segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger





O P A N D E I R I S T A


– Cadê o tocador de pandeiro? Seis horas! Inda não apareceu? Devia t'aqui ao amanhecer! O sol faz hora e meia que brilhou. E ele...
Sinhá Pequena paramentada de autêntica baiana - saia engomada, sandália enfeitada, bata de renda, torço de seda, pano-da-costa, balagandans - caminhava de um lado para o outro. Olhava pela janela, ia ao terreiro. Angustiada, angustiada!!! O pandeireiro, nada! Quase nove da manhã olhos esbugalhados, arfava, arfava, exclamou num desespero de fazer dó:
– O que faço? O pessoal tá chegando! Se o diabo batesse nessa porta, agora, eu contratava ele! E saiu bufando para o fundo do quintal decorado com bandeirinhas azuis e brancas. Nas mesas muitos licores, refrescos, aluás e o gostoso cheiro dos quitutes invadindo o ar. Caranguejos cozinhavam no panelão de barro. Sinhá ouve batidas de palmas. Um cara baixinho grita:
– Oi, freguesa! É aqui que estão precisando de um pandeirista?
– Entre, homem, ora essa! Vancê tá atrasado!
A festa começou. Homens, mulheres, crianças, velhos, baianas, comiam abacaxi e dançavam. Scutum, scutum, scutum... no compasso das batidas do pandeiro, do roncar das cuícas, do vibrar das cordas do cavaquinho, o pessoal em coro aclamavam:
- Valei-nos, Nossa Senhora da Conceição!!!
Abafada nas vozes do refrão ouvia-se, na cadência do ritmo, o homem do pandeiro:
- Isto é lá com vocês, comigo não!
Admirados olharam para o pandeireiro. Seus pés eram redondos...

Ione Jaeger

Nenhum comentário:

Postar um comentário