sábado, 24 de abril de 2010

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

Jorge Magalhães e Jorge Bombeiro

A mulher do Almeida


Depois de um intenso dia de trabalho, Almeida, como sempre, voltava mal humorado para casa, pois sabia que ao chegar se depararia com sua mulher gorda, deitada no sofá e sempre vinha a mesma frase em seu pensamento: não foi com essa mulher que me casei.

Quando entrou em casa levou um susto, a casa estava vazia, os móveis, os eletrodomésticos, a mulher, tudo havia desaparecido. Somente ficara o espelho do banheiro onde tinha um bilhete colado com chiclete mascado, era de sua mulher:

“Almeida,

Estou indo morar com o Adaílton, desculpe levar tudo de casa, mas estou começando um vida nova. Não me procure nunca mais.”

- Mas que vaca! – rosnou Almeida – Ela tinha que levar as coisas de casa?

Pensou em dar um tiro, uma facada, mas chegou à conclusão de que não valia a pena. Era muita traição, afinal o Adaílton era o seu melhor amigo.

Com tristeza lembrava-se dos móveis que mandou fazer, da geladeira que gelava sua cervejinha, da televisão, que ainda estava pagando e onde assistiu o seu futebol, do fogão em que fazia seu mocotó, sua feijoada.

O tempo foi passando e junto a raiva foi amenizando, aos poucos Almeida conseguiu comprar tudo de novo.

Um dia recebeu uma visita inesperada.

- Adaílton! O que você está fazendo aqui, seu traidor!?

- Não tenho dormido à noite, me sinto muito mal com o que fiz e tenho que me retratar contigo.

- Entra, desgraçado!

Adaílton entrou e se sentou. Seu constrangimento era visível.

- Sei que fiz muito mal em ficar com a sua mulher, mas é que nos apaixonamos e faço questão de te devolver todos os móveis e eletrodomésticos.

Almeida se levantou, abraçou o amigo e começou a chorar.

- Não precisa, pode ficar com tudo. Você é o melhor amigo que eu já tive! Obrigado, meu amigo! Obrigado!

Abriram uma cerveja para brindar à velha amizade.

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