terça-feira, 28 de julho de 2009

COLUNA DA ANA MARTHA




BUDA E MEU PAI

“Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o fere” Teu pai Victor

Esta foi a mensagem que meu pai deixou no meu álbum de recordações quando eu tinha uns seis anos. Pequena, simples, de poucas palavras, assim como meu pai. No canto da folha um pinheirinho desenhado com caneta Bic verde e um machado cortando-o. Mais nada.
Engraçado! O álbum ficou cheio de recordações, mas esta saiu de dentro dele e passou a caminhar comigo. Há mais de 40 anos o sândalo sempre me acompanha, seja para deixar uma mensagem para alguém, seja para acalmar a raiva de outro, e muitas vezes a minha.
Meu pai não era religioso. Não me lembro de uma única vez ele indo à missa aos domingo. Era devoto de Padre Reus. Uma vez por ano caminhava até o santuário em São Leopoldo para pagar alguma promessa. Saía cedo, caminhando, caminhando. Um dia fui junto. Voltamos de ônibus. Descobri que ele ficava pouco lá. A devoção era a caminhada.
Era um homem calmo. Não me lembro dele gritando. Estava sempre parado, fumando. Só ficava nervoso quando o Inter jogava. À noite, gostava de lavar a louça do jantar. Passava horas lavando quatro pratos e quatro xícaras.
Não me lembro dele ter grandes ambições. Não ficava sonhando com carros, fortuna. Gostava de viajar de ônibus para conhecer novos lugares.
Não pregava a paz, mas não gostava de violência.
Hoje, revirando sites na Internet, descobri quem era meu pai.
Ele não era quieto, ele meditava.
Ele não tinha sonhos de consumo, mas de contemplação.
Ele não era contra as guerras, era a favor da paz.
Não sei se ele sabia,
Meu pai era Budista

“ O ódio não destrói o ódio
só o amor destrói o ódio
Sede como o sândalo
Que perfuma o machado que o corta”
Buda
Ana Martha Jaeger - Campinas/SP

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