terça-feira, 20 de abril de 2010

MARCELO SGUASSABIA

Marcelo Sguassábia


DUELO À FRENTE DE UM PRATO DE COXINHAS






- Tim-tim!

- Saúde!

- Bom, onde é que a gente tinha parado mesmo?

- Sócrates e seus seguidores.

- Ah sim, claro. Numa perspectiva hedonista, é evidente a influência do iluminismo como mola propulsora da morfologia intramolecular...

- Ok, da qual derivou, décadas mais tarde, a hermenêutica mineira contemporânea. Tudo bem, isso é óbvio e incontestável para qualquer guri de 5 anos. Mas daí você generalizar, atribuindo a Cervantes a fundamentação da hidrofobia, vai uma enorme distância...

- Permita-me discordar. Veja por exemplo a exegese adstringente dos sonetos de Petrarca. No estrito sentido do léxico, conjectura-se ser pura fenomenologia endógena, pelo menos numa primeira análise.

- Em termos, em termos. Afinal, Donaldson é quem efetivamente fez a ponte entre o parnasianismo tardio e Paulo Coelho. Isso dentro da retórica fonética do ser, enunciada por Kant com muita propriedade.

- Contanto que fosse uma suposição empírica, comumente compreendida na estética gamaglobulínica.

- Mas as mutações no tecido social sempre prevalecem sobre a silepse antropológica. Silepse que, aliás, tem em Nietzsche seu mais ferrenho defensor. Te peguei, hein. Sai dessa agora!

- Por mais que a ciência lance luz a essas indagações, a ablação cinética do conservadorismo sempre será objeto, na acepção anímica, de um redesenho neo-positivista que age antagonicamente aos receptores de protease. Ficou clara a diferenciação?

- Na realidade, Pound, em toda sua obra, contextualiza a intersecção geomórfica, ainda que de forma veladamente dúbia, se tomarmos como parâmetro o determinismo puramente iconoclasta.

- Veja bem, o que eu defendo, do ponto de vista enunciado por Homero na Ilíada, é que a bissetriz não tangencia a prosódia de Lacan, qualquer que seja a natureza do objeto em questão.

- Alto lá, meu amigo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Se Hahnemann, ao lançar as bases da homeopatia, não tivesse uma mãozinha do Padre Vieira, como explicar a queda da Bastilha enquanto divisor de águas no estudo das pororocas ? E digo mais: se fôssemos levar essa sua premissa como verdadeira, estaríamos admitindo o Molibdênio e seu número atômico como desencadeadores do efeito estufa. O que, convenhamos, é uma sandice.

- Discordo redondamente.

- É desanimador sentir o colega tão refratário à lógica quântica.

- Não tenho culpa se você é retrógrado e insiste em defender a representação metafórica, que extrai da identidade do objeto racional sua própria subjetividade transcendente. Ou você vai continuar negando que o Recôncavo Baiano na verdade é Reconvexo?

- Sim como aforismo. Jamais como axioma.

- Não, não. Você não entendeu aonde eu quero chegar. Tome, por exemplo, essa coxinha que repousa gordurosa à nossa frente. É uma reles coxinha, que não se sabe coxinha. Não tem a consciência de sua “coxinhicidade”, ou sua essência salgadística, entende? É o eterno conflito entre Eros e Tanatos, Sísifo e Prometeu.

- Deixe de ser simplista. A dicotomia aristotélica não se abstrai assim, num maneirismo niilista de contornos platônicos.

- Então, mas...

- Espera aí, deixa eu só concluir o raciocínio. A ambivalência, no contexto glauberiano, pode e tende a ser congruente. Caso contrário, a catarse sinóptica de Eleonora Duse lançaria por terra essa sua teoria. Ou melhor, sua falácia.

- Sei. De onde se supõe uma retomada da síntese diastólica.

- Então, é justamente esse o ponto. Taí a signagem termo-acústica que não me deixa mentir.

- E que não te deixa raciocinar, pelo jeito.

- Está partindo pra ignorância?

- É. Quem sabe assim você me compreende...

- Olha a baixaria!

- Ora, defenda-se com argumentos. Válidos, racionais, insofismáveis. Ou então, renda-se. Tenha a humildade de abandonar a partida ao antever o cheque-mate.

- Seguirei seu conselho. Tô indo embora.

- Ei, espera aí. A gente combinou de rachar a conta.

- Parafraseando Schopenhauer, te vira Mané. Tchau mesmo.



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