “na época da Roda do Paris, mil réis era dinheiro (dava para 250 chopes), e Tangerini, quando ficava “pronto”, escrevia a um farmacêutico seu amigo, e também boêmio, bilhetes que comoviam o sensível droguista:





Avie-me, seu Filgueiras,



a crédito, que sou pobre



e sofro das algibeiras



- 100 de sulfato de ‘cobre’ ”.





Para si, Lili escreveria, também, uma trova hilariante – e que jamais o paulista esqueceria.



Tangerini, num caderno de anotações, assim retratou o amigo e seu grupo:



“Marcou época, em Niterói, a chamada ‘Roda do Paris’ (do Café Paris), continuação do grupo de Max de Vasconcelos. Dela fazia parte, com Olavo Bastos (da Academia Fluminense), Gomes Filho, Tangerini, e outros, o fértil e espontâneo humorista Luiz Leitão (Lili Leitão), que nos deixou, como reminiscência daquelas brilhantes noites de boêmia, a seguinte quadrinha”.





“Meus amigos foram três,



na ventura e na desgraça:



A conta que o diabo fez:



Mulher, Dinheiro e Cachaça”.







Ao receber a notícia do passamento do amigo, às quatorze horas do dia 15 de julho de 1936, aos quarenta e seis anos de idade – e ainda solteiro -, na Rua Riodades, no.. 147, bairro Fonseca, em Niterói, Tangerini dedica-lhe uma trova satírica, dentro do estilo literário e de vida de Luiz Leitão.







“Quando ele à cova baixou,



pleno de cana e de graça,



um verme aos outros gritou:



moçada, temos cachaça!”





Para o sonetista Alberto Valle, da Academia Niteroiense de Letras, Lili Leitão foi “o maior poeta humorístico fluminense”.

























































QUANDO ELA PASSA...





Contava Nestor Tangerini que, em Niterói, nos idos Anos 20 [do Século XX], os “parisienses” promoveram um concurso de poesias, entre eles, e o tema era uma senhorita que os deixava suspirando e sonhando.



O poeta, apelidado pela Roda do Café Paris de “Olho de Moscou”, por enxergar apenas – e muito bem – com a vista esquerda – era cego da vista direita -, contava que “a moça mais bonita e formosa” da cidade “era, na época, a senhorita Atalá, neta do saudoso educador fluminense Felisberto de Carvalho. Realmente encantadora, Tangerini, artista apreciador das obras-primas, não podia deixar de a sentir”. E dedicou-lhe dois sonetos.



Eis o primeiro:





“QUANDO ELA PASSA...





Quando Ela passa, de sombrinha clara,



Essa, da Moda, esplendorosa Estrela,



Pára o automóvel, pára o bonde, pára



O mundo inteiro: todos querem vê-la...





E todo mundo, estático, escancara



Os olhos grandes, que se aumentam pela



Vontade de envolver-lhe a forma rara,



Num desejo malvado de comê-la...





E a Deusa passa... E passa – indiferente,



Sem medo de que o mundo se desabe –



Bailando as curvas, desmanchando a gente...





E a gente fica a interrogar-se, à-toa,



Como em dois dedos de vestido, cabe



Uma porção de tanta coisa boa!”





Lili Leitão, inspirado, também, pela beleza da Vênus niteroiense, escreveu-lhe um soneto com o mesmo título:









“QUANDO ELA PASSA...





Quando ela passa, recendendo odores,



Cabelos soltos, à mercê do vento,



Vagarosa e sutil, num passo lento,



Acorda um mundo de febris amores.





Quando ela passa, há frêmitos, rumores,



Atavia-se tudo e é tudo atento;



Palpitam luzes pelo firmamento,



Nascem prazeres, se desatam flores.





Paixões acende pela turba, quando



Passa, divina, derramando graça,



Naquele passo em que ela vai passando.



Cativa e prende e num sorriso enlaça

Os corações, que ficam palpitando



Quando ela altiva e soberana passa.”







“Mas não dissera tudo”, prossegue Tangerini, “porque assim pensasse, voltou à sua deidade”, com outro soneto, que dedicou ao amigo “parisiense” Gomes Filho, outro apreciador da moça:



“ATALÁ





Essa que passa por aí, senhores,



De olhos flecheiros e assombroso porte,



É a Salomé de Niterói – a morte,



A guilhotina dos conquistadores.





Dizem que, numa noite de esplendores,



Essa, que inflama a gelidez mais forte,



Mesmo a São Pedro não livrou da sorte



De na Assistência estrebuchar de amores!





Julgais, talvez, ser isto zombaria?



Eu vos direi que não, pois, certo dia,



Em que Ela entrou na igreja onde apareço,





Vi o reverendo todo esbodegado,



E o Cristo ouvi gritar, crucificado:



Vai-se embora, seu diabo, eu sou de gesso!”





Se a bela Atalá soube do ocorrido, deve ter rido de tudo, ficado orgulhosa, de nariz em pé, e até esnobado os poetas do Café Paris.





...





[Os sonetos acima foram publicados no livro Perfil Quase Perdido – Uma Biografia para Nestor Tangerini, de Nelson Tangerini. Perfil foi registrado na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ, em 2000].





























































A CASA DO SR. ELIAS





Na década de 1920, auge dos poetas do Café Paris, de Niterói, o comerciante libanês sr. Elias, proprietário da casa A Garota, armarinho especializado em fazendas, panos de cama e mesa e roupas pede a seu amigo Tangerini que escreva um soneto-propaganda para a sua lojinha.



Assim, de chofre, o que escrever? Galhofeiro e espirituoso – e sempre inspirado -, o poeta e humorista Nestor Tangerini faz uma paródia do belo soneto Visita à Casa Paterna, do poeta Luís Guimarães Júnior, que publicamos nesta crônica:





“Como a ave que volta ao ninho antigo,



Depois de um longo e tenebroso inverno,



Eu quis também rever o lar paterno,



O meu primeiro e virginal abrigo:





Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,



Os fantasmas talvez do amor materno,



Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,



E passo a passo, caminhou comigo.





Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)



Em que da luz noturna à claridade,



Minhas irmãs e minha mãe... O pranto





Jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?



Uma ilusão gemia em cada canto,



Chorava em cada canto uma saudade.”







E o soneto paródia de Tangerini, A Garota, que faz hoje parte do seu livro HUMORADAS... – SONETOS SATÍRICOS, enfim é escrito:









“Como a ave que volta ao ninho antigo,



Depois de reduzido à bancarrota,



Eu também quis rever, hoje, A Garota,



A princesa nos preços e no artigo.





Entrei. E o “seu” Elias, meu amigo,



Sem de ressentimento uma só gota,



Tomou-me as mãos, numa expressão marota,



E passo a passo caminhou comigo.





Era esta a casa... (Oh, se me lembro e quanto!),



Em que, por alguns níqueis, quase nada,



Eu conseguira... Quem resiste a tanto?





Fui gastando o que tinha, ao ver, armada,



Uma boa fazenda em cada canto,



E em cada qual um preço camarada”.







Não temos qualquer notícia da publicação deste soneto em jornais da ex-capital fluminense. É possível que os versos de A Garota tenham sido publicados no jornal carnavalesco niteroiense O Almofadinha, vitrine dos sonetos-propaganda, de propriedade de Luiz Leitão, grande poeta satírico niteroiense e amigo de Tangerini.



Muitos exemplares do jornal de Lili, como se sabe, desapareceram para sempre e é impossível sabermos algo a respeito.



Este soneto, por exemplo, encontrei-o em meio a uma papelada amarelecida pelo tempo, com anotações do autor.



Para torná-lo parte da História de Niterói, publiquei-o no jornal AAC/INFORMATIVO, Órgão Informativo da Associação dos Aposentados dos Correios, Literatura, p. 4, Ano IX, nO. 23, Brasília, DF, dezembro de 2002, e na VII Coletânea Komedi, p. 237, Editora Komedi, Campinas, SP, 2003.





Um dos dez membros eleitos para se completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira no. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís, Luís Caetano Guimarães Jr, diplomata, poeta, romancista e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1845, e faleceu em Lisboa, Portugal, em 20 de maio de 1898.















CINEMA...





Meu amigo Luiz Antônio Pimentel, poeta [mestre na arte de fazer Haikais], jornalista, memorialista, escritor, pesquisador, membro da Academia Niteroiense de Letras, 96 anos, tem uma memória privilegiada e prodigiosa.



Conversava com ele em 2007 [já não me lembro mais o dia e o mês] e ele me passava uma poesia inteira de meu pai, publicada numa revista do Cine-Teatro Éden, propriedade do também poeta Oscar Mangeon. Poesia esta, que não constava no arquivo de nossa família.



Ei-la:





“Cinema, sala de espera.



música, flores, elite.



e tudo o que a mente gera



de nobre e fino apetite.



No momento se permite

reunião austera e chique.

Entra uma dama elegante



com a criança, galante.





Brincando, graceja e ri.



Nisso, o guri alto fala;



O riso trazendo à sala:



Eu quelo fazer pipi”





Anotava num caderno os versos de meu pai, Nestor Tangerini, enquanto Pimentel recitava, com muita clareza, os versos que damos o nome de “Cinema...”, por não haver qualquer exemplar deste número da revista.



Aliás, as revistas do Cine-Teatro Éden parecem estar perdidas para sempre. Guardo uma delas, com poesias da Roda do Café Paris. Estão ali Oscar Mangeon, Lili Leitão, Apollo Martins, Mazzini Rubano, René Medeiros, Olavo Bastos, Nestor Tangerini, Mayrink, Gomes Filho, Varon, Luiz de Gonzaga, entre outros.



Na revista que tenho, de 1928, arquivo de nossa família, há um belo soneto do empresário Oscar Mageon, que muitas vezes montou peças dos teatrólogos Nestor Tangerini e Lili Leitão.



Vamos homenagear Mangeon, publicando um de seus sonetos:





PARADOXO





Como esta vida é atroz! Como esta vida



(Efêmero momento da existência)



Pôde criar, na sua própria essência,



Um paradoxo – o Amor... Desconhecida





A criatura de si, na inconsciência,



Sente a delícia suave, indefinida,



Indefinidamente repetida



Na tortura do gozo... na demência...





E o Amor – um infinito de desejos,



Vive na Dor, sorrindo encarcerado



No cárcere de um círculo de beijos...



E a vida esvai-se... O lábio ressecado

Busca outro lábio, em lânguidos adejos,



Na virtude, que existe no Pecado!





Esta crônica é dedicada a meu grande amigo Luiz Antônio Pimentel, que tantas vezes me deu atenção, passando-me informações preciosas sobre meu pai e a Roda do Café Paris.



Muito agradecido, Pimentel!





































PRENDAM O POETA





Não foram só os poetas satíricos Gregório de Matos, baiano, e Bocage, português, barroco e neoclássico, respectivamente, que andaram incomodando os políticos de sua época.



Nestor Tangerini, um dos maiores poetas satíricos da Língua Portuguesa – e ainda não estudado -, também fazia das suas – e com maestria –, enriquecendo, assim, a poesia satírica lusófona.



De acordo com manuscritos do ilustre homem de letras, entro a descrever-lhes um fato que aconteceu em Niterói, na década de 20, Século 20, quando a cidade, fundada pelo Cacique Araribóia, era capital do Estado do Rio de Janeiro:



“Redator da Folha do Comércio, jornal de Modesto Vilela,” Nestor Tangerini, “em 1928, não poupava o ex-guarda-civil Cap. Ramos (Capitão Otávio Ramos), que a política fizera dele Delegado de Capturas da Polícia Fluminense. Ansioso por mandar “baixar-lhe o pau” e “metê-lo no xadrês de mistura com ladrões e desordeiros, resolveu a truculenta autoridade, uma noite, prender o atrevido jornalista quando este se acha à porta vizinha do jornal O Estado. Mas era Chefe de Polícia um moço muito distinto, o Professor Dr. Oscar Fontenelle, que morava no andar de cima da Chefatura, e a arbitrariedade não passou de voz de prisão.



No dia seguinte”, o poeta “simulou escrever”, em forma de soneto, ao gramático “João Ribeiro, tirando partido da abreviatura “cap.”, que aqui se deve ler “cape”, e que foi publicado, alguns dias depois, no jornal Correio Fluminense:









A JOÃO RIBEIRO





Não somente a sintaxe é campo aberto



ao que se denominou anfibolia;



tal acidente de sentido incerto,



também se nos depara na grafia.





Para exemplo, tomemos este excerto,



estas três linhas do jornal O Dia,



terminais de uma nota, e que lhe oferto,



meu velho mestre de Filologia:





“Assim, do conhecido cap. Ramos,



do qual um só cristão não há que escape,



outra façanha registramos”.





O sentido, investigue-o bem, acosse-o,



e diga-me, depois, se aquele “cap”.



quer dizer “capitão” ou “capadócio”.





Leitor compulsivo de gramática e literatura – o poeta satírico admirava José Oiticica -, Nestor Tangerini, que era fã ardoroso de Camões, Gregório de Matos, Bocage, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Eça, Machado de Assis e Raimundo Correia, tentou reerguer, com um grupo de poetas amigos, a poesia parnasiana, quando esta já nos dava sinais visíveis de enfraquecimento, varrida que fora pela avalanche Modernista, comandada pelos Andrades - Mário e Oswald.



Muitas vezes Tangerini voltaria à carga com seus sonetos cítricos, diretos e ferinos – o que lhe causou este silêncio em torno de sua obra, durante todos esses anos.



Antes de perder o braço num acidente, em 1940, o múltiplo artista mostrava também o seu talento no piano. Pianista exímio, segundo amigos do passado, o jornalista conhecia música profundamente. E ironizava os picaretas e os falsos intelectuais.



