segunda-feira, 12 de outubro de 2009

DIRETO DO RIO DE JANEIRO - Nelson Tangerini


Nelson Tangerini



DA PONTINHA V



Nestor Tambourindeguy Tangerini



Viajava eu, ontem, no bonde Central, na companhia de meu péssimo pensamento, quando um casal, no banco a minha frente, começou de falar um pouco alto.



Porque me tivessem chamado a atenção, pus-me a ouvir o que diziam os dois, por meio de cujos modos no conversar, vi logo que se tratara de marido e mulher.



Dizia ela:



- Calcula tu como são as cousas. Ontem, o Aguiar não tinha onde cair morto. Hoje, possui “Buik”, chofer chinês e um mundo infinito de comodidades que só a riqueza pode proporcionar.



Ele:



- E como se operou essa metamorfose?



- Muito simplesmente. Namorador que era, deu-lhe na veneta, há um mês, conquistar, por gracejo, a viúva do Comendador Patacho, que supunha ser uma senhora idosa, própria para gracejos de rapaz.



- E depois?



- Depois... depois, sabendo que ela possuía considerável fortuna, levou o caso a sério e casou-se.



- Quer dizer que adquiriu uma fortuna honestamente.



- É isso. Hoje, os homens só se casam por interesse. Em nosso tempo, sim, a gente só unia por amor.



E, pegando-lhe na mão carinhosa.



- Sou capaz de apostar em como tu te não terias casado comigo por dinheiro.



E ele:



- Ah, não! Por dinheiro nenhum. (*)







(*) Niterói, RJ, quarta-feira, 5/5/1926,



com o pseudônimo João da Ponte.






[Bonde de Niterói / Foto de Carlheiz Hahmann / 1948,



br.geocities.com/gurnemanzbr/acbant/niteroi.html]





De um recorte.



Provavelmente publicada



no jornal niteroiense O Canastrão.





ARQUIVO FAMÍLIA TANGERINI:



nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

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