Cláudio Pinto de Sá
A G U A M P A
Registro, neste Chasque, um quartel de século que, mesmo que eu me esforçasse, não poderia esquecer. Não assim, de pronto. Afinal, de 1984 até 2009 desfrutei da chamada “casa da praia”. Localizada no balneário Quintão, cidade de Palmares do Sul, muitos momentos e muitos amigos ficarão consignados na memória. Para não citar nomes, descreverei um fato, uma recordação, que a venda daquela casa não irá apagar da lembrança. E centrarei num objeto, que simbolizou um período; certamente dos mais agradáveis.
Refiro-me A GUAMPA. Escrevi com letras maiúsculas em homenagem àquele tempo, onde a confraternização era constante e diária. Ocorre que, por sugestão de amigos íntimos, a minha esposa, num Dia dos Pais, comprou numa loja de artigos gauchescos, uma guampa, daquelas para colocar cachaça, cuja tampa é um copinho, igualmente feito de chifre, e me presenteou. Foi o que resultou para, por mais de uma década, meus amigos me procurarem em casa (da praia) para pegar a “guampa do Cláudio” e, com as bolas do jogo de bocha, guardadas na garagem, atravessar a rua e iniciar o jogo. Enquanto mantivemos a cancha de bocha, principalmente no verão, ficávamos até o sol se por atrás dos comoros de areia jogando bocha e dando “beiçasso” na guampa.
Certa feita fizemos um torneio de bocha tão organizado que, na partida final, com a cancha guarnecida por uma corda de isolamento, dezenas de “torcedores” (parentes dos jogadores) se aglomeraram ao derredor. A dupla campeã recebeu o premio maior das mãos do presidente da câmara de vereadores local, que participara do torneio. Sobre dois caixotes improvisados, a dupla subiu para receber o premio. E qual foi o premio? Nada mais nada menos do que um grande “talagaço” na guampa. Foi uma risada geral.
Obviamente que estas frias letras não poderiam jamais transpor ao papel aquela alegria e emoção. Todavia, os amigos que viveram e vivenciaram aquele tempo, quando lerem este escrito, sentirão o sabor e o aroma do “caldo” daquela guampa. Hoje, por inevitável, o terreno em que instalamos aquela cancha de bocha foi ocupado por uma casa comercial. Sobre o leito da antiga cancha estão pedras, tijolos, cascalhos e areia. Ao lado da cancha tinha um poste de sustentação dos fios da energia elétrica e, colocado no mesmo, o prego que servia de suporte para a guampa.
Dia desses passei no local e revi, no poste, a marca onde o prego havia sido fixado. Era só uma ferrugem a marcar o lugar. Porém, bastou para aparecer a recordação. É isso! A “guampa de canha” foi e é um marco. É, porque ainda a mantenho. Está meio surrada, é verdade, mas pendurada como troféu na garagem da casa de Porto Alegre, onde, triste, não mais recebe os “beijos” daquela turma.
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