sexta-feira, 17 de julho de 2009

PAPO DE CULTURA - IONE JAEGER









CHASQUE DA CULTURA
Cláudio Pinto de Sá



CARRINHO DE LOMBA

“Exultem os povos que têm raízes culturais a preservar”.
Esta frase eu a usei em inúmeras ocasiões. Retomo-a. Desta feita, movido por uma reportagem que assisti num programa de TV. Apresentava antigos “carrinheiros”, assim chamados os então guris que desciam ruas com carrinhos de lomba, também tratados por carrinhos de rolimã. Na frase, onde está escrito povos, podemos adaptar o termo gerações, ou mesmo época. Época de ouro do rádio; geração da bossa-nova; geração da jovem-guarda, etc. Em todas as cidades certamente ocorreu. Cito Porto Alegre, Rua Dom Pedro II. Por cerca de duas décadas, (+ - 1950 / 1960), naquela rua se concentravam os jovens para os “pegas” de carrinho de lomba e carrinho de rolimã. A diferença entre um e outro estava no rodado. Os primeiros tinham rodas maiores, enquanto que nos outros eram colocadas apenas rolimãs. E não era um esporte muito simples. Atualmente seria classificado no item dos radicais.

A vida e as culturas estão em constantes alterações. Hoje a informática nos apresenta a virtualidade. Horas e horas passamos frente ao computador. Se assim não fosse, este texto não nasceria. Esta é a razão de eu exultar quando são relembradas concretamente culturas adormecidas, pois essas, em verdade, não morrem. Na reportagem acima citada, entre tantos participantes, apareceu um grupo uniformizado com uma inscrição na camiseta, onde se lia: “Véios Pintacudas”. Como se sabe, Carlo Pintacuda foi um extraordinário piloto de carros de corrida nos anos 30. Em 1937, ao vencer o Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, passou a ser tratado como herói e o termo Pintacuda é atribuído a quem imprime alta velocidade ao dirigir um automóvel. E para minha grande surpresa e não menor alegria, ao final da reportagem apareceu o Sr. João Miranda e seus gloriosos 82 anos de muita vida.

O repórter perguntou se ele também desceria a rua pilotando um carrinho. A resposta foi pronta: é pra já. E a reportagem terminou com a imagem de João Miranda descendo a Dom Pedro pilotando um carrinho de rolimã, tirando o boné e abanando para o povo. Aquele jovem há mais tempo Pintacuda é o autor do belíssimo livro América Desnuda, talvez a mais impactante narração sobre as minas de prata da cidade boliviana de Potosi, que no século XVII era a mais rica cidade do mundo. Tal foi a crueldade naquela época, que os potosinos dizem que seria possível construir uma ponte com toda a prata explorada dede Potosi a Madri e outra de ossos e restos humanos voltando de Madri a Potosi. Rolimã, Pintacuda, Potosi. Desci de carrinho de lomba nesses devaneios que ora registro. Preservo, pois, raízes culturais.
claudio@aymore1952.com.br



Cláudio Pinto de Sá
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