sexta-feira, 23 de abril de 2010

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco


Benedito Franco
21 de abril de 1960






Vendo a história...

No sábado anterior ao 21 de abril de 1960, os cariocas despediram do Juscelino Kubitschek, o JK, que mudaria a Capital do Brasil, do Rio para Brasília, deixando para trás, não mais o Distrito Federal, mas o Estado da Guanabara. Nessa época eu morava no bairro do Catete, tão perto do Palácio, que de meu quarto ouvia o barulho do povo cantando e gritando em homenagem ao JK, que, com a Família, permanecia nas sacadas do Palácio, e de vez em quando descia para o meio do povo – aí a gritaria aumentava muito mais. Esta festa durou umas vinte de quatro horas.

Eu, rapaz bem novo, lia o livro de Gustave Le Bon, Psicologia das Multidões, e fiquei impressionado como o JK “manobrava” a multidão – tirava um monte de benefícios da cidade, transferia grande parte dos funcionários para os confins do mundo, sem recursos e benesses, e a multidão, com várias Escolas de Samba, louvando-o e demonstrando o quanto era ele querido. Que diferença dos políticos atuais – tão odiados por todo o povo...







033 - Os Santinhos - Labutas de uma mãe



Papai gostava de chamar a Imaculada, minha irmã, de Lalá, pois era magérrima quando pequena. Magreza lembrava Lamartine Babo, apelidado de Lalá, compositor famoso de tantos carnavais e dos hinos de clubes de futebol - do Flamengo, Vasco, Fluminense, América etc..

No Rio havia um amigo e colega no curso de química, vizinho do Lamartine Babo, na Vila Isabel, casas uma ao lado da outra. A esposa do amigo iria dar a luz ao segundo filho. Estávamos em seu laboratório, meu colega no curso de química, e o exame de sangue que realizava, quando recebeu a notícia de que a esposa estava para dar a luz, não poderia ser adiado. Diante disso, impossível seria, naquela hora, levá-la à maternidade. Pediu-me para eu pegá-la, de táxi. O Lalà, todo satisfeito e então meio gordo, prontificou-se a ajudar, ela com dores e contrações. Felizmente o marido chegou a tempo. Acompanhei-os à Maternidade. Poucos meses depois o Lalá faleceu.



A tela



Visitei Imaculada e o esposo Cláudio em Salvador. Os filhos, os meninos Claudinho, Fátima e a Jaqueline, ainda bem pequenos, mas... impossíveis!

Tampando a parte aberta da área de serviço - dava para o fosso - no apartamento do prédio onde moravam, havia uma tela bem forte, aliás, muito apropriada para cercar os santinhos. Na entrada do apartamento, via-se a área protegida pela tela. Segurança total... Total?...

Um dia, quando regressávamos de um passeio, Imaculada, papai e eu, deparamo-nos com Claudinho e Fátima, em cima do parapeito da área de serviço, balançando-se agarrados na tela. A tela tinha até se esticado e os dois iam a quase meio metro para dentro do fosso!

Imaculada gelou! Afinal, estavam no sétimo andar do prédio.

Ela, muda, com sua santa sabedoria e paciência, foi pé ante pé, para não assustá-los, entrou e, calmamente chamou os dois. Desceram, como se nada houvesse acontecido. Ela nunca chamava a atenção dos filhos.

Imaculada e eu caímos numa poltrona e respiramos fundo.

Ela voltou à cor natural.



Chovia dinheiro!



- No mesmo prédio, no Farol da Barra, o Cláudio volta contente, pois recebeu o pagamento, e certamente, pensando no que compraria para a Imaculada e os santinhos. Recebendo, gostava de passar nas lojas e comprar de tudo para eles: vestidos, calças, calcinhas, sapatos, de um tudo, como falava. Depois de anos de casados, ainda namoravam.

Naquele tempo, pela CLT, pagava-se o salário em moeda corrente no país. Nem cheque ou depósito bancário eram permitidos - só dinheiro vivo! Dinheiro real!

O Cláudio trocou a roupa e se esqueceu do bolo de dinheiro, o salário recebido, em cima da cama, e foi à rua comprar algo.

Quando voltou, admirou-se do movimento nas proximidades de seu prédio e o povo falando e gritando. Chovia dinheiro! Chegou a pegar uma nota... Verdade!

Olhou bem e viu meninos, na janela de um apartamento, jogando, ao vento, notas de Cr$ 5.000,00, as de maior valor na época!

Reparou bem, nem acreditou: os seus meninos! Os seus santinhos! O seu salário!

Cláudio, num piscar d'olhos, subiu as escadas dos sete andares, conseguindo ainda salvar um pouco de seu santo dinheirinho!



A beldade



- A Hedda, minha esposa na época, fez um vestido de veludo para a Fátima. Inteiriço, mas na parte da frente todo fechado com colchetes. Para a Imaculada, com três santinhos, um vestido bem prático. Para tirá-lo, bastava puxar os colchetes, abriria por completo.

Imaculada passeava com os três e atravessaria uma rua bem perto da praça do Teatro Castro Alves, um dos lugares de maior trânsito em Salvador.

A Jaqueline no colo. O Claudinho agarrado à saia. Imaculada segurando a Fátima pela parte traseira da gola do tal vestido.

Passaria com os três, mas o sinal fechou. Parou... mas a Fátima não. Pelo pequeno arranque, os colchetes do vestido se abriram e a Fátima, desvencilhando-se do vestido, seguiu seu caminho... apenas com a calcinha.

Diante do desfile da beldade, os carros pararam...

O coração da Imaculada quase também!



Benedito Franco

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