Depois de receber de Juca Trambone, pseudônimo de um amigo, o livro “Trambonadas”, o poeta escreve-lhe uma carta, em versos satíricos, através do jornal Correio Fluminense, acusando o recebimento da obra:



“TRAMBONADAS





‘Sinto muito não ser profundo



conhecedor da música para melhor



interpretar os alegros e pizzicatos



de Juca Trambone”



E. Ribeiro

[Da Academia Fluminense de Letras]















Caro Juca Trombone: Meus saudares.



Tenho aqui, sobre a estante, as “Trambonadas”,



que me arrancaram boas gargalhadas,



fazendo-me esquecer alguns pesares.





Gostei do livro teu, no qual, aos pares,



se nos deparam “peças” engraçadas,



na “sintaxe” das “notas” sapecadas,



ao sabor de doutores e vulgares.





Mas há nele uma nota que eu combato.



Onde o prefaciador, mocinho afoito,



viu tirar, do trambone, “pizzicato”?





Sem mais, até longuinho, na retreta.



Niterói, dez de outubro de vint´oito.



Teu compadre – “Jacinto Clarineta”. ”





Por essas e por outras, segundo o compositor Aldo Cabral e, mais recentemente, o escritor Fábio Siqueira do Amaral, Nestor Tangerini acabaria sendo um sujeito respeitado e, ao mesmo tempo, invejado e odiado. Porque, no Brasil, só os medíocres podem ter espaço na mídia.







































O VASO GREGO E O PARALELEPÍPEDO





No dia 19 de outubro de 2007, fui ao lançamento do livro “Alberto de Oliveira – Antologia Poética”, Seleção, Prefácio e Glossário de Camillo Cavalcanti, na Biblioteca Municipal de Niterói, onde a obra foi lançada, após palestra do Professor Camillo.



Alberto de Oliveira, cujo nome verdadeiro era Antônio Mariano de Oliveira, nasceu em Pontal de Saquarema a 28 de abril de 1857 e faleceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, a 19 de janeiro de 1937.



Apresentado pelo Professor Camillo como filho de um dos membros do antigo Café Paris, da cidade fundada pelo Cacique Araribóia, não resisti à tentação; levantei-me e acabei declamando, em público, o belíssimo soneto “Céu Fluminense”, o meu preferido:







“Chamas-me a ver o céu de outros países,



Também claros, azuis ou de ígneas cores,



Mas não violentos, não abrasadores



Como este, bárbaro e implacável, - dizes,





O céu que ofendes e de que maldizes,



Basta-me entanto: amo-o com os seus fulgores,



Amam-no poetas, amam-no pintores,



Os que vivem do sonho, e os infelizes.





Desde a infância, as mãos postas, ajoelhado,



Rezando ao pés de minha mãe, que o vejo,



Segue-me sempre... E ora da vida ao fim,





Em vindo o último sono, é meu desejo



Tê-lo sereno assim, todo estrelado,



Ou todo sol, aberto sobre mim”.







Nestor Tangerini, meu pai, ex-membro da roda literária do Café Paris, conheceu pessoalmente, em Niterói, nos anos 20 do século passado, o poeta fluminense.



Achando-se um poeta menor, o piracicabano escreve o pesado e bruto soneto Paralelepípedo em homenagem ao grande poeta parnasiano, que um dia nos deixou um fino, leve e trabalhado Vaso Grego.



O paulista conta-nos sua história :



“Conquanto apreciasse muito a Alberto de Oliveira, que residia em Niterói, Tangerini, que brincava com todo mundo, achou de brincar, também, com Príncipe dos poetas, e escreveu (não sabemos se o notável poeta gostou ou não), sobre o Paralelepípedo”:





“Jóia és. Jóia sendo, alfombras, belo,



As, em que piso, príncipe do verso,



Ruas de Niterói, ninho meu terso,



Onde nasci de, em punho, camartelo.





És um lyrio com “i grego”, lyrio imerso



Da Grécia nos paus, e inspiras melo-



Peias à lira minha. Em doce anelo,



Nela, por ti, mil sons, sons mil disperso.





Dentro, mesmo, da forma, que tens, linda,



Piramidal te me deparas inda,



Para, da minha, orgulhoso, bigodeira.





E, na piramidez platifungente,



És o que eu sou, és, finalmente,



Os versos meus. – Alberto de Oliveira.”





A Roda do Café Paris, encontro de poetas paranasianos niteroienses liderados pelos sonetistas Luiz Leitão e Nestor Tangerini, tem sido estudada por um grupo de abnegados, mas sua produção literária ainda não foi devidamente estudada.





Sobre o poeta fluminense, Tangerini nos conta, ainda, que “Alberto era muito mais poeta do que farmacêutico. Uma tarde, passando Catulo, jovem candidato a poeta, cabotino, pelo nosso Príncipe da Lira, assim o cumprimentou, convencido:



- Boa tarde, colega.



Alberto respondeu-lhe apenas com ligeiro movimento de cabeça e perguntou, sisudo, para a pessoa com quem conversava:



- O Catulo é farmacêutico?”





Foi-se 2007. Por que a mídia “oficial” não se lembrou dos 70 anos da morte do poeta fluminense e Acadêmico Alberto de Oliveira?



UM PLÁGIO

Na década de 1920, em Niterói, até então capital do Estado do Rio de Janeiro, um importante movimento literário, liderado por Luiz Leitão, Nestor Tangerini, Mazzini Rubano, René de Madeiros, Apollo Martins, Gomes Filho, Luiz de Gonzaga, Mayrink, Brasil dos Reis, Olavo Bastos, Oscar Mangeon, entre outros, agitava a vida intelectual da cidade fundada pelo Cacique Araribóia, a “Cobra da tempestade”.

Segundo Lyad de Almeida, autor do livro “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói & Niterói, poesia e saudade”, Editora Niterói Livros, 1996, “O Café Paris, ou, para sermos mais precisos, o Hotel Café e Restaurante Paris, estava localizado na Rua Visconde do Rio Branco, no 417”, no centro de Niterói.



...

Em 1926, o poeta niteroiense Luiz Leitão, mais conhecido como Lili Leitão, lançava seu primeiro livro de sonetos satíricos chamado Vida Apertada, no qual continha o soneto Elas, que viria a ser plagiado por um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira: João de Barro, o Braguinha.

Nestor Tangerini, meu pai, entre nós, em casa, sempre nos falava da “Roda do Paris” e sobre o bem humorado e irreverente Luiz Leitão, e comentava sobre este plágio.



Vejamos o soneto:



“ELAS





Eu amava a Lalá sinceramente,



Com tanto ardor que quase enlouqueci.



Depois, quis a Lelé, pura, inocente,



Que deixei pela graça da Lili.





Mas, por uma Loló, de olhar ardente,



Dos encantos daquela me esqueci.



Mais tarde, amo a Lulu, que a muita gente



Fez perder a razão como eu perdi.









E assim, foram-se todas as donzelas,



Hoje, só resta uma lembrança delas,



Que me torna tristonho e jururu.





Foram-se todas, foram-se, deixando



Meu coração, baixinho, soletrando



Lalá, Lelé, Lili, Loló, Lulu...”





O soneto Elas, - escrevo novamente - de Luiz Leitão, foi publicado em folheto da peça Tudo pelo Brasil, de Luiz Leitão e Nestor Tangerini, levada à cena no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro, 1935, e republicado, 1947 por Nestor Tangerini, na revista O Espeto, Rio de Janeiro, 15 de abril de 1947, pág. 7.





Para que o leitor do Polegar possa fazer a comparação, publicamos, abaixo, a letra da canção Lalá, de autoria de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro, registrada e editada, em 1935, pela Editora Musical Magione:





“LALÁ





Amei Lalá,



Mas foi Lelé quem me deixou jururu.



Lili foi má,



Agora só quero Lulu.





Eu ando agora tão só...



Não tenho Lalá,



Lelé, Lili,



E não encontro Lulu!...



Não tenho Lalá,



Lelé, Lili, Loló.





Teu coração oh! Lulu...



É uma prisão,



Um alçapão,



Onde eu caí sem querer;



Dele eu não quero fugir,



Se um dia eu sair,



Eu sei que vou morrer!”





Fã de Braguinha, custei um pouco a assimilar e digerir esta triste história. Enviei o soneto para o odiado José Ramos Tinhorão, um dos maiores críticos musicais do Brasil. Dias depois, telefonei-lhe e perguntei se Lalá era realmente plágio de Elas. Ele também ficou surpreso, não conhecia o soneto de Luiz Leitão. E me respondeu:



- Sim, é plágio.



Luiz Antônio Gondim Leitão nasceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, a 25 de janeiro de 1890, e faleceu, na mesma cidade, às 14 horas do dia 15 de junho de 1936.



Ao saber da morte do amigo, Nestor Tangerini, presta-lhe, com humor, sua última homenagem:





“Quando ele à cova baixou,



pleno de cana e de graça,



um verme aos outros gritou:



- moçada, temos cachaça”.



















































A SINCERA AMIZADE ENTRE LUIZ LEITÃO E NESTOR TANGERINI





O Canastrão, periódico niteroiense especializao em críticas teatrais, como se sabe, tinha o poeta e teatrólogo Nestor tangerini como Diretor Principal e Rubano Sobrinho como Gerente. Mas abria espaço, também, para a poesia.



No exemplar de 7 de julho de 1928, que contém críticas a Jardel Jércolis e Procópio Ferreira, com caricatura cubista de Procópio, feita por Tangerini, o soneto “É... brio”, de Lili Leitão é publicado ao lado do soneto “D. Boa”, de Nestor Tangerini, na p. 6.



Nessa época, Lili comandava o jornal O Almofadinha, que também publicava sonetos do amigo Nestor Tangerini. Os dois, portanto, eram amigos e ajudavam-se mutuamente.



Vejamos, pois, os sonetos da inseparável dupla de poetas humoristas:





“É... brio





Zeca era um chuva, e dos intransigente:



Bebia sempre, sempre... (São manias...),



Para se refrescar, nas noites quentes,



E para se aquecer nas, nas noites frias.





Certa vez, a pedido dos parentes,



Tentou regenerar-se, e, muitos dias,



Passou bebendo coisas diferentes:



Solda, refresco... e outras perfumarias.





Hoje, de novo, o Zeca anda bebido,



Entornando o seu velho “mata-bicho”.



Mas, agora, diz ele, convencido:





- Bebo por um dever de humanidade,



Para comemorar o meu capricho



E a minha grande força de vontade...”





Autor: Luiz Leitão



...







“D. Boa





Dssa, que passa por aí, senhores,



De olhos “flecheiros” e assombroso porte,



É a Salomé de minha terra – a morte,



O cadafalso dos conquistadores.





Dizem que, numa noite de esplendores,



Essa, que inflama à gelidez mais forte,



Até S. Pedro não livrou da norte



De n´Assembleia estrebuchar de amores...





Julgais, talvez, ser isto zombaria?



Eu vos direi que não; pois, certo dia,



Em que ela entrou numa igreja, onde apareço,





Vi o reverendo todo esbodegado!



E o Cristo ouvi gritar, crucificado:



- Vai-se embora, “seu” diabo, eu sou de gesso.”





Autor: Nestor Tangerini.





Provavelmente, o soneto “É... Brio” faz parte do desparecido – e procurado – livro de sonetos Comidas Brabas, de Luiz Leitão, cujo prefácio – hilariante e magistral – foi escrito por seu amigo Frebônio, pseudônimo de Nestor Tangerini.



Lili – diz um grupo – fez uma tiragem muito reduzida do livro e vendeu-o de mão em mão, entre amigos, no Café Paris; outros, porém, afirmam que Comidas Brabas foi visto numa pasta de Luiz Leitão e não chegou a ser vendido.



Onde estaria o Comidas Brabas? Na mão de bibliófilos? Ou perdido para sempre?



Para nós, estudiosos do Movimento Literário do Café Paris, uma coisa é certa: havia uma amizade sincera entre Lili Leitão e Tangerini e entre todos os parisienses. Que isto nos sirva de exemplo, uma vez que dentro do meio literário brasileiro reina a inveja, a concorrência e a destruição do outro.











A POESIA SATÍRICA DE LILI LEITÃO





A poesia satírica em Língua Portuguesa não se esgotou. Ela continuou viva após Bocage, Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga [Cartas Chilenas] e Luís Gama, aquele poeta negro vendido pelo próprio pai como escravo.



Outros poetas, mesmo românticos, simbolistas ou modernistas, como Fagundes Varela, Cruz e Sousa, Oswald de Andrade e Bananére, dentro de suas escolas, escreveram poesias satíricas.



Quero falar especificamente de Luiz Antônio Gondim Leitão, “mais conhecido por Lili Leitão, boêmio, jornalista, teatrólogo, humorista e poeta”, “nascido em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1890” (1), amigo de outro poeta satírico, Nestor Tangerini, e sua verve humorística.



Está muito certo Alberto Valle quando diz que Lili Leitão é o maior poeta satírico fluminense.



Há que se fazer, no Brasil, ou em Portugal, um sério estudo sobre a poesia satírica em Língua Portuguesa, desde as cantigas satíricas, de escárnio e maldizer - “os primeiros textos escritos em galego-português foram poesias”(2) -, surgida nos séculos XI e XII, passando pelo neoclássico português Bocage e o barroco baiano Gregório de Matos, até desembocar em Lili Leitão e Nestor Tangerini, essencialmente satíricos.



Satirizando a si próprio (soneto Uma tragédia), Lili satiriza, também, o funcionário público (sonetos O Ponto ou O Lápis), o meio em que vive, criticando os costumes, a hipocrisia, o preconceito, a decadência da sociedade (Noivado Caro) de seu tempo e o adultério - ou o mal comportamento das damas (Desilusão, Marido exemplar, 9o. Mandamento e No escuro).



Aproximo-o, por isso, dos cantadores de escárnio medievais, indiretos em seus versos satíricos.



Isso o difere de seu amigo Nestor Tangerini, meu pai, paulista-fluminense, mais identificado com as cantigas de maldizer, com suas sátiras diretas e duras críticas ao adultério, ao amor interesseiro e o uso de palavras carregadas de erotismo e duplo sentido.



