domingo, 26 de julho de 2009

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger








AVÓS, NETOS E EU


Vovô é viúvo. Vovó vê a uva!
Antes dos sete anos soletrava ele soletrava. Sabia o que era um viúvo. Quase aos setenta anos sentiu o significado da palavra quando, no velório da esposa, alguém o cumprimentou:
– O senhor é o viúvo?
Sinto-me plena de ser avó quando o Victor sai para a faculdade e lá da porta avisa:
– Vó, estou indo!
Para o Rogério sou a véia.
– Ô véia, me ajuda aqui?
Na lista de endereços de e-mail do Rô sou simplesmenteveia@... No MSN, também, nos seus contatos sou tratada Simplesmente Véia. Sou simplesmente avó quando faço-lhes as vontades, quando entendo sua adolescência, sua juventude...
Na infância convivi com Vó Candola. mãe de minha mãe. No ano que completei dez anos ela faleceu. Vó Candola morava em União, Alagoas. Seguidamente íamos visitá-la. Viagem de navio. Desembarcávamos em Maceió. Cândida Fraga dos Santos, dona Candola, não sabia o que fazer para agradar o bando de netos que invadia sua casa.. Foi professora, contava-nos histórias que encerravam fundo moral.
Algumas vezes fui sozinha ficar um ou dois meses com ela. Aí eu era dona absoluta de todas as atenções. No café da manhã, me servia um ovo frito, ovo posto naquele dia. No final da tarde eu bebia leite morno com melado.
Vó Candola morava com meu tio padre. Padre Carlos. Recebi, um dia, na porta um recado do sacristão e transmiti:
–Tio Iô, tem um porco na igreja para recomendar!
Minha vó ria muito ao contar para os outros. Eu não sabia o porquê de tanta graça. Mais tarde compreendi. O que havia na igreja era um corpo para encomendar..
Foi a avó da minha infância.
A vó Carlota vi pela primeira vez em 1949, quando vim para Novo Hamburgo. De rosto sou parecida com ela. Conversávamos muito. Eu gostava de ouvir os casos de família, da minha família por parte de pai, que conheci aos dezessete anos. Minha avó narrava com riqueza de detalhes: histórias de amor, casamentos e separações, de mortes, de brigas, de festas, alegrias. Não me lembro de ter visto Vó Muchinha, apelido caseiro, rindo. Sisuda, sua narrativa era cheia de comicidade e passagens hilariantes, principalmente quando contava as gracinhas do neto Valmor e as travessuras de caduquice do cunhado - Tio Hanz, marido de Tia Júlia. Foi casada duas vezes. Faleceu no inverno de 1957.
Quando o Victor, meu neto mais velho, nasceu a enfermeira saindo da sala de parto passou por mim, que rezava o rosário:
– Parabéns, vovó, seu neto é lindo!
Ali, naquele momento, parada no corredor da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, em Curitiba, senti-me Candola e Carlota ao lado da Vó Zelinha, minha mãe e vó Olga, mãe do meu marido.

Ione Jaeger – 24 de julho de 2005

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