quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PAPO DE CULTURA - IONE JAEGER

“O MELHOR DO NATAL”




O melhor do Natal?

Li a expressão na vitrine de uma loja de eletrodomésticos e brinquedos. Fiquei assuntando, como diz o matuto do nordeste, para descobrir qual dos objetos da exposição seria o melhor do Natal. O liquidificador? A batedeira? A cafeteira? A baixela de inox? Qual seria? Seria só do natal ou de outras ocasiões? Quais os atributos dados para que seja o melhor do Natal? Durabilidade? Praticidade? Beleza? Ou, quem sabe, define aquilo que é melhor para o natal.

Continuava julgando qual seria o melhor dos artigos expostos para a celebração da chegada do menino que nasceu numa estrebaria, cumpriu sua missão, continua vivo entre nós e ninguém desconhece seu nome na história da humanidade. Não cheguei à conclusão alguma que me dirimissem as dúvidas.

Mais tarde, num jornal, deparei-me com a manchete: O MELHOR NATAL PARA TODOS. Mergulhei a fundo na leitura do artigo. No primeiro parágrafo estavam as respostas – natal comercial, consumista, dinheiro, presentes, contas, dívidas futuras. O melhor do Natal, de todos os tempos, sairia da mágica cartola do brasileiro trabalhador – seu bolso.

Seria o melhor do Natal a bênção de Deus presenteando-nos com dádivas que viessem satisfazer prementes necessidades do povo brasileiro. Dos artigos daquela vitrine, cada um, conteria nossas aspirações: o fogão – alimentação condigna; o televisor – escolas e cultura; a geladeira – saúde; o aparelho de som – moradia; o chuveiro – paz; o microondas – previdência e bem-estar; o jogo de jantar, de porcelana importada – fraternidade; o vaso de cristal – justiça; o relógio de parede – trabalho para todos; o carrinho de pilha – estradas e transportes; o robô eletrônico – segurança; a máquina digital de fotografar – nossas esperanças de um Brasil mais justo, mais solidário, mais humano.

A espécie humana continua no processo evolutivo. O homem ficou grande, cresceu em todos os aspectos. Aprimorou-se. A criança de hoje dá de mil a zero na menina dos meus dez anos. Na menina que aguardava o Natal com o espírito natalino: armava o presépio e a árvore; a ceia – rabanada (lá na Bahia, fatia-de-parida), bolos, xarope de groselha da marca Picadilly ; pais e irmãos entoavam o Noite Feliz em frente ao presépio, assistiam à Missa do Galo, à meia-noite. A menina que não recebia o Jesus nascido embrulhado num papel bonito, colorido; que não disputava com os irmãos para ver quem ganhou mais presentes; que não ia para a calçada exibir aos vizinhos a boneca Barbie ou a bicicleta; que não conhecia overdoses de presentes numa única noite...

O tempo passou. A família de Nazaré na noite consagrada à celebração do nascimento do filho fica escondida, ignorada, atrás de papéis dos pacotes atirados num canto.

O MELHOR DO NATAL se resume na expectativa do que se receberá de presente, na alegria de dar um mimo a alguém, de receber algo material, de confraternizar com os parentes e/ou amigos e na euforia de um abraço, esquecendo de augurar – FELIZ NATAL.

O melhor do natal é a festa com comilanças e bebidas, a troca de PRESENTES.

Num passado, há dois mil anos, nascia o futuro da eternidade do homem, do mundo, o SALVADOR.

Quantas vezes esquecemos de celebrar O MELHOR DO NATAL?





Ione Jaeger

NH/2003

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