terça-feira, 27 de outubro de 2009

CONTOS DE JORGE EDUARDO MAGALHÃES

Medéia como desculpas


Simone tinha que acabar com aquela situação, iria imediatamente ao escritório de Olegário e terminaria tudo com ele. Já estava há dez anos naquela vida de amante e Olegário nunca se decidia, sempre adiava para depois a sua separação, sempre vinha com as desculpas mais estapafúrdias.

Quantos anos no Natal, no Reveillon e até no seu aniversário ela ficava sozinha em seu apartamento. Quantas vezes ela preparou um jantar especial e ele não apareceu. Apaixonara-se pó ele quando ainda era muito ingênua, romântica, ficava fascinada com o seu interesse pela leitura, em especial pelas tragédias gregas, do que ela não entendia nada ( só gostava de auto-ajuda).

Agora estava decidida a colocar Olegário contra a parede, ou ele largava a mulher ou eles terminavam tudo.

Quando entrou no escritório e Olegário se viu pressionado pela amante, este usou o seguinte argumento:

- Querida, vamos dar tempo ao tempo, minha mulher está louca, disse que se eu sair de casa ela mata as crianças e te mata envenenada! Querida, estou fazendo isso para te proteger!

- Oh meu amor, obrigada! Eu sei que você me ama!

Trocaram um beijo apaixonado. Simone não deu importância ao livro Medéia em cima da mesa de Olegário, por não saber do que se tratava.

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