segunda-feira, 20 de julho de 2009

COLUNA DA ANA MARTHA




CORRENTES E INTERNET

Um dos meus maiores pavores ao abrir a caixinha de correspondência antigamente, era encontrar um papelzinho dobrado, escrito a mão, ou um envelope em branco sem destinatário nem remetente. Ai, recebi uma corrente!

Sem ter vinte a cinquenta pessoas para repassar, sem coragem para colocar em caixas alheias (meus pais sempre me ensinaram a nunca desejar para os outros o que não queria para mim), sem dinheiro para pagar Xérox e uma preguiça terrível que me impedia de copiar a corrente vinte vezes, meu destino se selava: estaria condenada a morrer esmolando, com feridas fétidas pelo corpo, ardendo no inferno.

Com o tempo, aprendi a burlar a caixa de correspondência; se visse qualquer coisa suspeita que aparentasse ser uma corrente, eu fazia de conta que não via, e deixava lá. Afinal, o guardião da corrente devia estar tão ocupado em destruir a vida dos “quebradores de corrente” que nem iria perceber que eu o enganava.
Surgiu a Internet!
Certo dia, abri a caixa de e-mail. Lá estava, uma linda mensagem:
– Oba, uma coisa para começar o dia feliz.
Abri sem pestanejar:
– Olha só, o mala456@.com se lembrou de mim! Vale a pena ter amigos? Ele só me deseja coisas boas e lembra que tem alguém olhando por mim! Opa, o que é isto no fim da mensagem? É o passado que resolve me assombrar (todos aqueles guardiões de correntes os quais burlei resolveram se vingar?!!!)

Se repassar esta mensagem para 20 pessoas uma coisa muito boa vai me acontecer... Se não repassar? E se não tiver 20 pessoas para repassar? Repassar para o Shoptime, a Saraiva e o Bordado Inglês, serve? Conta uma só pessoa ou posso fazer uma média dos funcionários? Posso repassar 20 vezes para mim? Não chego a ter 20 personalidades, mas umas 5 eu consigo numa boa.

Na vida tudo é aprendizado. Aprendi rapidinho a burlar as cibercorrentes: quando abro sem saber o que é (são sorrateiras, não se apresentam como tal) e começo a ler, minha mão direita sobre o mouse, involuntária, escorrega e apaga a mensagem.
– Viu, não tive culpa de não saber usar a computador!...


Ana Martha Jaeger – Campinas/SP

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