Nestor Tangerini, leitor de Bocage e Gregório, e Lili Leitão, sonetistas satíricos, seguidores, porém, da escola parnasiana de Alberto de Oliveira, Raimundo Correa e Olavo Bilac, eram, sem dúvida, a linha de frente do famoso Café Paris; os outros poetas, porém, também fluentes e tão nobres quanto eles, seguiam a escola parnasiana simplesmente - ou simbolista de formato parnasiano -, como René Medeiros, Mazzini Rubano, Apollo Martins, Oscar Mangeon, Olavo Bastos, Varon, Gomes Filho ou Luiz de Gonzaga.



Niterói concentrou um núcleo de poetas pouco interessados na Escola Modernista, que abolia a rima e a métrica. Por isso, a poesia de Luiz Leitão e de outros poetas do Café Paris deveria ser estudada com detalhes, uma vez que, aqui, houve uma resistência ao Modernismo de Mário e Oswald de Andrade.



Poderíamos estudar esses “rapazes” e incluí-los nas Antologias Nacionais. Eles podem ser chamados de Neoparnasianos ou o seguimento satírico do sério e sisudo Parnasianismo. Ou ainda como uma transição entre o Parnasianismo e o Modernismo, uma vez que o conteúdo de alguns sonetos de Lili Leitão e Tangerini têm evidentes semelhanças com a verve satírica do Modernismo de 1922.



Muita coisa, enfim, pode ser feita. Um trabalho pode ser desenvolvido pelos jovens estudantes de Literatura, como o diálogo entre duas pessoas ou consigo mesmo dentro de um soneto.



O Café Paris foi o maior movimento literário do Estado do Rio de Janeiro, e ainda não mereceu um estudo acurado. Kleber de Sá Carvalho, Lyad de Almeida, Luiz Antônio Pimentel, Wanderlino Teixeira Leite Neto, Luiz Augusto Erthal, Sandro Pereira Rebel e Alberto Vale, entre outros abnegados, vêm tentando nos fazer crer, através de jornais fluminenses, o quanto é importante rever esses textos.



Ressalto, aqui, a importância de Carlinhos Mônaco, que, como eu, guardou textos e manuscritos do saudoso e legendário Café Paris. Carlinhos tem me incentivado a prosseguir nesta viagem através do tempo, em busca da História Literária de Niterói e de nosso Estado do Rio de Janeiro: a nossa identidade.



Lili Leitão, que faleceu em Niterói em 15 de julho de 1936, é uma lenda viva em Niterói. Seu livro de sonetos Vida Apertada, de 1926, livro de cabeceira de meu saudoso pai, circula ainda entre alguns fãs, intelectuais e estudiosos de sua obra ou do Café Paris.



Conversando, um dia desses, com Carlinhos Mônaco, segredei-lhe que gostaria de relançar Vida Apertada com um estudo mais aprofundado. Sempre gentil, Carlinhos me pede que converse com Roberto Kahlmeyer Mertens, pois o professor também havia pensado a mesma coisa.



Conversamos – Roberto e eu – e o pesquisador me sugeriu que me juntasse a ele nesta empreitada, pedindo-me um texto para o relançamento de Vida Apertada, que é dedicado aos amigos “parisienses”.



Através deste texto, pouco elaborado e sofisticado, expresso todo o meu carinho e o carinho de meu pai pelo grande poeta Luiz Leitão.



É uma honra, para mim, estar neste livro de Lili Leitão, amigo de meu pai e um dos maiores nomes da poesia satírica em Língua Portuguesa.





(1) Lili Leitão, o poeta de Niterói, Vale, Alberto Editora Icaraí, Niterói, RJ, 1988.



(2) Literatura Portuguesa da Idade Média a Fernando Pessoa, De Nicola, José, Editora Scipione, 3a. Edição, São Paulo, SP, 1993.











































































NITERÓI E FRAGMENTOS DO CAFÉ PARIS



Meu amigo Carlinhos Mônaco, proprietário da Livraria Ideal, na Rua Visconde Itaboraí, no centro de Niterói, além de reunir todo sábado, pela manhã, um bom número de intelectuais fluminenses, no Calçadão da Cultura, tem uma caixa contendo parte da produção da turma do legendário Café Paris.



Encontrei ali manuscritos de Luiz Leitão e Nestor Tangerini, entre livros de Brasil dos Reis, Leitão, Olavo Bastos, Apollo Martins, entre outros, e jornais da década de 1920, com a produção dos poetas niteroienses.



Destaco, nesta crônica, um soneto satírico de Nestor Tangerini, meu pai, publicado no jornal O Almofadinha, de Luiz Leitão, Ano XIV – Reinado de Momo, no, 14, p. 1. Niterói, RJ, 25, 27 e 28 de fevereiro de 1933, com o pseudônimo Pastaciúta.



“VOCAÇÃO





Era-lhe toda a ansiedade



Formar-se de qualquer jeito:



Cursar uma Faculdade

De Medicina ou Direito.





Mas em contraste e em verdade,



Havia, nesse sujeito,



Uma virtude: a vontade,



E a negligência: um defeito.





Fracassou em Medicina



E em Direito – triste sina!



Foram fracassos falais!





E as “faculdades” perdendo,



Coitado! Acabou sofrendo



Das faculdades mentais.”





O grande achado – o referido soneto era por mim desconhecido – agora faz parte do livro HUMORADAS... – SONETOS SATÍRICOS DE NESTOR TANGERINI, que, há anos, venho tentando publicar.



Nascido em Piracicaba, SP, a 23 de julho de 1895, e falecido no Rio de Janeiro, a 30 de janeiro de 1966, o humorista Nestor Tambourindeguy Tangerini, escrevia com vários pseudônimos [Pastaciúta, Dom T, T, Tau, Bergamota, Conselheiro Armando Graça, Álvaro A. Moreyra, Conselheiro XX Mirim, Humberto dos Campos, Lau de Lino Freire, João da Ponte, Malba Taclan, Madame Xaveco, João do Paris, Benedito Mergo Lião, João de Niterói, entre outros] e deixou crônicas, sonetos, trovas, esquetes e caricaturas espalhados em jornais do Rio e de Niterói.



Luto incansavelmente para preservar sua memória e sua obra e reunir todo o material deixado pelo artista.

































































ERRAR É HUMANO





Em 1996, publiquei um livro de sonetos, Dona Felicidade, de meu pai, Nestor Tangerini, pela Editora Achiamé, do Rio de Janeiro.



Hoje, 22.08.2007, descubro, ao ler o “Álbum Cine Literário Éden”, Niterói, RJ, 1928, que o belíssimo soneto Profissão de fé não é de Nestor Tangerini, mas, sim, de R. L. Varon.



Varon, poeta niteroiense, foi membro da Roda do Café Paris, da qual faziam parte Nestor Tangerini, Lili Leitão, Mazzini Rubano, Olavo Bastos, Mayrink, Apollo Martins, Luiz de Gonzaga, René de Medeiros, Brasil dos Reis, entre outros.





Meu pai recomendava aos três filhos:



“ - Sejam honestos como eu sempre fui.”





Cumprindo um pedido do velho Tangerini, publico, nesta crônica, o referido soneto de Varon, de quem não tenho informação alguma, até o presente momento, como prova de minha honestidade.





Ei-lo:





PROFISSÃO DE FÉ





Pelo meu sonho, a Vida!, até o momento extremo



embora me apedreje a multidão abjeta



aqueles que não vêem esse clarão supremo,



que ilumina e requeima um cérebro de Poeta...





E, portanto, bendigo o Ideal, a que me algemo...



Não abala o temor da destruição completa...



se acaso choro e rezo e maldigo e blasfemo,



é conquistando em tudo a desejada meta...





E, se um dia tombar na ânsia que me devora,



seja altivo e enroupado em visões que não domo



bradando “hurrah”!, na voz que a garganta estertora.





E, martelando a Idéia, onde o esforço não medra,



morro – vencido, sim – mas vigoroso como



um mineiro e esmagar-se entre blocos de pedra!





Republico este soneto porque devo uma satisfação a Niterói, a seu povo e aos pesquisadores da história literária da cidade fundada pelo Cacique Araribóia.



O soneto Profissão de fé foi publicado no jornal Nova Gazeta - Semanário, Coluna: Literária, pág. 8, Ano XIII – no. 630, Montijo, Portugal, sexta-feira, 23 de agosto de 2002, e novamente publicado no mesmo jornal, Coluna: Versejando..., pág. 10, Ano XIV, no 656, Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003, como sendo de Nestor Tangerini.



“Errar é humano”, diz o velho ditado, e o cronista que vos escreve já está enviando este texto para o jornal português, para que o periódico faça a devida correção.



























































MAZZINI RUBANO





No dia 1o. de maio de 1928, o jornalista e poeta niteroiense Mazzini Rubano lançava seu “poemeto” cômico A costela que me falta, composto nas Oficinas Gráficas da Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói.



Dedicado “À memória de Olavo Bastos, Jones Olivieri, Narciso Siqueira e Mário Neves”, A costela que me falta, que tinha ilustrações de Jefferson, anunciava, na orelha do livro, as próximas obras do autor, “Algazarra de chamas” e “Sapatinho Chinês”, que, provavelmente, devem estar perdidas para sempre.



Membro da Roda Literária do Café Paris, liderada pelos sonetistas satíricos Lili Leitão e Nestor Tangerini, Mazzini Rubano, nascido em Niterói, por volta de 1910 – era o mais jovem dos “parisienses” - , deixou alguns trabalhos publicados em jornais e revistas de sua cidade, como o magnífico soneto “A mulher e o pecado”, publicado, em 1928, no álbum do Cine-Teatro Éden, propriedade do também poeta Oscar Mangeon.



Eis o soneto:





A MULHER E O PECADO





A mulher e o pecado – a razão soberana



Do morrer e nascer, de subida em subida,



Na triunfal ascensão dessa escalada insana,



Pelo Tabor da morte, à Terra Prometida.





A mulher e o pecado. A existência profana



Fez Magdala chorar, e ficou redimida!



Paira, acima do sol da inteligência humana,



O Evangelho do amor, que é a gênese da vida!





Ah! Se toda mulher, que a si própria se encanta,



Com a glória de ser mãe, que o ventre seu encerra,



Só depois de pecar é que se torna santa,





Cem mil vezes bendito o infernal fogaréu



Do pecado, a inflamar o lodaçal da terra...



Satanás trabalhando ao serviço do céu!





Segundo o escritor e jornalista niteroiense Emmanuel de Macedo Soares, autor de muitos artigos sobre o legendário Café Paris e do livro Cronologia Niteroiense, vol. 28, pág 161, “Em 1930” Mazzini Rubano “deixou a redação de A Cidade e retirou-se para Belo Horizonte, acometido de um câncer que o conduziu à depressão e ao suicídio”, “em 9 de setembro de 1936”,



O jovem Mazzini, diz Macedo Soares, “colaborou em quase todos os jornais niteroienses, onde ficou dispersa toda a sua produção literária”.



O “parisiense” Nestor Tangerini, amigo de Mazzini Rubano, dizia para nós, em casa, que o soneto “A mulher e o pecado”, o preferido do piracicabano, deveria dar ao poeta niteroiense a chance de pertencer a uma Academia de Letras.























































LUIZ LEITÃO, O POETA DA ÁGUA ESCONDIDA

O poeta Luiz Antônio Gondim Leitão Leitão, o Lili Leitão, nascido em Niterói, RJ, a 25 de janeiro de 1890, e falecido na mesma cidade, a 4 de junho de 1936, deixou uma série de sonetos espalhados em revistas e jornais da cidade fundada pelo Cacique Arariboia. E escreveu-os com diversos pseudônimos: o mais conhecido é Bacorinho.



Muitas vezes Lili nem assinou os sonetos-propaganda que escreveu, o que dificulta o nosso estudo.



Seu trabalho poético poderia ser encontrado em muitos jornais como O Prélio [direção de Brasil dos Reis], O Almofadinha [direção do poeta] e O Canastrão [direção de Nestor Tangerini], se estes jornais não tivessem se perdido para sempre.



O livreiro Carlos Silvestre Mônaco, um dos estudiosos da Roda do Café Paris, possui uns dois ou três exemplares – xerografados - do jornal O Almofadinha. E é lá que encontramos alguns sonetos humorísticos da lavra do poeta de Niterói, com o famoso pseudônimo.



Mexendo em papeis velhos, quase apodrecidos, deixados por meu pai, Nestor Tangerini, amicíssimo de Lili, eis que encontro dois sonetos deste fabuloso poeta fluminense: SORRISO QUE ENTRISTECE [sem seu nome e sem pseudônimo] e POR UM TRIZ, publicados no jornal O Almofadinha, anos 1920 [não é possível precisar a data]. Este último, com o pseudônimo Manoel da Beira Alta:









“SORRISO QUE ENTRISTECE





Criatura amada, por quem me desvelo,



Tua epiderme é mais branca do que espuma!



Talhada por divino camartelo,



Igual a ti não há mulher nenhuma!



A boca, os olhos, o nariz, em suma

Todo o teu rosto é a perfeição do belo,



Quando estás séria... Mas, sorrindo, és de uma



Fealdade, contra a qual eu me rebelo!





Quando sorris, ó minha doce amada,



A expressão do teu rosto é de quem chora



Porque mostras a boca desdentada!





E o meu desejo, então, é te mandar



Fazer uma visita, sem demora,



À ASSISTÊNCIA DENTÁRIA POPULAR!”





&





“POR UM TRIZ





Era o meu ai Jesus, meu bom bocado,



Uma mulata suco, da pontinha,



Uma cabrocha como me convinha,



Como convém a todo namorado.





E fiquei de tal forma apaixonado,



Amei com tanto ardor a mulatinha,



Que ultimamente, magro, pela espinha,



Já não dava mais conta do recado.





