terça-feira, 7 de julho de 2009

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger



INDÚSTRIA DA PIEDADE
Nelson J Breuer ¹



Certamente você foi abordado, pelo menos uma vez, por uma menininha, ou por um menininho de seis ou sete anos de idade em alguma sinaleira, ou numa rua da cidade, que lhe ofereceu balas e outras quinquilharias.
Sem pensar muito, até mesmo refletir sobre o assunto é doloroso, você contribuiu penalizado vendo uma criança daquela idade estar se esforçando para ganhar algum trocado.

Trocado? Saiba que cada criança dessas, vendendo balas ou que quer que seja, arrecada mensalmente quatrocentos reais, no mínimo, e este dinheiro serve para sustentar famílias de, até, oito pessoas. Famílias que vivem às custas de crianças de seis, sete anos.

Admirado?

Você está contribuindo com a barbárie! Veja as conseqüências:
– a criança abandona os estudos, ou os realiza precariamente, senão a família passa fome;

– a criança deixa de ser criança. Em vez de brincar tem que trabalhar. Quase sempre existe um(a) irmão(a) mais velho(a), que já exerceu esse papel quando tinha a mesma idade, cuidando do pequeno(a) vendedor(a) para que não se distraia com brincadeiras e que trabalhe com afinco;

– a mãe fica em casa cuidando para que sempre haja uma criança com essa idade para sustentar a família. Ou está grávida, ou com um recém-nascido;
– o pai faz pequenos biscates para cobrir as despezas com a cachaça... de cada dia;
– a criança vive a vulnerabilidade da rua.
Esses meninos e meninas que você encontra cheirando loló, se prostituindo, cometendo pequenos delitos (se tornarão grandes), um dia venderam balas nas sinaleiras e nas ruas, engraxaram sapatos.

Você contribuindo pode estar colaborando para que essa criança perca o sagrado direito de ser criança, abandone a escola. Contribuindo para o descontrole da natalidade nas camadas menos favorecidas. Contribuindo com o aumento da dependência química (traficante e usuário) e, ainda, ajudando a fabricar o jovem delinqüente, o trombadinha, o bandidinho impune, menor de idade.

Tudo isso, apenas, por uma esmolinha de um ou dois reais. Quando a menininha ou o menininho lhe oferece balas, outra qualquer quinquilharias, novamente, PENSE NISSO!




Novo Hamburgo, 1999
1 - Nelson José Breuer – 68, Consultor em DQ, trabalha há vários anos em instituições da área de recuperação de dependentes químicos. Desenvolveu atividades como educador social de rua. Tem editado o Livro – O QUE É DEPENDÊNCIA QUÍMICA – 2ªedição, 2005.

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