quarta-feira, 21 de outubro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini


Neslson Tangerini


INCONSOLÁVEL


Nestor Tambourindeguy Tangerini





Foi para D. Ivete um dia de verdadeira angústia aquele em que lhe chegou a notícia de que o marido, banhando-se na Praia de Copacabana, acabava de ser tragado pela cólera do oceano revolto.



Seu lar, até então ninho ditoso de sorrisos e sonhos, transformou-se, dentro de um segundo, com semelhante desastre, em uma casa de martírios, em sua fonte inexaurível de copiosas lágrimas.



Sofreu e chorou muito, chorou e sofreu como ninguém.



Contudo, para o seu caso sem remédio, restava-lha ainda uma esperança por algum consolo: ver o cadáver do malogrado esposo e atirar-se sobre ele, aperta-lo bem contra o peito e beijá-lo, ainda que isso pela última vez.



Mas, para quem nunca passou pelo frio do infortúnio, para a pessoa que viveu por longos anos feliz, uma desgraça nunca vem sozinha.



No dia seguinte, já o sol havia despontado no horizonte e soltava por sobre a praia a basta e longa juba de ouro, e o corpo da vítima da ira de Netuno não tinha aparecido ainda.



Ao saber disso e de que o certo seria não no encontrarem mesmo, a pobre viuvinha caiu em pranto de Ísis!...



- Não chore assim, d. Ivete!... Que se há de fazer?... Deus sabe o que faz!... É preciso resignação... disse-lha uma das mais íntimas amigas, consolando-a.



E a viuvinha inconsolável:



- Resignação! Resignação! É muito doce essa palavra resignação... mas se o corpo dele... não aparecer... eu não poderei... casar outra vez...

Na foto [de Cristina de Andrade], a Igreja de N. S. da Conceição, em Niterói, RJ.


2009.





Povavelmente publicado no jornal O ALMOFADINHA,

de Luiz Leitão, no 12, / Dias 15, 16,

Niterói, RJ, 17 de fevereiro de 1931,

com o pseudônimo João da Ponte.


Arquivo Família Tangerini


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