quinta-feira, 29 de abril de 2010

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco

Benedito Franco


Hoje o Brasil “deve” 1,6 trilhão! A cada 1% que o BC aumenta nos juros, os bancos se beneficiam com mais dezesseis bilhões/ano! Ou seja: 16 milhões por dia ou 1,8 por hora, ou 30.000,00 reais por minuto ou 500,00 reais por segundo! E nós é que pagamos!






069 - Paralisia facial



Coronel Fabriciano, MG, é terra quente - fria, um pouco no inverno, nada mais que temperaturas normais no verão de Conselheiro Lafaiete.

No final de um mês de maio, tomava banho bem quente - descontando o frio que passei em Congonhas, onde, além do frio intenso, só se tomava banho frio - eu, fabricianense e menino na puberdade, sofria muito com isso.

Papai resolveu trocar as janelas da casa, de tábuas brutas, por janelas com persianas. O Senhor Joaquim Tobias e os filhos, família unida e de alto conceito, ótimos carpinteiros e marceneiros, fabricaram e assentaram-nas.

Na tarde fria e com ventos fora do normal, tomava banho quentíssimo, apesar dos apelos da mamãe para eu sair logo:

- Benedito Celso, saia logo desse banho... a Cemig tá muito cara! Pode fazer mal!

- Fez ouvidos de mercador - disse-me ela depois.

Pelo vão aberto da janela a ser assentada, entrava um vento forte e gélido, sentido por mim que ficara tempos no banheiro tomado pelo vapor. A baforada de vento estremeceu todo meu corpo, a cabeça levou um choque e algo estranho na face e boca. Uma hora depois fui tomar café e o sabor foi diferente em um dos lados da boca. Esquisito...

Marcamos encontro, a nova namorada e eu, numa festa junina - percebeu haver algo de errado no meu semblante:

- Parece-me que você está com a boca torta...

- Tô achando esquisito mesmo.

Resultado: paralisia facial do lado esquerdo.

Passei a sentir o gosto só de um lado da boca - até água tinha sabores diferentes, ou melhor, do lado esquerdo ausência total de paladar - aí que percebi como a água tem gosto e gosto gostoso.

Com a doença dirigi-me a Belo Horizonte para fazer massagem elétrica na face esquerda - em Fabriciano e região inexistia o aparelho - comum hoje. Três massagens por semana: às segundas, quartas e quintas-feiras - a peleja durou um ano.

A viagem semanal feita de carro, um Vemag - bom e econômico. Quando voltava parava em um posto de gasolina em Nova Era - aproveitava para fumar e um cafezinho. Numa dessas apareceu um homem, bem vestido - mas estraçalhava a língua pátria! Pediu-me carona até Fabriciano:

- Cê ta bão? Cê é fio do Sô Zé e conheço seu irmão - trabaiei com ele numa mecânica. Agora moro em São Paulo e tô indo pra Fabriciano. Sô fio do Sô Joaquim Tobias - acho inté que ele fêis umas janela pra seu pai e não tem muito tempo. Cê me dá uma carona?

Acho que fazia tipo...

- Tudo bem.

Perguntei ao dono do restaurante se conhecia a figura - declarou-me que não - deu-me um sinal de reprovação.

- Vou ao banheiro. Espere um pouco aqui.

Quando ia saindo do restaurante, percebi que o rapaz estava acompanhado de três homens fortes e pardos e com caras de maus - vieram atrás de mim.

- Meu Deus! O que fazer neste lugar meio escuro e a essa hora, uma da manhã, e só o dono do restaurante ali comigo.

Chegou um ônibus. Estacionou entre meu carro e o restaurante. Tomei sentido dos banheiros. Eles voltaram para dentro do restaurante, dizendo-me que me esperariam. Aproveitei que o ônibus tampava meu carro, não entrei no banheiro, passei por trás, peguei o carro e zarpei à toda.

No dia seguinte, notícia na rádio e nos jornais: "Em Nova Era, MG, caroneiros, um branco e três pardos, matam o motorista e levam o carro!"

Com o passar do tempo, fiquei sabendo que a virtuosa e trabalhadora família do Senhor Joaquim Tobias possuía uma ovelha negra - assaltante e assassino em São Paulo.



Benedito Franco

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