quinta-feira, 8 de outubro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini


Nelson Tangerini







DA PONTINHA IV



Nestor Tambourindeguy Tangerini


Aborrecido, indisposto para trabalhar, o Pacífico, assim que deu uma hora, deixou a sua mesa, passou a mão no chapéu e saiu para tomar café – o que muita vez tenho feito.



Funcionário público como eu, uma vez, na rua, esqueceu-se da repartição e ganhou o caminho de casa, onde chegou, encontrando a mulher nos braços do vendeiro da esquina – cousa que nunca me aconteceu.



Apanhando a ambos em flagrante, deu tempo a que o português pulasse a janela e “bancou” o valente.



Foi uma tragédia!



Finda a “fita” americana, como tivesse chegado a tempo de evitar que os amantes fossem além dos beijos, recompôs-se e veio saindo a passos lentos, a pensar em como agiria depois de tal acontecimento. Nada lembra que me tenha comovido mais do que ver, como que dentro de uma interjeição, o dono da “fazenda” à posta, meditando e tendo acima da cabeça o número da casa 21...



Não demorou muito, resolveu andar para se distrair...



Ao atravessar a praça Martim Afonso, quem se lhe depara? O Sr. César Cople.



- Como tem passado, caro doutor?



- Como vai você?



- Vai-se vivendo.



- E a patroa?



- Mal, muito mal!



- Que me diz?



- Ainda agora, encontro-a nos braços de um patife, vou reclamar e ela atira-me com tudo quanto é prato pela cara!



- E você?



- Eu... eu... que o senhor me aconselha que eu faça?



Secretário do chefe da polícia, está claro que o Dr. Cople não ia aconselhar que o já desgraçado matasse a esposa. Não. Mas fez cousa melhor.



Revoltado com a poltronice do Pacífico, pensou uns segundos e respondeu, com um sorrio irônico:



- O melhor que você faz é o seguinte: ao invés de usar pratos de louça, passe a usar pratos de estanho. (*)



(*) Niterói, RJ, sexta-feira, 30/4/1926,
com o pseudônimo João da Ponte.






[Na foto, a estátua do Cacique Arariboia, fundador de Niterói]  -

Vocabulário Tupi:



Niterói: água escondida.


Arariboia: Cobra de tempestade

------


De um recorte.
Provavelmente publicada
no jornal niteroiense O Canastrão.





ARQUIVO FAMÍLIA TANGERINI:



nmtangerini@yahoo.com.br, nmtangerini@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário