quinta-feira, 25 de junho de 2009

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger


AOS CINQÜENTA


Ontem à tarde, saindo do mercadinho, passou um carro e os rapazes assoviaram. Para mim. Olhei para os lados, não de vergonha, mas para certificar-me de que foi para mim. Não havia mais ninguém na rua. Confirmado. Entrei no meu carro, liguei para a terapeuta cancelando horário para mais tarde. Totalmente desnecessário.

Amo minha terapeuta, mas nem mesmo uma junta médica formada por Freud, Lacan, Jung, Buda e Oprah Winfrey, conseguiriam o efeito terapêutico atingido por aquele assovio.
É interessante como o efeito fiu-fiu durante nossa vida vai mudando. Quando somos jovens olhamos discretamente para quem assoviou, às vezes, mas precisamente para o carro de quem assoviou: se for bonito (os dois – assoviador e carro – não necessariamente nesta ordem) a gente dá um sorriso e vê o que acontece. Se não, olha com uma cara bem feia. Um pouco mais velha, olhamos para o assoviador com aquele olhar de quem diz: vou contar para o meu marido, seu sem vergonha, safado! Mas aos 50, aí a coisa toda muda. Quando você ouve um assovio e constata que foi para você, o dia está ganho, o mês, o ano. Você age com a dignidade de uma senhora aos cinqüenta, como se nada estivesse acontecendo, mas a vontade mesmo é sair gritando:
– Viu, pra mim !

Isto tem pouco a ver com parecer jovem. Tem mais a ver em sentir-se no auge.
Quando chegamos aos 50 o assovio é só uma ratificação do que somos e nem percebemos: estamos no auge da vida, somos mulheres, poderosas, criamos nossos filhos, temos uma profissão, conhecemos nossos desejos, aprendemos a lidar com nossas frustrações, daqui para frente é só acumular sabedoria. Com muita elegância, charme, um bom cabeleireiro, uma dieta rica em fibras e roupas que valorizam teu corpo.
Não é o máximo?

Ana Martha – Campinas/SP

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