terça-feira, 8 de dezembro de 2009

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco


Benedito Franco

“...Nas Índias, os governantes chamam-se sátrapas (Sat = assaz e rapio = eu roubo), porque costumam roubar assaz. E este assaz é o que especificou melhor S. Francisco Xavier, dizendo que conjugam o verbo rapio por todos os modos. O que eu posso acrescentar, pela experiência que tenho, é, que não só do cabo da Boa Esperança para lá, mas também das partes daqui, se usa igualmente a mesma conjugação. Conjugam por todos os modos o verbo rapio;


- porque furtam por todos os modos da arte, não falando em outros novos e esquisitos, que não conheceu Donato, nem Despautério...” – Pe. Antonio Vieira.

NB.: ...já pensou se Vieira conhecesse Brasília!...





014 - Vieira



Cheguei ao Rio na exata hora em que a seleção brasileira de futebol passava pela Avenida Brasil, vinda da Suécia, onde foi Campeã do Mundo de Futebol - 1958.

O Presidente da República era o JK; a televisão dava os primeiros passos e os bondes ainda corriam; carro só para os muito ricos; a eletricidade era em 50 Hertz e não existiam a Ponte Rio-Niterói, Itaipu, Três Marias, nem fábricas de carro ou a Usiminas e a cidade de Brasília no início de sua construção; o leite, em garrafas de vidro, entregue em engradados de arame colocados, pelo lado de fora, nas portas dos edifícios - e ninguém roubava. Uma das boas coisas era escutar o Paulo Autran ler as crônicas do Carlos Drumond, pelo rádio, depois do Angelus, assim como os debates dos Deputados na Câmara Federal. Todo mundo lia jornais!- Jornal do Brasil, O Globo, Correio da Manhã, O Dia, A Noite, Jornal dos Esportes, Tribuna da Imprensa...

Morei em Copacabana e no Catete.

Trabalhava ao lado da Rádio Nacional, no auge da fama, na Praça Mauá, perto da Rodoviária e da Imprensa Nacional. De quando em vez visitava a Imprensa para matar a curiosidade sobre o que editava - acabei descobrindo a obra completa do Ruy Barbosa; com os preços módicos, comecei a comprar um volume de cada vez, até adquirir toda a coleção – uns trinta volumes. Mais tarde dei essa coleção para alguém e não consigo me lembrar a quem.



A Feira



Aos treze anos, no internato, conheci algo sobre os Sermões do Padre Antônio Vieira, através de uma Antologia recebida no segundo ano do ginásio - sexta série de hoje. Vieira cativou-me de cara - sempre que lia, aqueles pedaços de cultura deixavam-me maravilhado.

Pouco tempo depois de estar no Rio, na Cinelândia, centro do Rio, a primeira Feira do Livro na capital do país.

Visitando a Feira, deparei-me com a coleção dos Sermões do Padre Antônio Vieira - quinze livros em cinco volumes. Olhei, admirei e namorei. Tomei algumas informações com o vendedor e prometi-lhe voltar no dia seguinte para comprá-la - faltava-me o dinheiro no momento.

Consegui o dinheiro. Ganhava menos de dois salários mínimos, mas representava uns dois mil reais de hoje. Apesar de estarmos hoje em um governo do PT – presenteia os banqueiros com os juros mais caros do mundo e maltrata os aposentados com quatro por cento (será que o Lula – o inimigo dos aposentados... - e os ministros receberam só isso também?); e ainda deixa os bancos, as telefônicas e as multinacionais nos assaltar (e o pior... legalmente!); vangloria de estar bem com os grupos financeiros, enviando-lhes tudo que nos açambarca, e não se envergonha de descumprir os compromissos conosco, o povo que tanto acreditou nele. Vejam, e sofram as estradas, a saúde e a educação - e nem falemos dos impostos exorbitantes, a cada dia maiores e o retorno a cada dia menor! Acorde Lula-la-la!... Ou acordemos nós?... Tiremos o bumbum da cadeira! Que diferença do JK...



O Reitor



Voltemos à Feira. À noite, estava lá folheando um dos volumes dos Sermões. Olhando para um lado, notei a aproximação de um grupo de jovens, volteando um respeitável senhor de terno escuro e gravata. O elegante senhor parou em minha frente, mirou a mim e ao livro em minhas mãos, com um pequeno sorriso e pedindo licença, tomou-o e o abrindo:

- Está gostando do livro?

- Pretendo comprar a coleção...

Dirigindo-se a mim e aos jovens:

- Quem lê Vieira, sabe português. Quem lê muito Vieira, sabe muito português. Quem lê tudo de Vieira, sabe tudo de português. Muito prazer! Apertando-me a mão:- Sou o Professor Pedro Calmon. Adquira-a. Vale a pena, pois é um tesouro não só de nossa língua, mas da literatura universal. Vieira, de erudição enciclopédica, o maior orador de todos os tempos.

E se foi... rodeado dos jovens. Pareciam embevecidos com aquele senhor.



O Professor Pedro Calmon era Reitor da Universidade Federal do Brasil, no Rio de Janeiro. Professor, político, historiador biógrafo, ensaísta e orador - pertencia à Academia Brasileira de Letras, cadeira n. 16. Há um grupo escolar estadual, em Coronel Fabriciano, com seu nome.



Vida...



Padre Antônio Vieira (1608-1697), jesuíta, orador sacro e missionário português. Viveu no Brasil cinqüenta e dois de seus oitenta e nove anos. Prestou serviços diplomáticos ao governo de seu país e deixou cartas que se constituem no maior monumento do gênero em nossa língua. Em sua obra coexistem elementos barrocos, místicos, heréticos e nacionalistas, em uma linguagem rebuscada e riquíssimos recursos estilísticos, léxicos e sintáticos. Sua obra completa abrange cerca de duzentos sermões, mais de quinhentas cartas e muitos estudos políticos e literários.

Os Sermões... meus livros de cabeceira...



Benedito Franco





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Veja também: www.paralerepensar.com.br/beneditofranco.htm

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