DIVAGAÇÃO
Pelas persianas vejo
a cidade assistir ao parto indolor do nascer do dia
O clarão precoce, tênue e suave,
vem surgindo esmaecido
atrás do arrebol pueril entre os altos edifícios
Da janela do quarto do velho hotel aprecio
no amanhecer da vida
a manhã pretendida de esperanças
O aroma do recém nascido recende no ar,
sonoro assobio – solitário e melancólico
– povoa o silêncio,
cantando, um pelotão de pardais baila no espaço,
brincando de esconde-esconde
nas árvores da pracinha.
Ganidos distantes de um cão sozinho,
cansado da solidão,
ecoam na mansuetude e
motores desesperados assaltam
meus ouvidos
agredindo a quietude do espaço, do meu momento
despertando-me da magia embevecida
de ver os vagidos do dia criança
violentando a poesia da minha poesia...
É sempre assim;
eu amando as migalhas
de instantes de paz que a vida me agracia
e demônios invejosos, ciumentos,
vêm despertar-me para a realidade das lutas,
das disputas, conquistas e derrotas, enganos,
acertos, vitórias, realizações, utopias
na busca da construção de cada instante
do viver de cada dia.
Ione Jaeger
Palace Hotel – NH, 22/02/96
Quinta-feira http://www.jornalpolegar.blogspot.com/
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