Preguei. Muito abatido, muito fraco,



Quase, meu Deus, que fui para o buraco...



A mulata deixou-me moribundo.





Hoje, porém, bem forte, bem sadio,



Graças ao CARÓGENO, desafio



A todas as mulatas deste mundo...”





Nós, que fazemos uma verdadeira varredura dos textos poéticos do maior poeta satírico fluminense, não podemos esmorecer. Quem sabe um dia publicamos, pela Nitpress, uma Antologia [completa e definitiva] do poeta da água escondida, acrescentada ao livro VIDA APERTADA, publicado em 1926 e reeditado por esta editora em 2009? Lanço aqui uma idéia: criemos um “Ciclo de Estudos Luiz Leitão”, para, juntos, pormos a mão nesta massa – poética, é claro.

















































DEPOIS DO CAFÉ...









































O CUCO E O PLÁGIO

Em 1933, os poetas e teatrólogos Nestor Tangerini e Luiz Leitão escrevem juntos a revista Tudo Pelo Brasil, encenada no Teatro João Caetano, no centro do Rio.



Um dos esquetes da referida peça tem sido apresentado na televisão, sem que os humoristas citem os nomes dos autores.



Como os esquetes de Tudo Pelo Brasil foram perdidos [roídos pelas traças, pelos cupins, pelos camundongos e desmancharam-se com o tempo], faço um breve resumo do texto supra citado:





“Marido e esposa estão sentados no sofá da sala. Ele lê o seu jornal, enquanto ela tricota. Em dado momento, entra a sogra, que vem de um outro cômodo da casa. Passa por debaixo de um arco e o relógio, um cuco, na parede, quase lhe cai sobre a cabeça e esfacela-se no chão.



A esposa, indignada, nervosa, diz ao marido:





- Querido, por pouco o relógio não cai na cabeça de mamãe.



E o marido, sem tirar os olhos das letras, responde-lhe:



- Este relógio anda sempre atrasado.”





Muitos esquetes e sonetos de Nestor Tangerini vêm sendo plagiados por “inspirados” humoristas, que se acham os “donos da cocada preta”. Nada lhes acontece. Certos da impunidade, dizem que não posso provar que este ou aquele texto era de meu pai.



Faz já muito tempo, um humorista brasileiro transformou um soneto, “No Candomblé”, de Nestor Tangerini, publicado nas revistas Royal-Revista, Niterói, RJ, julho de 1924 e Ilustração Fluminense, Niterói, RJ, 1928, e no Jornal do Comércio / Suplemento JC, p. 1, Manaus, AM, domingo, 1/3/1987, em piada, num programa de televisão. Enviei cartas à apresentadora. Não me respondeu. Procurei a SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, da qual meu pai era sócio. E o cidadão, arrogante e audacioso, responde-me – em “português ruim”:





- Parece que o seu problema é dinheiro.



Respondo-lhe:



- Não, não é dinheiro, Sr. Humorista. O texto é de meu pai, Nestor Tangerini; não é seu, e o senhor tem de respeitar o autor.





Eis o soneto:





“Começam-se os “trabalhos”. E a Chandoca,



viuvinha suculenta e vaporosa,



ao médium se chegando, fervorosa,



o espírito de seu defunto invoca.





Ao som de uma cantiga langorosa,



estrebucha o “aparelho”, se desloca;



e Cornélio, baixinho, a terra toca,



a dizer qualquer coisa em voz nervosa.





Fala a viuvinha, em tom mavioso, terno:



- Como te demoraste!... Estás no Inferno?...



- Inferno lá por cima?! Isso é irrisório...





- Então és bem feliz... – Mais que contigo.



- É tão sublime o Paraíso, amigo?



- Não sei, Chandoca, estou no Purgatório”.







Sozinho, venho tentando salvar a obra e a memória de meu pai. Muitos têm elogiado meu denodado esforço, como o escritor Renato Vivacqua. Não consigo espaço nesta mídia obtusa para denunciar o que vem acontecendo: plágios, sumiço de esquetes e matérias e biografias com erros que prejudicam Nestor Tangerini.



O mais lamentável de tudo é que tenho parentes na mídia e que poderiam me abrir as portas. Parentes que nada fazem para que este quadro se reverta. Orgulhosos e pedantes – o sucesso modificou a personalidade dessas pessoas que estão mais preocupadas com o próprio umbigo e com o dinheiro que ganham.

























TANGERINI E O ABACAXI





Mesmo não tendo a vista direita e o braço esquerdo, o sempre bem humorado escritor Nestor Tangerini costumava fazer humor de tudo – até com amigos, a esposa ou consigo mesmo.



“O rei do doublé-sent”, como o humorista era chamado, estava conversando, certa vez, com familiares, em sua casa, em Olaria, quando, de repente, faz brincadeira com a sua maior fã:





“Falávamos sobre o gosto pelas frutas, quando Dona Dinah toma a palavra:



- Nunca vi gostar tanto de abacaxi como Tangerini.



E Tangerini, sempre brincalhão com a esposa:



- Gosto tanto de abacaxi, que me casei.”





Nos Correios, Tangerini também mexia com todos. Sempre brincalhão, o poeta costumava chamá-los para tomar uma rubiácia, ou seja, um café, no bar da esquina.



Um amigo seu, de repartição, não escapou da gozação:





“O colega vivia sempre de “caveira cheia”. Um dia, porém, foi trabalhar sem haver tomado uma gota de álcool. E, como espirasse ininterruptamente, vira para Tangerini e diz:



- Estou com uma gripe danada!



E Tangerini, com a maior naturalidade:



- Quem manda você beber água?”





A um outro que vivia sempre “enforcado”, ou melhor, sem dinheiro, Tangerini chamou de “Tiradentes”.





Lembrando dos velhos tempos de boemia do Café Paris, ao lado dos amigos Luiz Leitão, Brasil dos Reis, René Descartes de Medeiros, Mazzini Rubano, Olavo Bastos, Luiz de Gonzaga, Apollo Martins, entre outros, Tangerini comentava:





“No tempo em que dez mil réis era dinheiro (dava para vinte chopes), Tangerini, quando liso, recorria a um médico, seu amigo e boêmio como ele, e escrevia um bilhete como este:







“Receita, doutor Filgueiras,



ao Tangerini, que é pobre



e sofre das algibeiras



dez de sulfato de cobre”.





Tangerini comentava, e isto chegou a ser publicado na revista Música & Letra, Coluna “Coisas que encabulam”, do compositor Aldo Cabral, que, uma vez, encontrando-se na rua com seu ex-professor de matemática, fez troça de si mesmo.



Ao vê-lo sem o braço esquerdo e a vista direita, o velho mestre, entre impressionado e comovido, perguntou-lhe:



- O que foi que aconteceu contigo, Tangerini?



E Tangerini:



- Caro mestre, isto é o que chamo de redução à unidade.





Quando o mau humor ou o desânimo rondam minha porta, lembro-me de meu velho pai, que jamais se deixou levar pelas adversidades da vida.



Talvez, dentro de seu peito morasse a tristeza, por ter sofrido dois desastres fatais. Artista de refinado humor, jamais deixou transparecer, para a esposa e os filhos, a dor que, possivelmente, vivia com dele.



Pouco antes de partir, Tangerini agradeceu à sua esposa pela companhia e por tudo o que ela fizera por ele, dizendo:



- Você merecia muito mais do que eu pude lhe dar.



Para a espirituosa e sempre sorridente Dinah [Marzullo] Tangerini, ex-atriz, o marido, pai e amigo lhe deu tudo: amor, três filhos, poesia [que ela vivia recitando para nós, em casa] e o humor, uma constante em sua vida.

























ANARQUIA NA GRAMÁTICA? SIM, OBRIGADO!

Nelson Marzullo Tangerini





Todo e qualquer acordo ortográfico acaba causando irritação em alguns usuários da língua.



A língua sempre existiu e sempre existirá no plano oral, independente da escrita [uma convenção], que foi inventada pelos fenícios e aperfeiçoada pelos gregos, para tentar representar o som da fala.



O que se tentou, em 2009, queiram ou não, foi aproximar o Brasil de todos os países da Língua Portuguesa, a chamada Comunidade Lusófona: Portugal, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste.



Assim como existe a Comunidade Lusófona, cantada em samba, verso e prosa por Martinho da Vila no cd Lusofonia, existem também as Comunidades Francófonas [países de língua francesa] e Anglófonas [países de língua inglesa].



O acordo ortográfico que entrou em vigor na década de 1940, por exemplo, deixou o professor Nestor Tangerini, indignado – mas não mal humorado. E fê-lo escrever, com o pseudônimo DOM T., um hilariante poema, publicado na revista O ESPETO, Rio de Janeiro, 15 de setembro de 1947, sobre o assunto:





“ONTEM E HOJE





No meu tempo, uma senhora



se vestia por inteiro;



sim, não era como agora,



neste Rio de Janeiro.





Hoje em dia, não se zanga



o marido, se, na rua,



a mulher anda de tanga,



ou, na praia, quase nua.





No cinema, uma donzela



que estivesse a nosso lado,



resistia ao que na tela



fosse vendo interpretado.





Porém hoje, a senhorita



junto a nós, ali no escuro,



nos agarra vendo a fita,



e nos beija até, no duro.





Essa Boa, toda prosa,



cujo corpo é um violão,



que aí está toda orgulhosa,



por saber-se um pancadão,





pequenina, sentou tanto



no meu colo, entre os pais!



Hoje em dia, aqui, no entanto,



ela já não senta mais.





Até mesmo a ortografia,



de sofrer transformações,



acabou numa “Anarquia”,



numa escrita de senões.





Hoje só se escreve assim,



sem acento: BOA, SOA;



porém BOA, para mim,



sem “acento”, não é BOA...”





A palavra Anarquia, muitas vezes mal empregada - como sinônimo de bagunça e falta de ordem -, significa, na verdade, para os anarquistas, uma doutrina que prega uma nova ordem: os homens governariam a si próprios, não aceitariam governantes e o estado, e todas as fronteiras e religiões seriam abolidas. Uma nova pedagogia seria proposta, a Pedagogia Libertária: racional, sem religião, sem o ranço autoritário e sem idolatria de qualquer espécie – política ou religiosa. Acreditam os anarquistas que os governos, com auxílio das religiões e das leis burguesas e estatais, é que promovem o caos: a bagunça e a desordem, que causam a fome e o desnivelamento social. Qualquer fanatismo religioso ou político seria abolido.



Quem dera tivéssemos uma anarquia na Gramática. Assim, teríamos uma gramática mais libertária, menos elitista e burocrática. Porque a língua culta ou formal ainda serve para políticos espertalhões – religiosos, de esquerda e de direita - enganarem e explorarem o povo, falante da norma informal, favorecendo-se, assim, da bagunça e da desordem que vêm promovendo com a proteção estatal e religiosa até os dias atuais.





Amigo e fã incondicional de José Oiticica, o também gramático Nestor Tangerini escrevia crônicas para a revista O Espeto, na qual tirava dúvidas de língua portuguesa, usando sua conhecida verve, com o pseudônimo José Oitiçoca.































































SOGRA TAMBÉM É MÃE

Nelson Marzullo Tangerini





É antiga a guerra genro x sogra ou nora x sogra. Porque de dois males, no seu entender, dificilmente a gente se livra na vida: coqueluche e casamento, calculou Nestor Tangerini um dos maiores sonetistas satíricos da Língua Portuguesa, que, quando menos esperasse, estaria casado. Por isso, e não compreendendo “como uma sogra pode ser mãe”, o solteirão resolveu antegozar a morte de sua “futura megera”. O soneto “Ano-Bom”, publicado 10 anos antes de conhecer sua futura esposa, a bela atriz de teatro Dinah Marzullo, filha da também atriz – de teatro , cinema, rádio e televisão – Antônia Marzullo, foi publicado no jornal O Fluminense, Niterói, RJ, no dia 1 de janeiro de 1927. Ei-lo:





“Sou à janela, à meia-noite, à espera



de que surja o Ano-Novo ao meu olhar...



Nos fundos, lá num quarto, uma “pantera”



aguarda a morte, que a não vem buscar.





Risonho, alegre como a Primavera,



o Ano-Novo se mostra, a rebrilhar,



nas estrelas de um céu azul-quimera



que nos promete um Ano-Bom sem par.





.........................................................................





Já me havia esquecido a moribunda,



quando uma choradeira desmedida,



se faz ouvir, em grande barafunda!





Falecia-me a sogra... Mais ninguém...



- Pela primeira vez, na minha vida,



um Ano-Bom me começava bem.”







Conhecidamente gozador, Tangerini, antevendo sua sogra em cima de uma mesa, escreveria, mais tarde, uma trova devastadora:







“Qual doce pombinha mansa,



deitada aqui muito bem,



a minha sogra descansa



e o genro dela, também.”





Antônia, claro, riu a valer da brincadeira. Até porque Nestor Tangerini e Antônia eram muito amigos. E fãs um do outro. Todos eram muito unidos e amigos: Antônia, José, Dinah, Tangerini, Dinorah, Pêra, Maurício, Netinha e crianças. Todos eram artistas e se admiravam mutuamente.



Muitos, porém, achavam estranho haver um Tangerini e um Pêra numa só família.



A revista de humor e sátira carioca O Espêto, de Nestor Tangerini, Aldo Cabral, Lourival Reis [o Prof. Zé Bacurau] e Maurício Marzullo (cunhado de Tangerini), 15 de abril de 1947, em sua coluna “A sociedade n´O espeto / Noivados”, página 6, faz uma piadinha com Tangerini, Pêra e Antônia, criando, para ela, uma terceira filha:





“A atriz Antônia Marzullo, sogra do ator Manuel Pêra e de Nestor Tangerini, acaba de dar a mão de sua filha Iara ao Dr. Joaquim Pimenta.



Parabéns à distinta atriz, pelo progresso em sua quitanda...”.





