domingo, 16 de agosto de 2009

COLUNA DA ANA MARTHA







VOLTA AOS LIVROS



" Da vez primeira que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha..."
Mario Quintana
(A Rua dos Cataventos)


Entre tantas internações de meu pai, à procura da causa dos sintomas, ele passou duas semanas no Hospital Conceição, Porto Alegre. No quarto havia mais dois leitos. Do lado esquerdo, ocupado por um açougueiro, italianão, falador, brincalhão. Na outra cama, um rapaz franzino, de uns 20 e poucos anos, quieto. A obra em que trabalhava desmoronou e ele ficou soterrado por mais de 12 horas. Caso famoso naqueles pagos. O pedreiro quase não conseguia se mexer.
Morávamos em Novo Hamburgo, não podiamos visitar meu pai, diariamente, e o Seu Luis, o açougueiro, cuidava dele para nós. O pedreiro gostava de ouvir meu pai contando a história do mundo, falando de lugares que nunca conhecera, só pelos livros.
Quando teve alta, minha mãe resolveu dar uma lembrancinha aos dois, pela ajuda. Pegou dois livros novos, ganhos de uma editora para divulgaçao: O Guarani e Dom Casmurro (tive pena deles, além de doentes, ainda teriam que enfrentar José de Alencar e Machado de Assis). Assim mesmo, os livros foram dados.
Quando ela entregou os livrinhos a cada um, tive uma das maiores lições de minha vida: Zé, o pedreiro, começou a chorar. Nunca havia ganho um livro na vida. Realmente, mal sabia ler. Luís se ofereceu para ajudá-lo.
Nunca mais soubemos deles, não soubemos se leram ou não tais livros. Mas a imagem das lágrimas de Zé ficaram até hoje.
E , assim, os livros que tanto amara até então, tiveram um significado novo, - Amor e respeito. Amor pela pelavra escrita que se perpetua, respeito pro aqueles que a colocaram no papel...

Ana Martha Jaeger - Campinas/SP





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