domingo, 4 de abril de 2010

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

Jorge Magalhães e Jorge Bombeiro

Quarenta e sete cromossomos


Tinha onze anos o menino e o pai o olhava com desprezo. Invejava o vizinho que tinha um filho da mesma idade que o seu e que se desenvolvia de acordo com a sua idade, enquanto que o seu tinha a mentalidade de uma criança de quatro ou cinco anos.

No dia em que ele nasceu não entendeu inicialmente quando o médico disse que seu filho era uma criança especial, mas à medida que ele crescia percebia mais.

Estava cansado dos comentários hipócritas do tipo “essa criança é um presente, a sua alegria”, ou, “uma bênção de Deus’.

Sentia cada vez mais asco e desprezo por aquela criatura bizarra, com quarenta e sete cromossomos, olhos puxados e formas roliças. Nunca teria sua independência, nem lhe daria netos, sentia ódio da esposa quando acariciava aquela aberração.

Seu filho brincava no terraço, odiou-o como nunca, teve o impulso de empurrá-lo, era alto e ele acabaria de vez com seu tormento. Foi se aproximando do filho e quando estava pronto para empurrá-lo, o filho virou-se para ele dizendo um carinhoso “papai”. Sentiu vergonha de si mesmo, não era um homem mau, um homem frio. Abraçou o menino emocionado.

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