segunda-feira, 10 de maio de 2010

MARCELO SGUASSABIA

Marcelo Sguassábia

FILHO DA MÃE


(Texto concebido originalmente às vésperas do Dia das Mães)









Começando do começo: sou eu a mãe daquele filho da mãe. E chamam-no assim de forma caluniosa e sem motivo aparente – embora o fato de ser filho da mãe, por si só, implique na constatação óbvia dele possuir uma genitora, coisa que qualquer ser humano tem ou teve um dia.



Mas vocês sabem muito bem do que estou falando, em se tratando do meu famoso e difamado filho, que começou no futebol de várzea e hoje honra os quadros da FIFA. Ao longo do tempo regulamentar o filho da mãe acaba virando filho de outra coisa, conforme os ânimos na arquibancada se acirram e a cerveja faça o seu maldito efeito.



Não é possível que essa injustiça se perpetue impunemente. É preciso que entendam que o que ele faz ou deixa de fazer dentro daquelas linhas brancas é problema dele, e não culpa minha. Meu filho é maior, vacinado e age de acordo com suas convicções, abalizadas logicamente pelas regras do esporte bretão. Só que existe uma coisa chamada julgamento subjetivo, e para isso inventaram o árbitro. Sua decisão é soberana, e se esta deve ser respeitada, por mais controversa que seja, porque não também a reputação de sua mãe, que nada tem a ver com a história e nem em campo está?



É engraçado e revoltante. O irmão caçula dele também é juiz, só que de Direito. Nunca, ao anunciar uma sentença, alguém no tribunal se levantou para, aos berros, questionar a conduta moral e sexual desta que vos fala. Até porque, se o fizesse, seria metido imediatamente atrás das grades por desacato à autoridade. Mas o destino, com seus caprichos insondáveis, quis que eu fosse ao mesmo tempo meretriz e mãe de meritíssimo. Vai entender.



Domingo, dia 9, tem jogo. E ouvi dizer que o meu filho, em minha homenagem, combinou com a emissora de TV que vai cantar antes da partida aquela musiquinha que fala do “avental todo sujo de ovo”. Já estou até vendo, vai ser mais ovo em cima de mim. Chega. Pelo amor de suas mãezinhas, trégua!



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