Nelson Tangerini
DA PONTINHA V
Nestor Tambourindeguy Tangerini
Viajava eu, ontem, no bonde Central, na companhia de meu péssimo pensamento, quando um casal, no banco a minha frente, começou de falar um pouco alto.
Porque me tivessem chamado a atenção, pus-me a ouvir o que diziam os dois, por meio de cujos modos no conversar, vi logo que se tratara de marido e mulher.
Dizia ela:
- Calcula tu como são as cousas. Ontem, o Aguiar não tinha onde cair morto. Hoje, possui “Buik”, chofer chinês e um mundo infinito de comodidades que só a riqueza pode proporcionar.
Ele:
- E como se operou essa metamorfose?
- Muito simplesmente. Namorador que era, deu-lhe na veneta, há um mês, conquistar, por gracejo, a viúva do Comendador Patacho, que supunha ser uma senhora idosa, própria para gracejos de rapaz.
- E depois?
- Depois... depois, sabendo que ela possuía considerável fortuna, levou o caso a sério e casou-se.
- Quer dizer que adquiriu uma fortuna honestamente.
- É isso. Hoje, os homens só se casam por interesse. Em nosso tempo, sim, a gente só unia por amor.
E, pegando-lhe na mão carinhosa.
- Sou capaz de apostar em como tu te não terias casado comigo por dinheiro.
E ele:
- Ah, não! Por dinheiro nenhum. (*)
(*) Niterói, RJ, quarta-feira, 5/5/1926,
com o pseudônimo João da Ponte.
[Bonde de Niterói / Foto de Carlheiz Hahmann / 1948,
br.geocities.com/gurnemanzbr/acbant/niteroi.html]
De um recorte.
Provavelmente publicada
no jornal niteroiense O Canastrão.
ARQUIVO FAMÍLIA TANGERINI:
nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br
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