sábado, 12 de setembro de 2009

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger

A MARCHA










Lenta, desajeitada, silenciosa, a velha carroça vai pela estrada. Segue o caminho do ir. Um homem e um menino sentados no único banco. As rodas com preguiça dão voltas arrastando-se calmamente. Manhã fria, o sol por trás da cortina cinzenta das nuvens, com má vontade, tenta botar a cara para fora.

O jovem, encolhido no agasalho, atento vigia o animal. O velho, cabeça arreada, cochila acalentando-se na melodia dos pneus. O cavalo esbelto, viçoso, porte erguido o olhar seguro guia os viajores e puxa um similar que, atrás da condução, vem atado com uma corda no pescoço presa à trave de suporte do veículo.

Coitado da besta puxada! Marcha devagar poupando os passos. Olhos no chão, caminha dolente. A imagem do vencido – pessimista, escravo, dirigido, não se leva, é levado. Vai onde a vanguarda o conduz, sem curiosidade não olha para os lados. Seguir, só seguir é mais fácil, cômodo. Consentir não faz questões, não dá trabalho, não pensa. É o não se gastar...

O quadrúpede da dianteira é notado na passagem da marcha. A ele os olhares e as atenções são dirigidas e vêm os comentários:

– Imaginem se o animal da frente se assustasse... atiraria todo o comboio no valão!

– Coitado do animal que é puxado!

– Se somos levados não temos direito de escolha!

– Quem conduz deverá ter muita responsabilidade, conhecimento da meta a percorrer. Com um único sinal pode moldar toda a situação. Pode enxergar-se estrela, sem humildade, servir-se do posto;

– Então melhor é ser passivo? Sem discernir o certo do errado? O bem do mal?

– Mas... isto é rotular-se criatura do homem, não de Deus;

– Aquele a quem é dado o poder de conduzir, de dirigir, de guiar, tem que ser capaz de respeitar, escutar, ser cuidadoso com o substrato da consciência coletiva dos seus semelhantes. Deixá-los participar no processo decisório da sua história – livre. Desta maneira a marcha é mais bela, suave e digna.

Ione Jaeger / 1995

http://www.jornalpolegar.blogspot.com/

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IONE JAEGER (Ione Maria Rocha Jaeger). Nasceu em Salvador/BA, vive em Novo Hamburgo há 59 anos, faz poesias e outros escritos para cumprimentar a vida. Tem seis livros editados. Premiada no teatro - Melhor Texto Inédito - em NH e no Paraná. Letrista no CD Momentos Reticentes, reggae, gravado pela Banda Mundo Y. Idealizou, criou e fundou a Associação Cultural de Amigos das Artes - ACAART, em NH, 1997. Organizadora da Coletânea Onde os Poetas se Encontram, na III edição.


PATRONA da 24ª Feira Regional do Livro de Novo Hamburgo, 2006. Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes Castro Alves, POA/RS – Cadeira nº 19 – Vianna Moog; Membro da Academia de Letras de Ribeirão Preto/SP – Cadeira Augusto dos Anjos. Sócia Correspondente da Casa do Escritor e do Poeta de Ribeirão Preto CPERP/SP; Sócia da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS e da Casa do Poeta Rio-Grandense – CAPORI. Membro do Clube dos Escritores de Piracicaba/SP, Cadeira Leonor Bonsi Piselli.


Criado em 13/07/06, no Calendário Municipal o Dia do Ativista Cultural, foi escolhida a data do seu nascimento (13 de maio) em homenagem ao Ativismo Cultural que desenvolve há 10 anos.


Professora, Especialista em Educação, graduada em Pedagogia (1974), pós-graduada em MTE (Métodos e Técnicas de Ensino (1979), Faculdade de Educação FEEVALE/ NH. Coordenou o Movimento da Catequese na Catedral Basílica São Luiz Gonzaga de Novo Hamburgo (1991 a 1994) Aposentada – 1983 SEC/RS

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