sexta-feira, 2 de abril de 2010

PAPO DE CULTURA - Ione Jaeger













Ione Jaeger


é no palco da vida


que às vezes me faço atriz

rio da poesia sofrida

choro num verso feliz


(Ione)




SEMANA SANTA

Ione Jaeger




Passaram anos, décadas, até o século mudou. Muitas Semana Santa tenho vivido desde quando tinha treze anos incompletos.

Em 1945 estava na casa de minha tia Nair, Muritiba, no vale do Paraguaçu – cidade produtora de fumo no interior da Bahia, onde morei uns seis meses estudando para o admissão ao ginásio. Minha tia lecionava para o quinto ano primário no Grupo Escolar Castro Alves.

Quaresma, tempo de constante reflexão. Minha tia, católica fervorosa, reunia a família, marido e quatro filhos (o mais velho estava em Salvador no seminário) ao cair da tarde e em frente ao nicho, com imagens de vários santos, rezávamos o rosário. Participávamos da Via-Sacra, em casa.

Desde o domingo anterior, Domingo de Ramos, começávamos a preparação pascal para celebrar a paixão e morte de Jesus – não brigávamos, nem discutíamos. Não dizíamos nomes feios (naqueles idos: merda, bosta...). Vivíamos em vigília constante para não cometer atos, palavras e omissões que desagradassem a minha tia, meu tio e à Igreja. À noite, antes de deitar para dormir fazíamos exame de consciência anotando numa folha de papel os pecados do dia. Dobrava-se a folha e queimava no lume de uma vela. Muito perdão pedi a Deus pelas omissões. Aos dezesseis anos fiquei sabendo o significado da palavra. Para mim era algo gravemente pecaminoso que escrevia na minha lista... E sempre no plural.

A tia e o tio eram, quase, beatos. Meus primos, carolas. A família seguia religiosamente os preceitos cristãos. As orações diárias da Semana Santa davam início na segunda-feira. Na quinta-feira de trevas e na sexta da paixão não comíamos carne. Doces e guloseimas, não mesmo! Jejuávamos. Não se tomava banho para evitar o pecado de ver o corpo desnudo. Não se olhava no espelho, ninguém cantava música popular e se por descuido entoasse uma nota ia para o canto rezar tantas Ave Maria e tantos Pai Nosso de penitência.

Sábado de Aleluia. A gente simplória do interior, o tabaréu ingênuo, ignorante, ficava ansioso, nervoso, agitado, temendo que o padre não conseguisse romper a aleluia.

Dez horas da manhã os sinos repicavam festivamente. O povo entrava em euforia, chorando, rindo, beijando-se, ao ouvir os sinos – na certeza que o padre foi feliz, rasgou a aleluia. Festejava-se malhando e queimando na praça o boneco do Judas.

Aleluia! Aleluia às lembranças!!!







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Ione Jaeger – abril de 2007









IONE JAEGER (Ione Maria Rocha Jaeger). Nasceu em Salvador/BA, vive em Novo Hamburgo há 59 anos, faz poesias e outros escritos para cumprimentar a vida. Tem seis livros editados. Premiada no teatro - Melhor Texto Inédito - em NH e no Paraná. Letrista no CD Momentos Reticentes, reggae, gravado pela Banda Mundo Y. Idealizou, criou e fundou a Associação Cultural de Amigos das Artes - ACAART, em NH, 1997. Organizadora da Coletânea Onde os Poetas se Encontram, na III edição.


PATRONA da 24ª Feira Regional do Livro de Novo Hamburgo, 2006. Membro da Academia de Letras, Ciências e Artes Castro Alves, POA/RS – Cadeira nº 19 – Vianna Moog; Membro da Academia de Letras de Ribeirão Preto/SP – Cadeira Augusto dos Anjos. Sócia Correspondente da Casa do Escritor e do Poeta de Ribeirão Preto CPERP/SP; Sócia da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS e da Casa do Poeta Rio-Grandense – CAPORI. Criado em 13/07/06, no Calendário Municipal o Dia do Ativista Cultural, foi escolhida a data do seu nascimento (13 de maio) em homenagem ao Ativismo Cultural que desenvolve há 10 anos.


Professora, Especialista em Educação, graduada em Pedagogia (1974), pós-graduada em MTE (Métodos e Técnicas de Ensino (1979), Faculdade de Educação FEEVALE/ NH. Coordenou o Movimento da Catequese na Catedral Basílica São Luiz Gonzaga de Novo Hamburgo (1991 a 1994) Aposentada – 1983 SEC/RS

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