sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini


Nelson Tangerini




DA PONTINHA VI
Nestor Tambourindeguy Tangerini


Formado em Medicina, o Dr. Floriano não quis clinicar no centro da cidade do Rio, que difícil seria fazer concorrência aos conhecidos colegas cariocas, muitos dos quais eram tidos como divinos mestres na ciência ou arte de despachar humanos para o outro lado do mundo. Meteu-se aí pelo interior, com uma pequena mala e alguns ferros, também lhe não convinha, que era casado de pouco e não estava para enterrar a sua querida esposa mocinha num lugarejo sem divertimento e distração de espécie alguma.



Que fazer então? Clinicar num dos subúrbios do Rio de Janeiro. E em qual? Em Niterói.



Veio então para aqui e aqui principiou de exercer a sua adorável profissão cuja estréia foi esta:



Após ter visitado por duas vezes a sua primeira enferma, encontrou-se o jovem doutor com o marido da infeliz.



Mal se deu o encontro, o ilustre médico foi indagando de “seu” Cardoso:



- Como vai a patroa?



- Já está enterrada.



- Que está me dizendo!



- Não se admire, doutor. O que tem de ser tem muita força. E olhe que se deu uma coisa muito interessante: a minha Finoca faleceu conservando a lucidez quase até ao último momento. Cinco minutos antes de morrer ainda era de vê-la atirar à parede os vidros de remédios que o senhor lhe receitou... (*)








Na foto, a Praia de Icaraí, em Niterói,


nos anos 1920.


(*) Niterói, RJ, sexta-feira, 9/7/1926,

 
Com o pseudônimo João da Ponte.

De um recorte.

Provavelmente publicada

No jornal niteroiense O Canastrão.


Obs.:

É possível que Nestor Tambourindeguy Tangerini tenha usado a palavra “subúrbio” para retratar melhor a alienação em que vivia o jovem médico. Há quem ainda pense, em pleno Século XXI, que São Gonçalo é subúrbio de Niterói.

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