domingo, 4 de julho de 2010

MARCELO SGUASSABIA

Marcelo Sguassábia


CHEGANÇA






I


Na avidez de dar enfim com o costado no repouso, ele apeou de mala em mãos e um risinho assim assim. Sem mágoa ou quê de remorso, de certo só as incertezas. Tantas, de encher embornal. Arrobas de maus presságios se anunciavam na tez, cheia de pés-de-galinha. Morena em casa não tinha, na tina d’água um cabelo – longo ele era, se via, mas a quem seu pertencer? Caneta tinteiro, umas notas de mil réis, baixela de prata luzia. Luzia, nome de gente, de quem tirava casquinha dia sim, dia não, na casa pegada à quitanda lá no antro de onde vinha. Mas muito sem compromisso, anéis nem mesmo de lata. Pra que sarna a se coçar? Velhas de véu no entorno, e vítrea clareira se inchava pra cima dele, o coitado. Assim passou aquele dia, como passavam-se os outros, no vácuo do haver nadinha. Daquele jeito é que era, melhor que se acostumasse.



II



De tombo em tombo se rala, no umbral de vela apagada e malho intenso de bigorna. Se luz houvesse, bobagem – coisas não resolveria, e alento para as feridas não havia de ter por perto. No poço bem pouca água, nem erva daninha no pasto se dispunha a vicejar. Dom não tinha, voz calava, ardume ardia e, a horas tantas, até o relógio decidiu não trabalhar. Estica as costas e apanha vento encanado de esguelha, e Deus que ajuda a quem apela trouxe uma pena flanando, só pra lembrar (de mansinho) que ao flanar também se pena. Dura lição aprendida em ponta de faca cega, na agrura do verbo errar. Varre esse mal pensamento, dai-me o céu o que fazer. Credo em cruz, que largo hiato sem segundos que se contem. Rogo ao cão: cadê Luzia?



III



Luzia diz que vem de jeito nenhum, que hoje é dia de esfrega e não de pouca vergonha. Casa pegada à quitanda, nem pra semana – só mês que entra, e olhe lá. Espere ou vá se catar.







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