Fã de Antônia Marzullo, Nestor Tangerini escreveria, em 1938, antes, portanto, do seu casamento com Dinah, um belo soneto para Antônia, que partira com a Cia. Palmeirim Silva rumo a São Paulo e Rio Grande do Sul:









“À ANTÔNIA MARZULLO





Boa amiga Marzullo, meus saudares.



Conforme já lhe disse, certo dia,



a minha pena é a pena mais vazia



em matéria de cartas familiares.





Mas, como prometi lhe escreveria,



quando de cá se foi para outros ares,



eis que hoje cumpro, em linhas chãs, vulgares,



a promessa que há muito lhe devia.







Aqui vão todos bem: eu, a Bolinha,



etc., e o Maurício, sempre afoito,



correndo para a casa da Netinha.





Sem mais, com mil abraços, ponho um “fine”.



Rio, sete de abril de trinta e oito.



Nestor Tambourindeguy Tangerini”.





Nestor, Dinah, Antônia, José e Pêra, fotógrafo da família, se foram, mas nos deixaram, fotografados ou escritos, momentos de poesia e rara beleza.































































A MILENAR SABEDORIA CHINESA



E A MALANDRAGEM BRASILEIRA







Não é de hoje que o ser humano mais perverso tenta “se dar bem” em cima do ingênuo – ou melhor, do otário.



Revirando papeis de meu saudoso pai, Nestor Tangerini, encontrei a interessante anotação, feita na década de 1940, quando o escritor morava com sua esposa, minha mãe, no bairro de Olaria, subúrbio da Cidade do Rio de Janeiro.





“Debruçada no muro do jardim, a vizinha – chinesa – ensina a Dona Dinah, esposa de Tangerini, que, na China, antes de ser pôr o leite para ferver, banha-se o interior da vasilha com água fria, a fim de o leite não grudar no fundo.



E Tangerini, que está perto e ouve a lição:



- Mas aqui nós não precisamos disso: o leiteiro já pôs água no leite.”





Esta formidável anotação, que poderia ter sido transformada em crônica, à época, me fez lembrar de um episódio recente, quando uma corja de salafrários resolveu adulterar leite e queijo fabricados em Minas Gerais, distribuindo-os no Estado de São Paulo, através da firma Parmalat e Longa Vida, pouco se importando com a vida humana.



A amizade entre D. Dinah e a chinesa acabaram por desviar-me das intenções desta crônica e fazer homenagem aos chineses: econômicos em sorrisos e palavras.



Quem se lembra, nos tempos atuais, quando tudo é “fast-food” e descartável, dos ensinamentos e ditados da milenar sabedoria chinesa é tachado de velhaco, de intelectual de meia tigela, de bobalhão, de museu ambulante de frases.



Não me importo com isto, com esses espíritos desprovidos de conhecimento e sensibilidade. Num mundo americanizado – ou globalizado -, gosto de ser diferente e sacar do meu “arquivo” alguns antigos provérbios chineses. E vêm-me, agora, à mente, dois deles:





“Quem trabalha com lenha, acaba com farpas nas mãos”.







Ou



“Aquele que procura vingança deve cavar dois túmulos”.





Mas eu gostaria de voltar ao Brasil, “terra de heróis e tribunos, de cinqüenta mil gatunos” - como diria Nestor Tangerini na poesia Bombas –, da malandragem, da Lei do Gérson:



“Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”



Errado.



Sem educação, sem espírito de solidariedade e humanidade, será difícil o Brasil caminhar para a frente, em direção ao Primeiro Mundo.



Ser esperto, desonesto, ludibriar o próximo, passar a perna no otário é a “filosofia” do momento. E muitos políticos continuam com esta mentalidade. Alguns deles estão aí, utilizando o Cartão Corporativo, gastando o dinheiro público.



O caso dos laticínios me fez adulterar – de modo geral – um velho ditado popular e dizer, ironicamente, que “Não adianta chorar o leite adulterado”. Plagiando o Exmo. Sr. Ministro da cultura Gilberto Gil, “Não chores mais”. Até porque é difícil, neste país, os endinheirados irem presos. É hora de agir! Tirem esses corruptos do poder. Não votem mais neles.





[Crônica escrita quando Gilberto Gil era Ministro da Cultura]





















































ACONTECIMENTOS...





Nelson Marzullo Tangerini





Amiga de Antônia Marzullo, sogra do escritor Nestor Tangerini, de Antonietta Saturno Marzullo e do ator Manuel Pêra, Dercy Gonçalves costumava, na década de 30, século XX, ir sempre à casa da atriz, nos finais de semana, para jogar baralho com um seleto grupo de artistas: Maurício, Dinah e Dinorah Marzullo (filhos de Antônia), Jaime Costa, Aracy Cortes, Mesquitinha, Alda Garrido, Sílvio Caldas, entre outros.



Dinah Marzullo Tangerini, minha mãe, que trabalhou na Companhia Alda Garrido, ao lado de minha avó e da irmã, costumava nos contar que a casa ficava sempre cheia e animada.



Contava Dinah que Dercy sempre foi uma pessoa espevitada – com um “fino vocabulário”, o que causava, em alguns, um certo espanto.



...





A centenária Dercy, como sabemos, trabalhou em duas peças de Nestor Tangerini, meu pai: em Quem será o tutu? [de parceria com De Chocolat], 1936, e No tabuleiro da baiana, 1937.



...





No final da década de 40, resolve Nestor Tangerini, através da coluna O teatro no Espeto, da revista de humor e sátira O Espeto, Rio, 15 de abril de 1947, Ano I, no. 1, ps. 10 e 11, fazer uma brincadeira com a irreverente atriz:





“Certa senhora, já velha, riquíssima, muito beata e cheia de escrúpulos, anunciara precisar de uma dama de companhia. Pagava regiamente e tratava como pessoa da família.



Dercy Gonçalves leu o anúncio e apresentou-se.



- Onde você já serviu, minha filha? – indagou a milionária.



E Dercy, muito ingênua:



- Era dama de companhia... de revistas...



A velha benzeu-se”.





A revista O Espeto durou pouco: até o início de 1948. Mas faria, em toda a sua trajetória, diversas brincadeiras com diretores teatrais e atores da época, como o ator Jaime Costa, primo de José Pinto da Costa, que viria a se casar em segundas núpcias com Antônia Marzullo:



Dessa mesma coluna ainda tiramos uma troça com o ator português:





“Nelma Costa, Cora Costa e Álvaro Costa não estão mais na Companhia Jaime Costa?



Não. Jaime Costa diz que de Costas bastam Arlindo Costa e Ademar Costa, que ele está doido para ver pelas costas...



É, chega de tantos Costas encostados nas costas do Jaime Costa...”





...





Mexendo em anotações de Nestor Tangerini, encontro um pequeno e interessante texto manuscrito – de sua autoria – [provavelmente da década de 40] e jamais elaborado para uma possível publicação:





“A doméstica Benvinda de Campos abandonou o lar, fugindo com um soldado da polícia. Ao esposo, deixou o seguinte bilhete:



‘De acordo com as leis, ninguém pode resistir à polícia’ ”.









































UM CABIDE HISTÓRICO



Minha ex, Tânia [nome fictício da tresloucada criatura], jogou fora um cabide de 1937 que pertenceu à minha mãe, Dinah Marzullo, quando ela trabalhou com a mãe, Antônia Marzullo, e a irmã, Dinorah Marzullo, na Companhia Teatral de Alda Garrido.



O referido cabide, de madeira e gancho de arame, à moda antiga, que foi de seu camarim, estava escrito - com sua letra: Dinah Marzullo. Ele tinha uma valor histórico e inestimável para ela – e para mim -, pois foi em 1937 que ela conheceu meu pai, Nestor Tangerini, 21 anos mais velho que ela.



Encantado, apaixonado, Nestor Tangerini escreveu poesias, trovas e um acróstico de amor para a graciosa atriz.



Eis alguns:





“A vida já quis perdê-la,



e hoje a quero prolongar;



encontrei a minha estrela



na noite to teu olhar”.





“Vou vê-la... (já estou ansioso)



logo mais... Estou frenético!



- Que relógio vagaroso,



Apesar de ser elétrico!”





“Deus, artista, em seu louvor,



Imaginou, satisfeito,



No teu vulto, obra-primor,



Assim fazendo um perfeito



Hino de sonho e de amor”.





Além de ter jogado o cabide fora, Tânia, que tinha ciúmes doentios de minha falecida mãe, também jogou fora coisas minhas; inclusive, uma camiseta que mandara fazer com uma foto de Dinah – feita por mim.



Tentou, ainda, destruir uma sólida amizade entre dois irmãos.



Nós, artistas, não somos seres sobrenaturais, não viemos de um distante e especial planeta; somos criaturas que amam parentes, amigos, nossos cães ou gatos, uma vez que somos dotados de sensibilidade e delicadeza, muito embora a sensibilidade e a delicadeza não sejam atributos exclusivos dos artistas. Porque há artistas que são extremamente grosseiros, mesmo que mostrem o contrário através da mídia. Somos seres mortais, comuns, ainda que o dom artístico tenha caído como um raio na cabeça deste ou daquele ser.



Amei minha mãe porque ela amou meu pai e amou seus filhos – meus irmãos e eu.



Dinah esteve a seu lado após o desastre de ônibus de 1940, quando Nestor Tangerini perdeu o braço esquerdo. A atriz da Companhia Alda Garrido, que tinha uma promissora carreira no teatro, abandonou tudo para dar atenção ao marido mutilado e ao filho, Nirton, que acabara de nascer.



Vieram mais outros dois: Nirson e Nelson. E Dinah jamais se deixou abater, jamais deixou que Nestor perdesse o seu leme.



Foram quase 40 anos de viuvez. Orgulhava-se de Nestor Tangerini. Depois que meu pai se foi, em 1966, ela recitava para nós as poesias de meu pai. Cantava para nós a valsa Dona Felicidade, de Benedito Lacerda e Nestor Tangerini. E suspirava: “- Seu pai foi grande! E nunca foi reconhecido”.



Nunca fomos ricos. Herdei apenas 1/3 de uma casa em Piedade, cartazes de teatro, fotografias de parentes e amigos e textos datilografados e manuscritos de meu pai; material que foi guardado com muito amor e cuidado por ela.



Nos quatro meses em que ela esteve entre o hospital e a clínica geriátrica, recitava-lhe poesias de meu pai e cantava para ela. Ela me acompanhava recitando ou cantando.



Conversamos pela última vez no dia 15 de outubro de 2005. Estava muito mal, entre a vida e a morte no leito do Hospital Badin, na Tijuca. Meu irmão mais velho me disse que ela não reconhecia mais ninguém. Não queria acreditar. Dirigi-me a seu leito.



- Quem sou eu? - perguntei-lhe.



Baixinho, ela me respondeu:



- Nelson Marzullo Tangerini.



E prosseguiu:



- Fala comigo.



Entendi perfeitamente o que ela queria: que eu recitasse os versos de meu pai para ela. Recitei e ela me acompanhou, declamando-os baixinho.



Fiz uma pausa. E ela me disse o que jamais vou me esquecer:



- Sou apaixonada por você.



Naquela dia, à noite, ela entraria em coma para nunca mais voltar. Encontrar-se-ia com meu pai no dia 22.



Parceiro em tantas canções, o amigo de adolescência e maturidade – e hoje companheiro no Clube dos Escritores Piracicaba -, o irmão Nelson Maia Schocair, talentoso professor, compositor e poeta, tentando minimizar a minha dor, envia-me um e-mail confortador: “Sua mãe, agora, está valsando Dona Felicidade com seu pai”.



Por que muitas mulheres não conseguem entender o amor entre mãe e filho e filho e mãe?



Em meio à tristeza, à dor, à solidão, uni-me à pessoa errada. Isto sói acontecer em todas as melhores famílias da Inglaterra e do Brasil.



Se alguém, porventura, encontrar o cabide com o nome Dinah Marzullo, por favor, devolva-mo.



































































CENAS DO RIO ANTIGO

O título desta crônica deveria ser “Dois sonetos e duas mulheres – nada sérias”. Pensei bem. Mudei de ideia. As feministas acabariam por me crucificar. Os tempos mudaram. A mulheres conquistaram seu espaço, tornaram-se independentes, donas de seus narizes, de suas vidas. E eu não tenho nada contra esta luta. Não sou machista. Quis mostrar apenas a mentalidade de uma época, em que a mulher tinha de ser “recatada”, e focalizar dois retratos de “cenas” urbanas: duas situações, duas “paqueras”, dois diálogos – em plena rua -, trazidos para dentro de um soneto.



Hábil humorista e sonetista, Nestor Tangerini surge no início da década de 1920, como poeta, através de “uma pequena ajuda” de seu amigo Humberto de Campos, o Conselheiro XX, que publica seu soneto Cenas do Rio, na revista literária A Maçã, no dia 18 de março de 1922 - um mês após ser deflagrada a Semana de Arte Moderna de 22.



O soneto, modernista em seu conteúdo, por causa do humor, da sátira, apresenta formato parnasiano e malícia realista – mais precisamente machadiana: a mulher perde sua aura de ingenuidade, afastando-se, assim, da mulher idealizada pelos românticos.



Leiamos o soneto:





“Certa dama estava em paz,



no ponto, esperando o bonde,



quando se chega um rapaz,



a quem, zangada, responde:





Deixe-se, moço, de graça!



Insiste o moço: - Onde mora?...



- Meus Deus! Que horror! Que desgraça!



Se vem meu marido agora!...





E a dama, que o caso teme,



diz-lhe, logo, ansiosamente:



- “Me” deixe... Moro no Leme...





Me deixe!... Sou dona Ivete...



Moro à rua São Vicente...



“Me” deixe... No trinta e sete..”.





A moça é casada. Mas o rapaz é interessante. Ela olhou para os lados. O marido não estava “na área”. E ela foi logo dizendo-lhe onde morava.



