quarta-feira, 30 de setembro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini




EM CENA...




Nestor Tambourindeguy Tangerini



Um arrependimento profundo acabrunhava, dia a dia, ao pobre do Casimiro. Dono de uma pensão familiar, tinha dado hospedagem a um casal cujos filhos, em número de onze, davam-lhe um prejuízo colossal.



Supersticioso, não andou errado quando, ao aceitar essas treze pessoas, viu entrar-lhe o azar pela porta.



Estava o açúcar a 1$500 o quilo. E os meninos, gulosos desenfreados, não podiam ver um açucareiro em cima da mesa, ou na mão de alguém, sem que sobre o qual não se precipitassem para devorá-lo.



Eram pensionistas a fazer reclamações, outros a deixar a pensão, empregados a despedir-se da casa, etc...



Os pais achavam graça...



O Casemiro já não comia, já não bebia, já não dormia, para só pensar em como se ver livre daqueles demônios...



Jogar os nossos hóspedes no olho da rua, de uma hora para outra, ia dar-lhe uma questão de que se podia sair muito mal. Pegar os guris, um por um e esgana-los... Não – tinha família e não estava para se desgraçar.



Que fazer, então?



Ah!!! Ir ao Dr. Washington Luís.



Ao Presidente da República!?



Sim, ao Presidente: em questões tão complicadas como a sua, a gente devia ir diretamente a Deus.



E por que não, se o cavanhaque era camarada do povo e atendia qualquer cidadão, depois das dez?



Meteu-se na tatiota, pôs o chapéu domingueiro e saiu, rumo ao Catete.



Caricatura cubista de Washington Luís




feita por Nestor Tangerini.
...





As cousas, na pensão, correm às mil maravilhas. Os novos hóspedes continuam. O Casemiro já brinca com os garotos e dá-lhe até dinheiro para balas...



Que providência teria tomado o Dr. Washington Luís?



O Presidente democrata nada mais fez do que dar conselho: que o Casemiro aceitou e pôs em prática.



- Eu podia telefonar agora mesmo para o Coriolano; mas o diabo do pequeno é capaz de me mandar o Renato, ou o Lucena, castigar um tanto seriamente aquela gente, e para o seu caso, não há necessidade de lançar mão dos rigores da força da “lei”. Vamos ajeitar tudo da melhor maneira possível. Como você deve saber, toda criança tem medo de “bicho”, do “papão” e outras cousas assim. Faça o seguinte: mande pintar, em cada açucareiro... a cara do Mello Mattos...



Publicado no jornal O CANASTRÃO,

p. 3, Niterói, RJ, 7 de julho de 1928,

com o pseudônimo João da Ponte.



Diretor principal do jornal: Nestor Tangerini.





nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br
http://narzullotangerini.blogspot.com/

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