sábado, 5 de fevereiro de 2011

PAPO DE CULTURA - Benedito Franco

Benedito Franco













**** Tatiana construía sua casa. Um dos operários falou para os meninos:



- Nossa, essa sua casa está muito bonita! Por quanto vocês me vendiam ela?


- Um real!... Não!... Dois reais!- disse o Luis Filipe, quatro anos.


- Mil reais! Falou o João Pedro – seis anos.


Luis Filipe correu para o pai e perguntou:


- Pai, qual o número que vale muito?






**** - Mãe, quando a gente sobe lá pro céu, o avião não pega a gente não?

- Não, meu filho.

- E lá, tem praia?

- Não, meu filho.

- E se a gente pedir a Jesus, ele faz uma praia lá?

- Pode ser...

Conversa do João Pedro com a mãe.





062 - Coelho



Numa época de fáceis empregos na região, difícil arranjar bons empregados. Por indicação, empreguei o Coelho. Calmo, mole mesmo, sempre desconfiado e nunca disposto a prestar ajuda a alguém. Tinha qualidade: muito honesto e satisfeito com o que ganhava, e não se esforçava por ganhar mais: - Sô Bené, tô muito contente com o Salário Mínimo. Dá pra viver bem e não precisa ser mais.

Favor?... Pra ninguém - recomendação expressa, desde pequeno, vinda da mãe: “- Não ajuda a ninguém, meu fio!”. Fui à sua casa, pois falecera um seu irmão. Vi quatro pés carregados de pimenta malagueta vermelhinhas da silva.

- Coelho, amanhã vou cozinhar uma carne. Poderia me arranjar quatro pimentas malaguetas, uma de cada pé.

- Sô Bené, num pode não. Mamãe ia raiá comigo... e dispois, num tem tanta assim não. É pra mamãe colocá na carne dela... Ela faiz uns quatro litro e pode fartá.



O horário, sagrado, não abria mão nem para mais e nem para menos - para menos nem tanto. Mudei seu horário - passou a vir meia hora depois de aberta a loja.

O Roberto, que deveria ajudar abrir a loja, não apareceu, mas apareceram muitos clientes no primeiro momento. Um dos clientes precisava de um saco de cimento e necessitaria de um empregado para colocá-lo no carro. Olhando para os lados da rua para ver se o Roberto chegava, avistei o Coelho sentado em um banco na praça ao lado. Chamei-o uma, duas, três vezes. Fez ouvido de mercador. Na quarta ele não mais estava... desaparecera.

Nesse ínterim, chegou o Roberto. Quando o Coelho entrou na loja, no horário exato, perguntei-lhe o porquê de não ter atendido ao chamado.

- Meu compromisso com o senhor é das oito até às quatro e meia da tarde...

- Coelho, u’a mão lava a outra. Amanhã poderá precisar de alguém.

Não deu a mínima e retirou-se para o fundo da loja.

No mesmo dia, na hora do almoço, o Coelho chegou atrasado, justificando-se que o pai passava muito mal e que deveria ir ao Pronto Socorro conseguir uma ambulância.

- Coelho, volte à sua casa e diga para seu pai começar a passar mal só depois das quatro e meia da tarde, pois até lá você tem compromisso comigo.

Muito sem jeito e balançando o corpo, dando sinais de nervoso:

- Mais tenho que chamá a ambulânça...

- Viu?... U’a mão lava a outra.

- Mais agora é duença...

Depois de pausa proposital:

- Nada disso. O motorista da ambulância sabe que seu pai vai começar a passar mal só depois das quatro e meia e que até lá o seu compromisso...

- Num tem disso não...

- Também o médico...

- Mais eu vou lá...

Foi saindo apressado, não me dando oportunidade de lhe oferecer para levá-lo de carro ao Pronto Socorro.



Benedito Franco

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