Nunca citada pelos românticos, a traição só foi mesmo abordada pelos realistas – em língua portuguesa, por Machado de Assis e Eça de Queirós.





Em Mulher Séria, outro soneto de formato parnasiano, publicado no jornal A Capital, Niterói, RJ, 5/1/1926, Nestor Tangerini apresenta-nos uma “viúva, porém honesta” deliciosa, ainda triste, digna de um conto de Nelson Rodrigues, louca para cair no laço do cafajeste Adaltinho. E por que não? Seu nome é Hespéria. Ela é mesmo séria. Irrita-se com ele, por julgá-la caloteira, e confirma que o esperará no local marcado. Onde? O poeta não ouviu bem, por causa das buzinas e do burburinho da rua.



Vejamos:





“Encontram-se na Avenida,



ele chique e ela um pedaço,



o Adaltinho bela vida

e a viuvinha do Melgaço.





Olhos meigos, rasos dágua ,



Voz terníssima, singela,



A chorar mágoa por mágoa,



Ele vai pra cima dela.





Marca um ponto (não sei onde).



E ele insiste. E dona Hespéria,



Ofendendo-se, responde:





Que pensa, senhor Adalto?



Eu sou mulher muito séria!



Quando prometo, não falto!...”





Mostrei-lhes dois retratos e uma época: 1920. Mostra-nos o poeta, meio parnasiano, meio realista, meio modernista, que a mulher foi, aos poucos, conquistando o seu espaço e o seu direito de ser sexualmente feliz. Escolher um parceiro para um relacionamento momentâneo, para “ficar”, era uma coisa impensável. Ela era vista como “perdida”. Pensemos se algo realmente mudou no quartel de Abrantes.



As meninas de hoje lindamente “ficam”, mas ainda são chamadas de “cachorras” e de “potrancas”.



Os homens mudaram? Não mudaram. Eles têm medo da mulher. Têm mais medo agora, que ela conquistou seu espaço e está dando um show de bola nos homens.







































































DERCY GONÇALVES E TANGERINI





A centenária Dercy Gonçalves trabalhou em duas peças de Nestor Tangerini: em Quem será o tutu [de parceria com De Chocolat] e na terceira montagem de No tabuleiro da baiana [sem Jardel Jércolis].



É o que provam os documentos que estão em minha casa: cartazes das peças, programas, esquetes manuscritos e anotações de meu pai.



Na primeira montagem da peça No tabuleiro da baiana, em 1936, a atriz Dinorah Marzullo, minha tia, esposa do grande ator português Manuel Pêra e mãe das atrizes Marília e Sandra Pêra, fazia parte do elenco.



Na segunda montagem, em 1937, com sucesso absoluto em São Paulo, Grande Otelo e Déo Maia eram estrelas do espetáculo.



A peça voltou a ser montada pela terceira vez. E, desta vez, sem a direção do empresário Jardel Jércolis. Dercy Gonçalves brilhava no palco do Teatro Pavilhão Floriano, interpretando a mulata Francelina.



Há anos venho tentando provar que os esquetes de No tabuleiro da baiana foram escritos por meu pai, Nestor Tangerini, e que Jardel era um empresário teatral – de grande peso, diga-se de passagem. A imprensa do Rio não me ouve, não quer me ouvir. Prefere continuar errando. Publicam que a peça era de Jardel Jércolis, o que me deixa revoltado.



No dia 20 de maio de 2005, um domingo, encontrei-me com Dercy na Feira Internacional do Livro, no Riocentro. Ela estava autografando seu livro biográfico, editado pela Universidade Estácio. Um livro, aliás, que contém erros, porque não cita Quem será o tatu e No tabuleiro da baiana. Parece mais um livro de afogadilho.



Estive na Universidade Estácio, tentei manter contato com o autor. Levei-lhes provas. Nenhuma atenção me deram.



Conhecidamente encrenqueiro e chato, levei os cartazes das duas peças para o dia da noite de autógrafos. Em dado momento, aproximei-me de Dercy e mostrei para todos os dois cartazes.



Dercy, espantada, perguntou-me:



- Você ainda tem isto?



Disse-lhe:



- Sim, sou filho de Nestor Tangerini e neto de Antônia Marzullo.



Imediatamente, Dercy me perguntou se eu era filho da Dinah ou da Dinorah.



Disse-lhe que era filho da Dinah.



E Dercy prosseguiu:



- Conheci seu pai. Fiquei chocada, quando ele perdeu o braço esquerdo naquele desastre de ônibus. Sua avó, Antônia Marzullo, era minha amiga. Jogávamos buraco na casa dela.



Perguntou sobre minha mãe e eu lhe disse que Dinah estava muito doente, muito mal, internada no Hospital Badin, na Tijuca, com Mal de Alzheimer.



- Dinah era uma mulher muito bonita – continuou a atriz - ; diz-lhe que estimo suas melhoras e que mandei um abraço.



Naquele instante, pedi à Dercry que autografasse os dois cartazes, o que Dercy fez prontamente.



Beijei-a, enquanto uma infinidade de máquinas nos fotografavam: Dercy, eu e os cartazes.



Não era – e não é – intenção minha aparecer ou virar notícia – como dizem alguns detratores. A minha intenção era – e é - conseguir um espaço para corrigir imprensa, jornalistas e biógrafos do teatro brasileiro.



Sou filho de Nestor Tangerini e, creio, tenho o direito de falar, de defender a obra e a memória de meu pai.



Após retirar-me, jornalistas me procuravam para prestar maiores informações a respeito dos dois cartazes e das duas peças.



Onde estão as fotos? As matérias foram publicadas?



Infelizmente, o livro biográfico de Dercy continua circulando sem qualquer referência a Nestor Tangerini, a Quem será o tutu e No tabuleiro da baiana e a Antônia Marzullo, sua amiga, levando informações erradas a futuras gerações.



Farto material do teatro brasileiro, principalmente do Teatro de Revista, está em minha casa.



Gostaria que a imprensa brasileira fosse menos arrogante e me procurasse para corrigirmos erros que não podem continuar acontecendo.





















DESPEDIDA DE ALDO CABRAL

Nelson Marzullo Tangerini





Vi Aldo Cabral, amigo de meu pai, Nestor Tangerini, pela última vez, andando com muita dificuldade pelas ruas do Engenho Novo, subúrbio do Rio de Janeiro.



Eu ia de ônibus para o meu pós-graduação em Lingüística na UFRJ, na Ilha do Fundão.



Pensei em saltar do ônibus e ajudá-lo, mas, conhecendo bem Cabral, duvido que ele admitisse a minha ajuda. Era um homem forte, turrão, de não entregar os pontos.



Não demoraria muito, e ele viria a falecer, em 5 de julho de 1994.



Ver Cabral naquela situação causou-me uma profunda tristeza. E foi justamente naquele momento que me lembrei de uma época de ouro da MPB, de seu trabalho intelectual na SBAT, União Brasileira de Autores Teatrais, ou na UBC, União Brasileira de Compositores, do Teatro de Revista e das tardes de sábado – ou domingo –, quando aparecia em minha casa com os três filhos: Rita, Aldinho e Regina.



Meu pai e ele passavam horas e horas conversando na varanda ou na sala sobre o mundo da música ou do teatro e sobre a política e a vida pessoal.



Enquanto isto, seus filhos e eu brincávamos no quintal de nossa casa, em Piedade, colhendo amoras e goiabas no pé.



Antônio Guimarães Cabral, mais conhecido como Aldo Cabral, é um grande nome da Música Popular Brasileira e foi parceiro de Benedito Lacerda, Ataulfo Alves, Cícero Nunes, Herivelto Martins, Nestor Tangerini, Castor Vargas, entre outros.



Deixou gravadas belíssimas e primorosas canções e é lamentável que hoje esteja esquecido.



Uma de suas músicas, Mensagem, de parceria com Cícero Nunes, gravada por Isaurinha Garcia, ainda faz sucesso entre nós.



Não faz muito tempo, esta canção, que já foi propaganda da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ECT, foi regravada por Maria Bethânia, que pôs o português Fernando Pessoa no samba. Bethânia, grande cantora e declamadora, abre Mensagem ao meio e introduz, na canção, o poema Cartas de amor, do poeta lisboeta.



Muitas canções de Aldo Cabral ficaram para sempre na História de nossa música, como Despedida de Mangueira, Santos Dumont, Dois Amigos, Amigo Leal, Amigo Infiel, Boneca, Bom-dia, Pra fazer você chorar (com Carmem Miranda), entre tantas outras.



Seria impossível, numa crônica, falar de todo o talento de Aldo Cabral.



Era tão perfeccionista – gostava da linguagem culta -, que puxava a orelha de quem mudasse ou cantasse errado aquilo que havia escrito.



Regina Cabral, profissional da área de Turismo, filha mais nova de Aldo e da bela morena Fleury, contou-me que, certa vez, estava trabalhando num hotel de Lisboa, quando, pela primeira vez, ouviu a versão de Bethânia.



Regina deixou o serviço de lado para dar especial atenção à canção. E começou a chorar.



Uma funcionária do hotel, portuguesa, aproximou-se dela e perguntou-lhe por que estava a chorar. No que Regina respondeu:



- Esta música é do meu pai.



É interessante como, em fração de segundos, uma pessoa viaja mentalmente de Lisboa e revive seus bons momentos ao lado dos pais, no Engenho Novo.



Há muito gostaria de oferecer a Aldo Cabral esta singela homenagem, em forma de crônica. Logo após a morte de meu pai, em 30 de janeiro de 1966, o amigo - que se tornou meu amigo, também - escreveu um belíssimo necrológico para o Boletim da UBC. Modesto e discreto como era, não o assinou. Soube, depois, que ele era o autor do texto.



Aldo Cabral, que não gostava de ser fotografado, entrevistado ou reconhecido na rua, merecia uma homenagem em cd. O momento é oportuno. Ou teremos de aturar esta mídia que quer nos emburrecer e torturar com músicas idiotas?





































A VOZ GALANTE DE RONALDO LUPO

Nelson Marzullo Tangerini





Quem liga para o número telefônico de Ronaldo Lupo, ainda ouve a voz do Cantor Galante, do compositor de grandes sucessos, do pianista talentoso, do violonista virtuoso e do cineasta sempre inspirado e humorado.



Conheci Ronaldo pessoalmente. Era amigo de Nestor Tambourindeguy Tangerini, meu pai. Com ele escreveu as canções Manon, Não me convém, Vou desistir de namorar, entre outras, e textos humorísticos para a Rádio Clube do Rio de Janeiro, na década de 40 do século passado.



Lupo tinha uma grande ligação com minha família. Quando podia, visitava-nos em nossa casa no distante, longínquo bairro suburbano de Piedade. Minha avó materna, Antônia Marzullo, atriz de rádio [Rádio Nacional], cinema, teatro e televisão, mãe do advogado e poeta Maurício Marzullo, meu tio, e das atrizes Dinah, minha mãe, e Dinorah Marzullo, minha tia, trabalhou em seu filme As aventuras de Chico Valente.



Estive com Ronaldo Lopovici, filho de judeus romenos, em 1999, em sua casa de Saquarema, Estado do Rio de Janeiro, onde se refugiou, quando eu escrevia o livro Perfil quase perdido – Uma biografia para Nestor Tangerini.



O artista insistiu tanto que eu fosse visitá-lo, que acabei aceitando o convite. Sempre conversávamos por telefone. quando cheguei a Saquarema, numa bela tarde ensolarada de verão, Ronaldo – o mesmo Ronaldo Lupo de sempre – elegante, alegre, sorridente, bem humorado e gentil – me esperava em seu carro na rodoviária e me levaria até sua casa, onde fiquei hospedado e tive mordomias de chefe de estado.



Naquele final de semana, caminhamos juntos pela praia, passeamos de carro, visitei seu ranário e testemunhei o amor com que tratava seus cães e os cães da rua.



O amor e o carinho por Alice Alves, namorada eterna, sua primeira e única paixão, eram ainda os mesmos do início de suas vidas.



Na piscina, conversamos sobre os grandes artistas do passado e do presente – Ataulfo Alves, Grande Otelo, Nat King Cole, Cole Porter, Ray Charles, Rubinstein, Dercy Gonçalves – nacionais e internacionais – e, ali, me confessava sua grande admiração por Nestor Tangerini.



Lembrei-lhe um fato do qual ele já não se recordava mais: o velocípide que ele me deu de presente quando fiz 5 anos de idade. Aliás, o melhor, o mais forte e mais bonito velocípide que tive em minha infância. Lembro-me ainda do presentão dentro de seu carro, uma caminhonete, se não me falha a memória.



Quando me enviou seu cd, gravado aos 91 anos, o que levou Affonso Romano de Sant´Anna a escrever-lhe uma belíssima crônica, publicada no jornal Estado de Minas, Ronaldo me disse que gostaria de gravar outro, com músicas que escreveu de parceria com meu pai. Mas veio a morte de Alice, que muito o abalou. Viriam a tristeza, a saudade da esposa, e a coração de Ronaldo silenciou para sempre.



Ronaldo Lupo nos deixou no dia 18 de agosto último. Sabia, por Renée Lupovici, sua irmã e fã, que ele estava numa cadeira de rodas. Mas achei que A voz galante ainda driblaria mais esse obstáculo.



Posteriormente, soube de sua morte através de uma nota publicada num jornal do Rio. Dias depois, uma biografia sua, escrita pela própria irmã, seria publicada na imprensa, uma vez que nenhum jornalista se lembrou de escrever alguma coisa sobre o grande artista.



Liguei para sua residência de Saquarema, Renée estava no Rio. Liguei, então, para a de Laranjeiras. Ouvi sua voz na secretária eletrônica e, emocionado, deixei-lhe um recado:



- Ronaldo, que bom ouvir a sua voz!



Renée me telefonou, dias depois, e, juntos, falamos de nossas mágoas.



