sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini



A POESIA DA VIDA






Nelson Marzullo Tangerini





O amor me deixou mudo. Sem palavras. Mas a mulher amada lê, com seus olhos de mulher madura, que ele se impregnou em meu ser. Sinto-o aqui dentro e não sei decifrá-lo. Palavras me fogem. Ou não querem a tradução rasteira dos homens da Terra.



“O amor bateu na aorta”. Plágio de Drummond? Quem sabe o mestre de Itabira tenha palavras para me confortar! Ando a meditar em torno deste silêncio, deste estado de amor que me paralisa o trabalho, que me faz ir à varanda ou à janela e contemplar a vida, o céu azul, a lua, as estrelas.



Li em algum lugar que o silêncio é uma prece. Fico em silêncio, em prece, contemplando os belos momentos de nossas vidas: jardins, plantas, pássaros, mar, lagoa, ruas, nosso amor sereno. É verdade, o silêncio é uma prece, porque há palavras no silêncio; palavras que, por sermos homens comuns, não conseguimos traduzir, palavras que um poeta jamais conseguirá dizer à sua amada.



Queria dizer-lhe o indizível, dizer-lhe palavras novas, iluminadas, palavras que nunca foram ditas ou escritas.



À espera de uma comunicação do espaço, escrevo-lhe o que o amor me permite lhe dizer:



Um cristal sob a luz do sol. Mil cores. Azul. Azul da cor do teu vestido. Cristina azul. Azul do mar, azul do céu, azul nossos corações, azul nosso sangue, energia azul. Azul o que sentimos neste momento, azul nossa cama, azul nosso amor. Azul a palavra amor.



Amar é... estar azul. Azul o planeta, azul tudo o que vem deste amor. Azul tudo o que foge de nosso conhecimento. A poesia da vida é azul. A nossa vida é azul. Azul o que juntos estamos construindo.



O poeta, diante de uma folha em branco, escreve com sua poesia azul. Azul a nossa travessia. Azul nossas palavras soltas e desencontradas buscando o encontro. Azul a nossa viagem. Azul nosso trem. Azul o ônibus em que ela viaja. Azul o que ela vê.



Eu queria lhe dizer o que sinto e não consigo. Milhares de palavras, azuis, navegam no espaço como partículas em suspensão. Caçadora de estrelas, por que não flechas o que dizemos quando estamos trocando amor e palavras em nossa cama azul; quando fazemos nossa travessia azul.



Ela me diz que está amando. Eu lhe digo que estou amando. Faltam palavras, palavras azuis, para traduzir o que sentimos. Um silêncio azul se inaugura. Um silêncio azul é o amor em estado de poesia.



Olho seu rosto e vejo que a poesia está ali com ela, em estado latente, estampada em seu semblante meigo e exausto; está comigo, está no não dizer o que é difícil explicar. Meu coração azul continua disparando.



Sua presença azul ficou no meu corpo como tatuagem para me dar coragem e seguir vivendo. Por horas, por um dia, por dias, ainda sinto-a em mim.



Um livro azul se escreve. Um livro de poesias azul. A poesia da vida. Palavras azuis caem do céu sobre meu cérebro neste momento. Flores azuis oferto para a mulher amada.



Querida, eu queria lhe dizer o que não consigo decifrar, dizer, escrever. Eu queria lhe dizer que estou apaixonado por você.



Nelson Marzullo Tangerini, 54 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira Nestor Tangerini e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.



nmtangerini@yahoo.com.br, nmtangerini@gmail.com

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http://nelsonmarzullotangerini.blogspot.com/

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