domingo, 7 de junho de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini

Na foto, Antônia Marzullo, de perfil, vestido preto de vidrilhos, e Vicente Celestino, terno preto e lenço branco, lendo carta próximo a Walter Dávila, em O Ébrio

VICENTE CELESTINO E OS MARZULLO


Nasceu, em 1946, após filmarem O Ébrio, uma sólida amizade entre o ator, cantor e compositor Vicente Celestino e a atriz Antônia Marzullo, minha querida avó materna.
Descendente de italianos calabreses, nasceu Antônio Vicente Filipe Celestino a 12 de setembro de 1894, no Rio de Janeiro.
Em 1955, quando completava 39 anos, um grupo seleto de amigos prestou-lhe uma grande homenagem.
Antônia pediu, então, ao filho Maurício que escrevesse algo para a comemoração. O poeta Maurício Marzullo, sempre inspirado e bem humorado, escreveu um poema em dialeto caipira; poema, enfim, que foi lido na noite do dia 11/9/1955, num domingo, no palco do Teatro Carlos Gomes, da então Capital Federal, por sua irmã, Dinorah Marzullo, também atriz.
Eis o poema:

“SALVE O CELESTINO!

“Ao grande tenor brasileiro Vicente Celestino,
por motivo de mais uma passagem de seu aniversário
natalício, a minha pálida homenagem, levada à cena
por minha irmã Dinorah Marzullo.

Maurício Marzullo

Dinorah entra em cena, trajando à caipira. Coça-se espalhafatosamente. A todos olha com admiração. À platéia, diz, instantes depois:

B´a noite pra vosmicês,
que taí assussegado.
eu desejo pra vancês
felicidade aos punhado.

Eu me chamo Siá Rosa,
esposa do Zé Caiado.
Fui criada em Lampadosa
mas sou fã de Pau Fincado.


Deixei lá meus dez minino
e sartei pra Capitá,
só pra vim cumprimenta
o Vicente Celestino.

Não pensem que eu não cunheço
a voz dele, que inebria.
Oiço-o desde que amanheço
num rádio de bateria.

Quando ele sorta os agudo,
o rádio estala, que estala;
mas o bicho vence tudo,
e o radiozinho se cala.


Tendo vindo à Capitá
cumpartilhá da festança,
quero entra na roda-dança
e aos festero me aliá.

Dirigindo-se ao Vicente, sem olvidar a platéia!

Deste modo, siô Vicente,
faço votos que o Divino
o conserve, simprismente,

Pausa, num assomo.

pra ser sempre o Celestino!...”


Alguns estudiosos da Música Popular Brasileira desconhecem este fato, que agora torno público.
O poema de Maurício Marzullo, que entrará agora para uma futura biografia do tenor brasileiro, faz ainda uma citação ao livro de poesias Arraiá de Pau Fincado, escrito em baianês, de autoria do poeta, humorista, jornalista e radialista Lourival Reis. Amigo da família Marzullo-Tangerini, Lourival ficou mais conhecido pelo apelido de Zé Bacurau. E assim era conhecido por seus amigos da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
Vicente Celestino, apelidado de Voz Orgulho do Brasil, faleceu no Hotel Normandie, em São Paulo, Capital, no dia 23 de agosto de 1968, aos 73 anos, quando estava de saída para um show com Caetano Veloso e Gilberto Gil. A apresentação seria gravada para um programa de televisão. Mas encontro histórico com os dois baianos, pois uniria duas gerações muito distintas da música brasileira, infelizmente acabou não acontecendo.

Nelson Marzullo Tangerini, 54 anos, é escritor, jornalista, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ],, onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

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nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

http://narzullo-tangerini.blogspot.com/

http://nelsonmarzullotangerini.blogspot.com/

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