“ - Meu irmão foi esquecido! Ele não merecia isto! Amava este país! Ele deu seu sangue pelo cinema e pela música do Brasil! Ninguém me telefonou! Tive de pôr uma biografia sua no jornal, para que não caísse em esquecimento! – me confessou em prantos e revoltada. E completou: “- Ele gostava muito de seu pai, tinha uma grande admiração por ele!”.



Ronaldo Lupo não deixou apenas uma voz gravada numa secretária eletrônica, deixou filmes, discos, um cd, músicas gravadas por artistas diversos.



No momento em que minha mãe, Dinah Marzullo Tangerini, ex-atriz da Cia Alda Garrido, 88 anos, amiga de sua querida Alice, com Mal de Alzheimer e tumor cerebral, também se despede lentamente deste país ingrato e sem memória, deixo aqui meu depoimento, lembrando frase sua, que retiro de seu cd Para os amigos: “Ninguém é tão velho, que não possa realizar seu sonho”.



Agradecido, Ronaldo Lupo!





Texto escrito em agosto de 2005, antes do falecimento de Dinah Marzullo Tangerini [*1.6.1917 - + 22.10.2005].





O POETA OLEGÁRIO MARIANO

Poeta de rara sensibilidade, Olegário Mariano, hoje esquecido e pouco estudado, é autor de Conselho de Amigo, um belíssimo soneto, criado a partir da fábula “A cigarra e a formiga”: versos que guardei em um de meus cadernos de anotações:







“Cigarra! Levo a ouvir-te o dia inteiro,



gosto da tua frívola cantiga,



mas vou dar-te um conselho, rapariga:



trata de abastecer o teu celeiro.





Trabalha, segue o exemplo da formiga.



Aí vem o inverno, as chuvas, o nevoeiro,



e tu, não tendo um pouso hospitaleiro,



pedirás... E é bem triste ser mendiga.





E ela, ouvido os conselhos que eu lhe dava



(Quem dá conselhos sempre se consome...)



continuava cantando... Continuava...





Parece que no canto ela dizia:



se eu deixar de cantar, morro de fome....



que a cantiga é o meu pão de cada dia”.









Admirador confesso do filólogo e temido anarquista José Oiticica, o humorista Nestor Tangerini cria, no final da década de 40, o pseudônimo José Oitiçoca.



Este personagem engraçado aparece, enfim, na revista de humor e sátira O Espeto, fundada por Tangerini e amigos – Lourival Reis (o radialista Prof. Zé Bacurau), Ieda Reis, o cunhado Maurício Marzullo (advogado e poeta), Abel (caricaturista), entre outros, tirando dúvidas gramaticais de leitores fictícios.



Neste texto, publicado na referida revista, Ano 1, no. 6, p. 7, Rio de Janeiro, dezembro de 1947, ele relata um episódio – talvez verídico – que aconteceu com o poeta e amigo Olegário Mariano:





“J. Amoroso (Distrito Federal) – A palavra “amante” tanto é sinônimo de “amásio, amásia”, como significa “apreciador, apreciadora”.



Convém, no entanto, evitar o emprego do termo no segundo sentido, quando tratamos com pessoa de pouca instrução, e isso a fim de evitar aconteça o que se deu, certa vez, com o jovem Olegário Mariano.



Era seu conhecido um negociante de secos e molhados, cuja esposa se dedicava às letras, ao descaso do marido, que não entendia nada “daquilo”. Apresentado, uma tarde, no armazém, à respeitável senhora, com quem mantivera longa palestra, enquanto “seu” Manuel despachava a freguesia – o distinto vate, finda a boa prosa, dirigiu-se ao comerciante e reclamou:



Como o senhor é egoísta, “seu” Manuel! Por que não me apresentou sua esposa há mais tempo, e não me disse que ela era amante de Castro Alves e Machado de Assis?



O negociante sacou da gaveta o revólver e nunca um poeta correu tanto em sua vida...”





Olegário Mariano Carneiro da Cunha, poeta contemporâneo, nasceu no Recife, Pernambuco, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1958. Diplomata, foi Embaixador do Brasil em Portugal e membro da Academia Brasileira de Letras.



































ENTREVISTA COM NESTOR TANGERINI

Nelson Marzullo Tangerini





No início da década de 1950, o teatrólogo Nestor Tangerini, concede, enfim, uma entrevista a Milton Amaral, jornalista do periódico A Modinha, do Rio de Janeiro.



Quem conheceu o múltiplo artista, sabe muito bem o quanto era difícil entrevistá-lo ou fotografá-lo. Cítrico, Tangerini não gostava do culto à própria personalidade e não fazia questão de estar na mídia.



Simples, sincero e irreverente, o humorista fool-time - víamo-lo, muitas vezes, tirar da cartola verdadeiras pérolas de seu humor sadio -, preferia a companhia de pessoas humildes, de familiares e de amigos sinceros - do meio artístico ou dos correios.



Passemos, pois, à interessante entrevista.





“Nestor Tangerini, na simplicidade e na modéstia que lhe é peculiar, respondeu há dias, ao nosso interrogatório com um cunho de bom humorismo, sadio e admirável, o que, aliás, era de se esperar, em se tratando de um dos grandes mestres no assunto.



Tenho certeza de que o leitor de A Modinha vai ficar satisfeitíssimo, pois, atualmente ele é o rei da sátira e do “doublé-sans”. Tangerini, embora pouco se mostre em outras modalidades do seu talento, é ainda caricaturista, revistógrafo original, Bacharel em Direito e gramático de pulso.



Além das respostas ao presente questionário, A Modinha obteve do ilustre entrevistado um dos seus bem trabalhados sonetos – que abre esta coluna





MA: - Qual o traço predominante do seu caráter?





NT: - Não subir descendo.





MA: - Qual foi a sua maior produção de maior sucesso?





NT: - Cenas do Rio..., o tal soneto de uma Dona Ivete, que mora no 37, do qual se diz autor certo mocinho consagrado pelas suas habilidades...





MA: - Que pensa sobre as músicas populares atuais?





NT: - Que são bem plagiadas...





MA: - O que mais o alegra na vida de rádio?





NT: - Não ter um troço desse em casa...





MA: - Que pensa da crítica?





NT: - Não conheço essa mulher...





MA: - Qual a sua qualidade principal?





NT: - Passemos a diante...





MA: - O seu maior defeito?





NT: - Não cabe nestas linhas: é uma história muito comprida...





MA: - Não sendo artista, o que desejaria ser?





NT: - Um dos azes do nosso teatro de revista...





MA: - Qual a sua divisa?





NT: - Quem é bom não se mistura...





Exemplo de retidão para os três filhos, Nirton [biólogo], Nirson [físico] e Nelson [escritor], Nestor Tambourindeguy Tangerini jamais se misturou com plagiadores e falsos teatrólogos.

























CONVERSANDO NUM ÔNIBUS COM PEDRO CAETANO

O que me fez escrever esta crônica, que aí vai, foi uma viagem que fiz, em 2008, com um seleto grupo de professores do Colégio Antônio Houaiss, onde leciono, à cidade paulista de Bananal, quase na divisa com o Estado do Rio de Janeiro.



Destaquei-me um pouco do grupo e fui ter numa Casa de Cultura, onde fui atendido por um senhor, cujo nome esqueci, que me falou sobre o compositor Pedro Walde Caetano, natural daquela cidade quase fluminense, onde nasceu a 1 de fevereiro de 1911.



Num mural, no meio do salão, recortes de jornais sobre o ilustre filho da terra que viveu toda a sua vida no Rio de Janeiro.



Conheci Pedro Caetano, pessoalmente, certa vez. E conversei com ele, quando vinha para casa, no ônibus 606 – Engenho de Dentro – Rodoviária, Viação Matias. Acho que o compositor morava no Engenho de Dentro ou ali tinha negócios, uma vez que fomos conversando até ao final da linha.



Falei-lhe sobre meu pai, também compositor, e fiquei sabendo, então, por ele, que havia sido amigo de Nestor Tangerini, por quem tinha grande admiração.





“ - Conheci seu pai. Gosto muito da valsa Dona Felicidade, que ele compôs com Benedito Lacerda. Éramos membros da UBC. Foi essencialmente um autor de revistas e um grande poeta.”





Pedro Caetano, que já estudava piano desde cedo, mudou-se para o Rio aos 9 anos.



Aos 22 anos, fez seu primeiro samba “Foi uma pedra que rolou”, mas seu primeiro sucesso foi a valsa “Caprichos do destino”, com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante, gravada em 1938 por Orlando Silva.



Em 1942, o cantor Ciro Monteiro, que seria um de seus maiores intérpretes, gravou, na RCA Victor, seu choro “Botões de laranjeira”, e, no mesmo ano, Francisco Alves gravaria outro sucesso seu: o samba “Sandália de prata”, de parceria com Alcir Pires Vermelho.



Para o Carnaval de 1944, Pedro escreve, de parceria com Claudionor Cruz, a canção “Eu brinco” (ou “Com pandeiro ou sem padeiro”), que obteve grande êxito na voz de Francisco Alves, o Rei da Voz.



Em 1946, Ciro Monteiro volta a gravar outra obra sua, “O que se leva desta vida”, na RCA Victor, desta vez com acompanhamento do regional de Benedito Lacerda e do clarinetista K-Ximbinho. Este choro tornar-se-ia um dos clássicos do repertório de Ciro.



No Carnaval de 1947, Pedro Caetano lança outro samba de sucesso, “Onde estão os tamborins”, gravado pelo legendário conjunto Quatro Ases e um Coringa”



Era véspera do carnaval de 1946 e a Estação Primeira de Mangueira estava quieta, sem qualquer sinal de animação. Esta cena motivaria o compositor bananense a fazer “Onde estão os tamborins?”, samba em que reclamava do marasmo em que a escola vivia na ocasião, vivendo somente de glórias passadas. E reclamava, também, da ausência dos sambas do mestre Cartola, na época sumido do morro.



Lançado um ano depois, pelos Quatro Ases e Um Coringa, “Onde estão os tamborins?”, que poderia ser uma pergunta para os dias atuais, pois em nossa cidade reina a ditadura do funk, seria o grande samba do carnaval de 1947.



Em 1948, Pedro Caetano escreve “É com esse que eu vou”, gravado pelos Quatro Ases e Um Coringa, desta vez pela Odeon, e o samba torna-se destaque no Carnaval.



Para o Carnaval de 1961, Pedro lança a marchinha “Desta vez vamos”, satirizando o slogan de Ademar de Barros, então candidato à Presidência da República.



Seguindo nessa mesma linha, o compositor escreve, para o Carnaval de 1955, a marcha “Todo mundo enche”, de parceria com Alexandre Dias Filho, canção que ironizava a atuação enérgica do então diretor de trânsito do Rio de Janeiro, Coronel Américo Fontenelle.



Com o velho companheiro Claudionor Cruz, escreve em 1968, a marcha “Jambete sensação”, que foi uma das classificadas no concurso de Carnaval promovido pela Secretaria de Turismo no extinto Estado da Guanabara.



Pedro Caetano teve como parceiro mais frequente o compositor Claudionor Cruz, mas também escreveu obras primas de parceria com figuras ilustres, como Pixinguinha, Noel Rosa, Alcir Pires Vermelho e Valfrido Silva.



Embora fosse autor de mais de 400 composições, Pedro não fez da música a sua profissão, uma vez que sempre foi comerciante de calçados.



Aos 64 anos de idade, o compositor gravaria, na RCA Victor, um LP cantando suas próprias canções.



No dia 27 de junho de 1992, o modesto e inspirado compositor paulista aposentava sua pena, deixando, para as futuras gerações – mais para as pessoas dotadas de sensibilidade -, uma valiosa obra que ficará para sempre registrada na História de nosso cancioneiro popular.





Esta viagem a Bananal, promovida pela profa. Iacy, foi muito proveitosa para mim, porque, ao descobrir que Pedro Caetano havia nascido na cidade paulista de Bananal, pude me lembrar do meu encontro com o compositor dentro de um ônibus e escrever sobre ele.









[Para escrever este texto, plagiei os seguintes blogs:



http://www.collectors.com.br/CS07/cs07p01a.shtml



e



http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/onde-esto-os-tamborins.html ]



























































PASSAR A NOITE EM CLARO





Destinado pela profissão, deu certo viajante numa vila do Nordeste, já noite, e, a convite da luz vermelha de lanterna a lhe piscar de longe, foi ter ao albergue do lugar.



No transpor a soleira, estremeceu: em torno a grande mesa, joga bisca um estado maior dos cangaceiros...



Retroceder – seria tão arriscado quanto ficar ali.



Impôs-se calma, cumprimentou a todos em geral e ofereceu pinga, aceita e logo servida; bebeu-lhes à saúde e, valendo-se da canseira e sono, pediu licença para recolher.



...





Estava de azar o viajante.



Como entregar-se a Morfeu, se, além do que gravara da entrada, se encontrava agora alojado em divisão de tenebroso quarto, tendo por vizinho o chefe de bando sinistro?



Sem pregar olho, ouviu a radiotelegrafia dos galos... Foi quando, imediatamente, deu um jeitinho e raspou-se.



...





Contando-me este episódio da sua vida de “cometa”, concluiu o viajante:



- Naquela noite, em quarto cavernoso, com Lampião a meu lado, pela primeira e única vez encontrei justificativa para uma coisa que nunca pudera compreender: “passar a noite em claro no escuro”...



...





Ante a ironia do narrador para com a expressão das mais interessantes da língua, fiz-me de filólogo e dei-lhe uma lição, fazendo-o ver que passar a noite em claro era redução de passar a noite de claro em claro, de sol a sol.



E tratei de mudar de assunto, antes me viesse o gajo com outras expressões fora do que eu havia aprendido... (*)





(*) Publicada no jornal AAC Informativo,



Órgão Informativo da Associação Nacional de Aposentados dos Correios.



Ano VIII – N o 19, p. 4, Brasília, DF, 1O. trimestre de 2001.







