segunda-feira, 17 de maio de 2010

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco

Latrocracia: O projeto do aumento dos aposentados foi picaretado, cortado, atrapalhado, subornado, mutretado... ado... ado... ado... roubado! Vai haver ladrão assim lá na Cochinchina!... Cochinchina não!! É pior! É em Brasília, BR!!!

Benedito Franco



Os aposentados todos vamos votar na Dilma... Acreditem!...rs rs rs rs rs rs



Campanha contra droga: Faça igual ao Dunga, não use craque!



041 - Paulo Afonso



Depois de visitarmos Recife e Olinda – e como diria minha sogra Dona Rosa, a gente sai de lá com um agradável gosto de jornal velho na boca - meu pai e eu, partimos para o interior de Pernambuco, rumo a Paulo Afonso - cachoeira e usina.

Calor intenso tornava a viagem cansativa. A terra seca, esturricada, o asfalto evaporando e brilhante, a paisagem às vezes meio monótona, parecia-me, aumentavam ainda mais a temperatura e as distâncias. Cidades longe da estrada e os postos de gasolina raros e simplórios.

Uma das câmaras de ar furou. Na borracharia, encontrada sem luz elétrica, o remendo feito a ferro de passar roupa, a brasa, demorou bastante.

A companhia de meu pai - a tranqüilidade e a calma personificadas - a força moral e a presença davam segurança necessária à boa viagem.



O RiSTORANTi



A noite espreitando, fome e sede apertando, na periferia de um lugarejo, vimos uma tabuleta, meio sumida na relva, rabiscada: "RiSTORANTi". Pequeno barracão, bem rústico, de pau a pique e sem reboco, talvez quinze a dezoito metros quadrados, o tão esperado restaurante, sem mesas e nem cadeiras, mas lá dentro também escrito: "RiSTORANTi". Pobreza total. Nada além de pequeno balcão tosco de madeira e ninguém no momento. Após alguns minutos, chegou um caipira. Indaguei-lhe o que havia para comer e se não iria demorar a feitura.

- É rápido - só iscoiê!

- Escolher o quê? Retruquei - sem muita esperança de algo.

- Moço, oia pra cima...

Realmente, uma quantidade imensa de passarinhos depenados e secos ao sol, dependurados em barbantes, forrando o teto. Escolhemos alguns - fritos rapidamente e comidos em menos tempo ainda - bom tempero, até gostoso, diga-se de passagem. Enganou pouco a fome, menos ainda a sede, pois geladeira inexistia e o refrigerante quente, talvez tenha servido de “lombrigueiro”, de tão ruim. Ele riu quando lhe falei isso - sorriso gostoso e sincero de um sertanejo.

- Como arrumou tantos passarinhos?

- É moço... ave de ribação.

Atravessamos o lugarejo, Ibimirim, e, na saída da cidade, se é que poderíamos chamar o lugar de cidade, encontramos uma casa grande, movimentada, bem iluminada com lampiões a querosene, os de camisinha, tipo bar, restaurante e venda variada, congeminados em um só salão. Paramos, entramos e pedimos algo para comer. No cardápio, falado, as iguarias: macaxeira e jerimum com carne seca cozidos. Sem saber o que era, pedi uma porção; veio aquela pratada de abóbora, mandioca e carne seca bem temperados e bem cozidos, cheirando muito - aquele cheiro gostoso de coisa gostosa. Coisa gostosa mesmo - a fome e o cansaço ajudaram o paladar e tornaram-na mais saborosa ainda. Abóbora, mandioca e carne seca, deleite grande nunca visto em minha vida. Refrigerante frio - geladeira a querosene.

Ao sair, noite feita, escuridão total, perguntei ao motorista de uma Rural, se Paulo Afonso estava longe.



...dizoito légua...



- Moço, segue esta reta, qui dessa casa de "donzelas", inté o fim dela, é dizoito légua... e pede Padim Pade Cirço pra ti judá.

Como a fome e o cansaço tiraram-me um pouco o pensar, assustei-me com as donzelas:

- Mas, quantos quilômetros?

- Ah, bichinho... quilômeto eu num seio, purque aqui, quando a gente compra, a gente disliga o velocime do carro... só entendemo de légua. Segue a reta na sua frente, adispois, quando ela terminá, vai à isquerda qui vai dá lá.

Seguimos... a reta sem fim, de chão batido e bem usado, com sulcos profundos dificultando o andar e a velocidade do meu Vemag - terminava nunca. Na noite escura, subia, descia... avistava-se uma luz lá no infinito e, cansados dos muitos descer e subir, meia hora depois, fazia-se em duas - era um caminhão ou um carro.

Meia noite passada, beiramos um lugarejo, após avistá-lo por quase uma hora antes - Jatobá - não o lugar onde queríamos chegar. Andamos mais uma hora, em boa estrada de terra - indo à esquerda, como me ensinou o moço - até poder atravessar o São Francisco e atingirmos finalmente a pequena cidade, acho que Glória, onde se localizavam a usina, a barragem e a cachoeira.

Não dormimos. Desmaiamos.



Barragem e Rio São Francisco



O Rio São Francisco tomou esse nome em 1501, dado pelo português Gaspar Lemos - foi ele quem chefiou a primeira expedição de portugueses ao Brasil e descobriu que o terreno pisado por Cabral não era uma ilha... e saiu dando nomes de santos por onde passava: Cabo São Roque, Cabo de Santo Agostinho, Rio São Miguel, Baía de Todos os Santos, Ilha de São Sebastião e Porto de São Vicente.

A Cachoeira de Paulo Afonso, localizada no Rio São Francisco, a 342 km da foz no Oceano Atlântico, divisa dos Estados da Bahia e Alagoas, formada por sete saltos, três dos quais com 80 metros de altura. O nome deve-se ao bandeirante Paulo de Viveiros Afonso - explorou a região no séc. XVIII.



A visita – tudo é plural



Acordamos mais ou menos cedo e fomos à usina para conhecê-la. O guarda da portaria informou-nos que, às segundas-feiras, as visitas eram canceladas - dia de descanso, uma vez que aos domingos trabalhava-se muito.

- Ô moço, nós viemos de Minas, a terra do JK, e desde menino meu pai, aqui presente, falava para os filhos, e eu ouvia com atenção, sobre a cachoeira de Paulo Afonso e a usina; agora a gente chega aqui e o senhor não vai dar um jeito de a gente visitá-la?

- É moço... pelo JK, que eu gosto muito, vô falá com o chefe.

No início dos anos setenta, onde chegávamos e falávamos que éramos mineiros, JK era lembrado com muito carinho e admiração, e nos tratavam com uma certa benemerência. Que diferença de nossos atuais políticos - lembrados apenas pelas mutretas!... E bota mutretas, gorjetas, maletas... e até cuecas nisso!

O Chefe de Relações Públicas atendeu-nos e nos liberou a visita - aliás, nos guiou.

Passando por um túnel, debaixo da água, chegamos ao escritório, cercado por um paredão altíssimo - uma ilha profunda! Descendo por um elevador, a oitenta metros dentro da rocha, chegamos à Casa de Força - um salão imenso, cujas paredes eram a própria rocha, com colunas de alvenaria - uma das coisas mais bonitas que já vi; assombrávamos com as turbinas rodando e o barulho das máquinas, das águas e o tremer do concreto e das rochas - barulho de coisa gigantesca e com a sensação de solidez.

Que maravilha!

Pensando que havia acabado, o guia levou-nos ao bondinho, que, do alto, transportou-nos até uma ilhota, debaixo e bem perto do cair das águas de um lado, e do outro, o início do cânion do Velho Chico - mais uma vez, maravilhas!

Gente... em Paulo Afonso tudo é plural!

Sabem aquela fantasia de criança, quando o pai nos conta algo e nos faz ir ao mundo do fantasmagórico e do absurdo? É Paulo Afonso! Um turbilhão de fantásticos!

Papai sentiu-se realizado, por ele e por mim. Senti o seu sentir - o sentir de um homem maduro e sábio, de bem com a vida.

Valeu o cansaço da viagem... E como valeu!



Benedito Franco



Você é um doador de sangue, de medula ou de órgãos?... Pode ser... acredite!

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