terça-feira, 6 de julho de 2010

Benedito Franco


Saudade: pensa que só em nosso idioma existe palavra que é só nossa?


“Para o povo boro, na Índia, onsay significa "fingir amar"; ongubsy, "amar de verdade" e onsia, "amar pela última vez". Entre os albaneses, cuja fixação por bigodes (sim, bigodes) ganha vocabulário preciso e diversificado: madh (bigode espesso), holl (fino), rruar (raspado), glemb (com pontas afiadas) e por aí vai. São mais de dez tipos, além de 27 termos dedicados a sobrancelhas.

A palavra bakkushan, do japonês, encontraria equivalências nas gírias machistas "raimunda" e "camarão", já que quer dizer "uma jovem que parece bonita vista de trás, mas pode não ser quando vista de frente".

A palavra-título tingo, que em rapanui (idioma polinésio da Ilha de Páscoa, território chileno ao sul do Pacífico) é "pedir emprestadas uma a uma as coisas da casa de um amigo até não sobrar nada"” – esta serve para alguns vizinhos sem desconfiômetro...





058 - Que friiio!



Quando me mudei para São Paulo, inicialmente hospedei-me em um hotel no centro da cidade. Com emprego no Ipiranga, químico numa fábrica de óleo, mudei-me para uma casa mais perto da firma, cujo fundo, onde localizava meu quarto, dava para a loja Mesbla, na Avenida do Estado. Esse local era o primeiro local em São Paulo em que a enchente começava – e como havia enchente!... Um único pingo-d’água já inundava a frente da casa!

Num dos primeiros dias de hospedagem, comprei um jornal e o coloquei em cima do guarda roupa. A noite esfriou barbaridade. Depois de algum tempo dormindo, acordei-me apavorado com o friiio – o cobertor era um bicicleta: se puxasse para o lado da cabeça, descobriam-se os pés, e se cobrissem os pés, desprotegeria a cabeça. Lembrei-me do salvador da péssima situação: o jornal em cima do guarda-roupa!... Que decepção!... Os vidros da janela cheios de gelo, e nada de jornal no guarda-roupa... Que friio! Frio por todo lado do corpo – o corpo inteiro! Que noite longa! Pensei nos mendigos nas ruas... Telepatia ou mau pressentimento? Frio tão grande, que bateu recorde em muitos anos: menos um (-1) grau centígrado. Morreram quarenta e um moradores de rua.

A arrumadeira jogara o jornal no lixo!



No dia seguinte, papai foi visitar-me e, bem perto da fábrica, foi atropelado por um táxi. Encontrava-me na casa de meu concunhado Edson, médico, que recebeu a comunicação de que papai estava em um hospital. Encontramos o papai em um quartinho debaixo de uma escada, tremendo de friio e com .... cerebral. O Edson providenciou um apartamento e logo depois chegaram alguns de meus irmãos, que fretando um avião, levaram-no para Belo Horizonte.





171 – Von Brown



Em São Paulo, levantei-me cedo. A Tatiana acabava de nascer, uns dez dias antes, e acordava chorando, como toda criança. No escuro, a mãe pegou o remédio e colocou em sua boca. Apesar de pai novo, observei que toda a vez que dava algo de novo para a Tati, não gostava - fazia careta pelo alimento desconhecido. Olhei e verifiquei que a mãe, escuro ainda, deu-lhe o remédio de ouvido.

Telefonei para meu concunhado Edson, médico. Mandou-me deixá-la em observação e avisar-lhe de quaisquer anormalidades.

Logo depois viajei preocupado, pela Dutra, pista única e perigosíssima, a serviço do DAEE, Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. Contactos com o INPE, Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, em São José dos Campos. Neste dia tive oportunidade de conhecer e cumprimentar pessoalmente um dos maiores cientistas de todos os tempos: Wernher von Brown, o dos foguetes e da bomba V-2. Assisti a uma conferência dada por ele.

A Tati passou o dia toda mole; quando cheguei, dei-lhe uma pitada de sal-de-fruta. O concunhado ficou bravo! Mas ela melhorou logo.



Benedito Franco





Você é um doador de sangue, de medula ou de órgãos?... Pode e deve ser... acredite! Já tentou? Procure...

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