AO PREZADO NELSON TANGERINI



Em setembro de 1980, iniciei uma pequena correspondência com o modernista Carlos Drummond de Andrade. A princípio, estava mais interessado em Mário de Andrade, em Oswald, em Manuel Bandeira e em assuntos ligados ao Modernismo. Nem me passou pela cabeça “tietar” o poeta itabirano. Sou desorganizado, um péssimo missivista, e não sei precisar o dia em que lhe escrevi minha primeira carta. Nem guardei cópia da referida missiva.



Sei apenas que enviei a Drummond alguns sonetos do meu pai e alguns poemas meus. Como não consigo lembrar-me dos meus poemas enviados ao “poeta maior”, publico apenas os dois sonetos de Nestor Tangerini, meu pai. “Cenas do Rio” foi o primeiro trabalho de Tangerini publicado em letra de forma e lançado por Humberto de Campos, a 18/3/1922, em centro de página da revista “A Maçã”, que o magnífico e saudoso Acadêmico e beletrista maranhense dirigia sob o pseudônimo de Conselheiro XX. O soneto, dedicado ao amigo Luiz Leitão, um poeta satírico de Niterói, RJ, mostra-nos claramente uma poesia parnasiana com intenções modernistas.





“CENAS DO RIO





Certa dama estava em paz



no ponto, esperando o bonde,



quando se chega um rapaz,



a quem, zangada, responde:





Deixe-se, moço, de graça!



Insiste o moço: - Onde mora?...



- Meu Deus! Que horror!



- Que desgraça! Se vem meu marido agora!...





E a dama, que o caso teme,



diz-lhe, logo, ansiosamente:



“Me” deixe... Moro no Leme...





“Me” deixe!... Sou dona Ivete...



moro à rua São Vicente...



- “Me” deixe... No trinta e sete...”





“QUANDO ELA PASSA





Quando Ela passa, de sombrinha clara,



essa da Moda, esplendorosa Estrela,



pára o automóvel, pára o bonde, pára



o mundo inteiro: todos querem vê-la..





E todo mundo, estático, escancara



os olhos grandes, que se aumentam pela



vontade de envolver-lhe a forma rara



num desejo malvado de comê-la...





E a deusa passa... E passa – indiferente,



sem medo de que o mundo se desabe...



bailando as curvas, desmanchando a gente...





E a gente fica a interrogar-se, à-toa,



como, em dois dedos de vestido, cabe



uma porção de tanta coisa boa!...”





Dias depois, sem que eu esperasse, uma cartinha de Carlos Drummond de Andrade repousava em minha caixa postal. Jamais pude imaginar que o poeta me escreveria. Não me contive. Ali mesmo, na Agência Central, Av. 1o. de Março, afoito, abri o envelope e li sua amável missiva:





“Rio, 28 de setembro, 1980.





Ao prezado Nelson Tangerini.



Com um abraço, meu agradecimento pela remessa de seus poemas e de alguns textos poéticos de seu pai, tão justamente lembrado pelo carinho filial.





Carlos Drummond de Andrade”.















CANÇÃO AMIGA





Em dezembro de 1980, pouco antes do Natal, enviei carta a Carlos Drummond de Andrade, pedindo-lhe escrevesse Alguma Poesia para mim e aproveitei o ensejo para enviar-lhe alguns cartões postais (da Revolução de 30) com caricaturas cubistas de meu pai.



O poeta maior não tardou a escrever-me. Sua missiva, escrita num cartão natalino, desejando-me 1) Bom Natal e 2) Feliz Ano Novo, trazia um desenho bico-de-pena de João Guimarães Vieira e um poema seu:





“Uma notícia irrompe desta árvore



e ganha o mundo: verde anúncio eterno.



Certo invisível pássaro presente



murmura uma esperança a teu ouvido.





Carlos Drummond de Andrade.”







Escrever poesia não é uma tarefa das mais fáceis. Poeta é aquele que luta arduamente com as palavras. Quem sai vitorioso, quem consegue transformar a ganga impura em arte poética pode considerar-se verdadeiramente um poeta. É preciso penetrar surdamente no reino das palavras.



Eu sabia disto, mas não queria acreditar. Elegante, o poeta me ensina:





“Perdoe, Nelson Tangerini, se ainda não fiz o poema que pediu. Mas nem sempre é fácil fazer uma poesia para atender a uma solicitação amiga. A poesia não tem hora para surgir, e às vezes não vem quando esperada. Um dia, ela chegando, não deixarei de pô-la no papel, para você.



Meu amigo Álvaro Cotrim (o caricaturista Álvarus) interessou-se muito pelos trabalhos de seu pai, que mostrei a ele. E gostaria de ter contato com você. Pode telefonar para... , chamando-o?



Os melhores votos e o abraço do



Carlos Drummond de Andrade”.









“Solicitação amiga”? então o poeta me considerava seu amigo? Passei algumas horas a meditar. Seria mesmo importante ganhar uma poesia do gauche de Itabira? A cartinha de Drummond, carregada de poesia, mais uma vez enchia-me de alegria e coragem para continuar lutando pelo reconhecimento dos trabalhos de meu saudoso e talentoso pai.



Telefonei para Álvarus. Apresentei-me como o filho do Nestor Tangerini. Combinamos um horário e uma data para a visita. Fui até sua casa, na Gávea, e o caricaturista, que foi também o maior colecionador de caricaturas da América do Sul, recebeu-me com muita atenção. Seus grandes bigodes me impressionaram. Cotrim já ouvira falar de Tangerini. Disse-me achar muito interessantes as suas caricaturas cubistas. Pretendia escrever algo para o Boletim da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Mas logo depois o artista faleceria e a crônica ficaria por ser escrita.



Acompanha esta crônica uma caricatura do “Gigante paraibano”, João Pessoa, feita por Nestor Tangerini:































































MOLIPPA CORACORALINAE





Descoberta por Carlos Drummond de Andrade, o Brasil inteiro, no início da década de 80, conheceria a poesia de Cora Coralina.



Meu irmão mais velho e eu ficamos deslumbrados com o mundo da poetisa goiana que ora se descortinava.



Uma mulher simples, doceira, oprimida por uma sociedade machista, que, mais tarde, viria a ser nome de borboleta: Mollippa coracoralinae. Foi esse o nome escolhido por Nirton Tangerini, biólogo, entomólogo e especialista em lepidóptera, ou seja, borboletas, para uma pequena mariposa encontrada em Jataí, no Estado de Goiás.



O trabalho do Prof. Tangerini inspirou o grande poeta e cronista Affonso Romano de Sant´Anna a escrever o belíssimo texto Cora Coralina, a borboleta, publicado no jornal Estado de Minas, em 2003.



Também o poeta jundiaiense Douglas Mondo [http://www.douglasmondo.com.br/poemas_poema56.asp] escreveria o poema “Coracoralinae” em homenagem a Tangerini e à poetisa:





“Há no ar uma esperança



pura e cristalina.



A poetisa virou borboleta

e voou livre



nas Tangerinas almas



de Nestor e Coralina”.





Enamorado pela poesia fluente de Cora, naquele momento escrevi a Drummond, pedindo me enviasse o endereço da poetisa.



Responde-me o poeta:





“Rio, 28 de janeiro, 1981.





Prezado Nelson Tangerini.





Cora Coralina mora na “Casa Velha da Ponte”, em Goiás, CEP. 76.600. Basta esta indicação: ela é muito conhecida lá.







Os cartões que você gentilmente me ofereceu, eu os passei ao Álvarus, em cujas mãos me parece que ficarão mais bem guardados. Ele tem uma biblioteca especializada maravilhosa, e é um historiador da caricatura brasileira. Assim, me parece que o nome de seu pai, como caricaturista, será melhor lembrado se aquele material for incluído no grande acervo desse meu amigo.



É muito louvável o seu propósito de lutar contra a poluição e em defesa dos valores humanos. Se muitos fizessem assim...



Cordialmente, o abraço de



Carlos Drummond de Andrade”.





Sobre a borboleta Molippa coracoraliane, leiamos a nota significativa da revista Ciência Hoje [setembro de 2003, p. 53]:





“ENTOMOLOGIA



NOVA ESPÉCIE DE MARIPOSA





A Molippa coracoralinae é uma nova espécie de mariposa brasileira pertencente à família das Saturnidae (subfamília Hemileucinae), que ocorre nas Américas. Seu nome específico é uma homenagem à poetisa goiana Cora Coralina (1889-1995), de quem o descobridor da espécie, o entomólogo Nirton Tangerini, era admirador.



Tangerini encontrou os espécimes durante uma viagem de coleta a Vera (MT), em 1973. No caminho, o grupo em que estava teve que pernoitar em um posto de gasolina em Jataí (GO). Foi lá que ele achou os três exemplares – todos machos – da M. coracoralinae. “Para mim, parecia ser uma espécie inédita, mas precisava confirmar”, conta o entomólogo. Para evitar uma demorado trabalho de busca bibliográfica, Tangerini optou por enviar uma foto a outro entomólogo, o francês Claude Lemaire, especialista na família Saturnidae. Lemaire confirmou que era uma espécie nova, mas a publicação da descrição só ocorreu recentemente, no livro The Saturnidae of Américas (As Saturnidae das Américas). O brasileiro explica que a demora deveu-se à tentativa de coletar exemplares fêmeas da espécie”.





Affonso Romano de Sant´Anna e Douglas Mondo concluem, portanto, que a poetisa, descoberta por Drummond, virou, enfim, borboleta.















A MEMÓRIA DE NESTOR TANGERINI





Filho de Vittorio Tangerini, italiano de Bolonha, engenheiro florestal e restaurador, e de Domingas Tambourideguy Tangerini, gaúcha de Bagé e filha de pais bascos de Baione, França, Nestor Tambourideguy Tangerini, poeta satírico, jornalista, escritor, compositor (de estilo cubista), teatrólogo, professor de português e ex-funcionário do antigo DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), nasceu a 23 de julho de 1895, em Piracicaba, Estado de São Paulo, e faleceu no Rio de Janeiro a 30 de janeiro de 1966.



Compôs inúmeras canções. Com o cantor galante, pianista e cineasta Ronaldo Lupo, compôs, entre outras, a valsa Manon. Com Benedito Lacerda, compôs Dona Felicidade, valsa gravada em 1937 por Castro Barbosa para o selo RCA Victor.



Na década de 20, freqüentava a roda intelectual do legendário Café Paris, em Niterói, então capital fluminense, na companhia de Luiz Leitão, Mazzini Rubano, Renê Descartes de Medeiros, Luiz de Gonzaga, Brasil dos Reis, Mayrink, Olavo Bastos, Gomes Filho e Apollo Martins, entre outros, e publicava, nos jornais da cidade fundada pelo Cacique Araribóia, crônicas e poesias com os pseudônimos João da Fonte (prevendo, talvez, a construção da Ponte Rio-Niterói), João do Paris, João de Niterói e Pataciuta.



Nessa época, o poeta residia na Alameda São Boaventura, bairro Fonseca, em Niterói.



Autor de Teatro de Revista, Tangerini escreveu inúmeras peças. Entre 1936 e 1937, escreve Estupenda!, Magnífica!, Na dura!, No Tabuleiro da Baiana e Gol! para a Companhia Teatral Jardel Jércolis [a imprensa carioca, maldosamente, tenta limar o nome de Nestor Tangerini da História do Teatro Brasileiro e insiste em citar somente o nome de Jardel, quando comentam essas obras].



Em suas peças – encenadas pela Cia. Jardel Jércolis ou por outras companhias teatrais – trabalharam Oscarito, Aracy Cortes, Dercy Gonçalves, Grande Otelo, Henriqueta Brieba, Walter Dávila, Antônia Marzullo (sua sogra) e Dinorah Marzullo (sua cunhada) [*], entre outros.



Em 1947, fundou, com o locutor Lourival Reis, o Professô Zé Bacurau, o caricaturista Abel, Iêda Reis e o compositor Aldo Cabral, com quem escreveu as peças Pra Deputado, Cadeia da sorte, Boa boca, Lição doméstica e esquetes para a TV Continental, a revista de humor e sátira O Espêto, onde publicava sonetos, trovas, poemas, crônicas, esquetes, caricaturas e monólogos com diversos pseudônimos – Dom T, Conselheiro Armando Graça, João da Ponte, Conselheiro XX Mirim, José Oitiçoca, Mme. Chaveco, Malba Taclan, Álvaro Amoreyra, Pierrot (T.), T., Humberto dos Campos, X Toso, B. Lírio Neves e Benedito Mergo Lião.







Inconformado com a “panela” na imprensa carioca, a falta de respeito e de memória e o silêncio em torno da obra de Nestor Tangerini, escrevi a Drummond, expondo minha revolta:



Tenta me confortar o poeta:





“Rio, 2.VIII. 84





Nelson:





Acho que você não deve se chatear com os críticos de arte e com as opiniões restritivas em geral. Seria ótimo que todo mundo fosse compreensivo e cordial. Como não é, aceitamos filosoficamente as coisas e façamos aquilo que nos dá prazer, e que sentimos necessidade.



Continue a ter carinho pela memória de seu pai, pois isso é que é importante.



Abraços do



Drummond.”





Esperamos que, um dia, o talento de Nestor Tangerini, tantas vezes plagiado por compositores e humoristas, seja, finalmente reconhecido.







[*] A atriz Dinorah Marzullo trabalhou nas peças NO TABULEIRO DA BAIANA, GOL, TEMPO QUENTE , GOL! e ESTÁ SOBRANDO MULHER, do cunhado Nestor Tangerini.













































Todas essas crônicas foram publicadas no jornal POLEGAR [de Marcelo de Quadro], o Grande do Sul; outras, porém, sobre Drummond, foram publicadas no jornal O TREM ITABIRANO [de Marcos Caldeira], Itabira, MG, e no boletim do Clube dos Escritores Piracicaba, de Piracicaba, SP.