sexta-feira, 22 de maio de 2009

TEATRO

Godofredo e os dramas ignorantes *1
I Parte
Rodrigo Ribeiro
Pedagogo, professor de teatro
Especializando em docência do ensino superior
rodrigo_cultura@yahoo.com.br

Então aí está: Godofredo. Ninguém o vê, não há como entender as razões e nem porque ele chegou. Observa, tira suas conclusões, fica silencioso. Porque será? Por que alguém não diria nada se soubesse como ajudar? Mas ajudar a quem? A si mesmo? O resultado disso foi um enorme conflito de valores na mente de Godofredo, até que chegou à conclusão de que tudo não passava de “dramas ignorantes”.
Segundo Godofredo, a palavra drama, do grego, drao, quer dizer: FAZER AÇÃO. Mais tarde definiu-se como drama a união entre tragédia e comédia. TEATRO, popularmente falando. O problema foi quando Godofredo tentou entender o que levou à representação da ação dramática na vida real, impiedosamente, para o mal. Citações de importantes filósofos, historiadores e outros pensadores nos banharam com a verdade, quase todos com rituais para a revelação. Godofredo entende que finalmente, nono ano do segundo milênio, todos conhecem a verdade, independente de classe social, época, ou etnia.
Se dramas são teatros, ou dramatizações, Godofredo acha que falta entender a ignorância humana. O que faz um ser humano deixar de evoluir? A ignorância. Mas Godofredo sabe que este problema é solucionável com o bom andamento da sociedade, todos com acesso ao conhecimento, políticas públicas de qualidade, ações individuais e coletivas para todos aprenderem a viver juntos. Godofredo também sabe que a falta de conhecimento e compreensão do mundo é resolvida pela busca incessante da evolução. Por mais individual que seja esta busca, ele sente que é real e que as pessoas ignorantes em algum momento deixam de ignorar, por conhecer verdadeiramente o mundo.







*1 “Godofredo e os dramas ignorantes” é um livro que nunca foi publicado, (nem escrito) porque não quis ser escrito só para sair debaixo do braço de alguém de editora em editora implorando publicação.



Godofredo e os dramas ignorantes *1
II Parte
Rodrigo Ribeiro
Pedagogo, professor de teatro
Especializando em docência do ensino superior
rodrigo_cultura@yahoo.com.br

Agora Godofredo chega à conclusão de que tudo não passa de DRAMAS IGNORANTES. Conhecedor até de Paulo Freire, com sua “Pedagogia do Oprimido”, e do teatrólogo Augusto Boal, que já idoso, faleceu recentemente sob os mantos do “Teatro do Oprimido”, Godofredo se atentou a entender sobre as circunstâncias em que se encontrava uma pessoa que estava sendo humilhada. Não para entender o tal oprimido. Ao contrário, Godofredo quer entender o opressor, aquele que humilha.
O pensamento de Godofredo é o seguinte: se uma pessoa age de má fé, humilha, grita, promove uma guerra, destrói, pensa que é melhor, tortura, agride, esculacha, pisa, faz-se melhor para tornar qualquer que seja o ser, pior, está fazendo mal à outra consciente desta ação. Godofredo está pensando em todo tipo de relação social: na igreja, no trabalho, na escola, no lar, nos grupos de amigos, na infância, adolescência, juventude, melhor idade e por aí vai, ele entende que todos agem conscientes de sua ação. - Então não são ignorantes! Suspira Godofredo aliviado. - Todos aprendemos desde sempre sobre o bem e o mal!
Godofredo conclui com clareza que, o que vive as pessoas, é um estado de dramas ignorantes, ou uma representação de uma realidade imaginária, em que, ignorantes, podem agir sob os prismas da opressão. E então uma criança na escola pode ser humilhada com um grito da professora e em casa com o mesmo grito vindo da mãe, porque não é a pessoa que a está humilhando, é o personagem dramático do ignorante, o qual não sabe que está fazendo mal, ele é ignorante. E o humilhado perdoa por isso, por saber intrinsecamente que quem o fez mal é ignorante. O que Godofredo não entende é porque nós, em algum momento, levantamos a voz com alguém, ofendemos alguém, invadimos um país, destruímos a vida de pessoas e aí por diante. Godofredo vê a ignorância sendo aprendida sem ensaios e exercícios dramáticos, representada nos personagens que circulam por aí. Godofredo sabe que os dramas ignorantes apenas existem.
*1 “Godofredo e os dramas ignorantes” é um livro que nunca foi publicado, (nem escrito) porque não quis ser escrito só para sair debaixo do braço de alguém de editora em editora implorando publicação.

Godofredo e os dramas ignorantes *2
“A menina e o educador”
Rodrigo Ribeiro
Pedagogo, professor de teatro
Especializando em docência do ensino superior
rodrigo_cultura@yahoo.com.br
Godofredo passava por uma escola e uma conversa de um educador com sua aluna de cinco anos o chamou a atenção. Não pelo fato de eles estarem retirados do grupo de crianças, mas pela concentração nos olhares de ambos. Foi então que ele escutou da aluna ao mestre uma confissão terrível, prova clássica de o quê Godofredo define como “dramas ignorantes”. O que podia fazer? Chamar alguém? Não adiantaria, ninguém poderia ajudar aquela menininha. E ela nem chorava, até sorria. Encantado com o sorriso da Menina, Godofredo parou calmamente e apenas escutou aquela voz melodicamente aguda revelar, feliz:
- O meu pai já mergulhou cinco vezes minha cabeça no balde de água!
Em tom carinhoso, e já que ela estava rindo, o educador satirizou:
- Por que teu pai te mergulha no balde? Para te ensinar a nadar?
- Não! Porque eu faço arte!
- Teu pai deve ter problemas... (pensou)
O educador apenas sugere à menininha que continue sendo criativa, e que cuide para não praticar “artes” que possam machucar, e terminou a conversa explicando que um dia o pai dela a compreenderá. Godofredo então sai, depois de perceber mais um conflito dramático ignorante: o pai ama a filha de cinco anos, é fato. A filha também ama o pai, tanto que se divertiu contando ao educador a maldade cometida pelo pai. Mas ele (o pai) a machuca cruelmente porque ela faz “arte”. Naquele instante o pai representa o ignorante e sequer sente o mal. O sermão clássico do padre sempre termina indagando “quantos de nós já não fizemos isso e blá, blá, blá”. Godofredo pensa diferente. Para ele há um breve momento, insignificante, entre o estado de sensibilidade real e o estado de ignorância. Neste momento qualquer pessoa decide. O processo teatral é intrínseco à vida humana e nos mostra isso. A ação não precede o sentimento e este não precede o pensamento. Se, para agirmos, é preciso sentir e pensar primeiro, é possível sim decidir. Acontece que a crueldade é psicossomática e funciona como um vício. Precisamos evitar o primeiro impulso do personagem cruel.

*2 “Godofredo e os dramas ignorantes” é um livro que nunca foi publicado, (nem escrito) porque não quis ser escrito só para sair debaixo do braço de alguém de editora em editora implorando publicação.