Ione Jaeger |
M E M E N T O C A T Á R T I C O
Quero saber, quem fez calar, emudecer,
meus cantos puros e pueris?
Onde estará o anel que tu me deste,
o chicote queimado, o lenço-atrás?
Perdidos nos pulos do jogo
da amarelinha para ao céu chegar?
Quiçá !
Ou, quem sabe? A Fadinha Luz entregou
para outra criança mais feliz !
Quisera saber quando deixei
o velho-do-saco levar minhas fantasias
deixando meus brinquedos estragados,
horrivelmente disformes,
amargurados:
Pai Francisco na prisão,
as cinco-marias desgarradas
bloqueando o passa-passará
às saídas de sentimentos magoados
Há quem me olha e se aproxima,
parecendo o temido bicho-papão.
Tremo, desconfio, fujo, me isolo,
quando a cuca me chama, aos quatro ventos,
de amiga, de querida, e me elogia.
O lobo-mau me assusta.
A bruxa mal intencionada me quer,
viva, cozinhar na fogueira da maldade
vendo gordo o meu minguinho.
Aprisionada no jogo-da-velha
me fazem cabra-cega e perguntam:
O que vós quereis, mata-tira, tirarei?
Na Berlinda estou, minha consciência!
Por que deixaste eu invadir essa ciranda em que me meti?
Como vou lidar com os fantasmas
da criança que, ainda, me acompanham?
Explica para eles o que nos aconteceu,
eu te peço, consciência!
Ora! responderás:
O que posso, sinceramente, te dizer?
Não soubeste dissimular o orgulho, a alegria, o entusiasmo,
a real busca do teu ideal. Não soubeste
mascarar a beleza da vida, a vida que crês,
que ditas, apregoas, sublimas e massacras,
e fazes com amor - o teu fanal!
Ione Jaeger - Novo Hamburgo, 2003
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