domingo, 1 de agosto de 2010

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco

Benedito Franco











Desde o descobrimento do Brasil a CBF é dominada pela família do João Havelange... E há 200 anos que seu genro, o Ricardo Teixeira, tomou posse. Outro dia o Lula deu uma peninha contra, mas voltou atrás... Será que ainda estamos na República dos Coronéis ou nas Repúblicas das Bananas? O povo vai ao campo de futebol e chega em casa lá pelas madrugadas, por causa de uma novela. Bem que os excelentíssimos senhores deputados paulistas tentaram colocar o início das partidas do futebol mais cedo, mas a novela foi mais forte... Vamos renovar? Temos que renovar!






086 - Três incêndios – três catástrofes em São Paulo



I - Andraws



De ônibus quase sempre, ou de carro, todos os dias, quando voltava para casa, do trabalho na Secretaria de Obras do Estado de São Paulo, Departamento de Águas e Energia Elétrica, passava pela Avenida São João, em frente ao elegante Edifício Andraws. Chamavam-me a atenção suas linhas modernas para a época, coberto de vidro, dos pés à cabeça, assim como sua localização em um pequeno quarteirão, uma ilhota, em pleno centro da cidade de São Paulo. Na ida, o caminho seguia pelo Largo do Arouche, com suas flores, e Praça da República, um oásis pouco atrás da Avenida.

Dia lúgubre, um calor sufocante, prenúncio de algo. Trânsito parado no início da Avenida São João - o caos. Saí do ônibus e fui a pé. Os transeuntes murmuravam sobre incêndio e Andraws; quanto mais andava mais o povo se aglomerava e o trânsito confuso e engarrafado; a fumaça aparecendo, dando o ar não de sua graça, mas de seu sufocar. Avistei o edifício com fogo pela metade - alvoroço total. Mais perto e mais impressionante a cena dos bombeiros em ação, mas afastados pelo calor e pelas chamas. Vidros caindo, labaredas lambendo tudo e no alto, no telhado, gente correndo de um lado para o outro, fugindo da fumaça e das labaredas. O calor aumentando. Helicópteros voando e sem conseguir chegar perto para socorrer as vítimas por causa da alta temperatura, o que seria inseguro - os helicópteros poderiam até explodir.

Consegui atravessar a Avenida Ipiranga com São João e passar perto do prédio em chamas - deu-me a impressão ser ele de palha, tal a quantidade de fogo lambendo tudo - até os carros que estavam em sua frente queimaram. O barulho dos vidros estourando e caindo no chão impressionava.

As escadas Magirus dos bombeiros pareciam de brinquedo e inúteis diante do tamanho da catástrofe e da altura do edifício.

Calor intenso - cena infernal. Segui em frente, contornando uma pequena praça em frente ao edifício, andando toda a Avenida. Consternado cheguei a casa – morava no quarteirão ao lado do final da Avenida São João. Vi pela TV, ainda em preto e branco, o resto do fogo e seus últimos estragos. Os repórteres, como sempre, dando gritos e cobrando das "otoridades" providências e mais providências para melhorar os serviços dos bombeiros. As autoridades prometeram e prometem... e a gente, o povo, escutou e acredita... e pagou e paga! Amanhã, mais tragédia, mais cobrança e mais crendice... e mais paga!

Resultado: fora os bens materiais, 16 as mortes comprovadas.

Dias após, na Faculdade Santanna, onde cursava Economia e Administração, um colega de sala contava que estacionara o carro em frente ao Andraws; levara a esposa para pagar uma prestação, justamente na loja onde se iniciou o fogo. No primeiro andar, ou sobreloja, foi o começo de tudo onde a esposa se encontrava e onde ficavam os caixas de recebimento. Quando ela subiu para a sobreloja, da escada deu um sinal para ele esperar, pois não iria demorar - sinalizou com um beijo - a última visão e o último beijo - a derradeira prova de amor. Ele saiu às pressas de dentro do caro, que virou um monte de ferro retorcido. Da esposa desapareceram até os ossos – provavelmente viraram carvão. Alguns anos depois, enquanto tive contato com ele, não obtivera o Atestado de Óbito; desejava casar-se e não conseguira realizá-lo legalmente, pois legalmente estava casado - coisas de nossas queridas leis... O divórcio ainda não fora legalizado.

Muitas cenas do que vi fixaram-se em minha memória: as pessoas, ou vítimas, correndo de um lado para o outro no alto do prédio, os carros, a sobreloja se queimando e o turbilhão de fogo. Caso a parte era a consternação dos que assistiam a tudo - impressionante.



Benedito Franco



Amar o próximo como a si mesmo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário